CAPÍTULO 37

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"Como fodemos o maior amor do mundo, sei lá se esse é o nosso último segundo, então me beija com raiva, me beija com raiva! Me beija com raiva!" - Jão


ELISABETTA

Segurando meu prontuário em minhas mãos, eu lia e relia meu estado de saúde. Não há trauma no cérebro, não há sangramento e nem coágulo, nada além de uma baita dor de cabeça, enjoo pelos remédios fortes e um hematoma feio na lateral esquerda do meu rosto que, apesar de ainda estar escuro, estava menos grave do que antes. Não houve fratura no pescoço, as vértebras estão saudáveis e minhas costelas também. O que me doía ao ler e reler aquele documento médico era a palavra aborto escrita em destaque, esfregando na minha cara que eu fui relapsa, que eu não me cuidei, não fui corajosa.

Dois meses!

Dois meses gerando um ser metade meu e metade do Beto e eu deixei ele ir. Se eu não tivesse entrado em crise naquele consultório, eu saberia que esse bebê estava aqui dentro. Eu teria dado um jeito, eu teria me cuidado mais. Não foi apenas o impacto que causou a falência do feto, ele estava fraco. Fraco por culpa minha, porque eu não estava forte o suficiente. A minha cabeça está tentando destruir o meu corpo e eu sinto que estou sucumbindo. E agora, Beto não vai mais olhar na minha cara. Minha mãe me disse que ele enlouqueceu ao saber do aborto, minha irmã deixou claro que ele adoraria ter sido pai desse bebê. E é isso que me corroi por dentro. Eu destruí um sonho dele que eu nem sabia que existia e agora não faço nem ideia de como vou olhar nos olhos dele.

— Você não devia ficar relendo isso. — Luan tira o prontuário da minha mão, o deixando no suporte pra ele no pé da minha maca

— É pra ver se cai a ficha. — murmuro mau humorada

— Mentira. — ele senta na poltrona ao meu lado me observando — Você tá se torturando que eu sei. Se abre comigo, minha irmã. No início eu entendi que você precisava de um tempo, mas já se passaram três dias. Deixa o Beto entrar.

— Não. — nego — Não vou deixar ele entrar aqui e desmoronar na minha frente.

— Desmoronar? — ele ergue uma sobrancelha — Desde quando o Beto é homem de desmoronar, Elisabetta? — ele se inclina na minha direção, ainda sentado — Vocês dois perderam um filho, precisam passar por isso juntos.

— Eu nem sabia que ele queria esse filho, Luan. — o encaro — Seria muito mais fácil se ele tivesse, sei lá, aliviado.

— Aliviado? — me encara — Que tipo de monstro você acha que tá namorando, Elisabetta? Você não conhece o homem que dorme com você?

Respiro fundo, fechando os olhos e sentindo as lágrimas surgirem, mas eu seguro o choro.

— O que tá acontecendo com você, minha irmã? — ele pergunta — Eu sei que dói, sei que você sempre sonhou com a maternidade, sempre quis ter sua própria família, mas você tá estranha. Por que é que quando se trata do Beto, você prefere ignorar e afastar?

— Porque eu nunca amei do jeito que eu o amo. — abro os olhos, sentindo as lágrimas escapando — Porque da última vez que eu fiz planos com alguém, essa pessoa foi embora com a maior facilidade do mundo. Me largou pra trás e jogou os planos pela janela, como se eu não fosse nada.

Eu sinto o bolo do choro entalado na minha garganta e as lágrimas rolando pelo meu rosto. Eu quero segurar a onda, não quero me entregar a um choro desesperado e cheio de soluços.

— O Roberto não é o Tiago. — ele me lembra

— Eu sei que não é. — digo chorando — Ele não é nem parecido com o Tiago, porque ele tem meu coração inteiro. Você entende, irmão? — o encaro — Eu cheguei num nível que eu não sei mais onde é que eu termino e ele começa. Se eu tô longe, eu tô pensando nele, mas se eu tô perto, eu só sei prestar atenção nele.

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