EPÍLOGO - FAMÍLIA

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"Por você, conseguiria até ficar alegre. Eu pintaria todo o céu de vermelho. Eu teria mais herdeiros que um coelho. [...] Eu mudaria até o meu nome, eu viveria em greve de fome, desejaria todo dia a mesma mulher." - Barão Vermelho


ROBERTO

Passei a escova no cabelo, vendo os cachinhos molhados se esticarem e depois voltarem a enrolar como se fossem pequenas molas de amortecedor. O perfume infantil tomava conta do ambiente e me entregava uma sensação de paz, como se aquele cheiro fosse o lar que meu coração escolheu para se acalmar. Com cuidado, prendi o laço preto e branco no topo da cabecinha infantil e a ajudei a ficar de pé na cama, virando-a para mim e arrumando a gola da camisa nela.

— Tá linda, Bê. — sorri

— Papai, eu queria usar minhas botas de vaqueira hoje. — ela me encara com seus olhinhos redondos e brilhantes

— Botas de vaqueira, uh? — ergo uma sobrancelha — Sério? Nesse calor de quarenta graus?

— Por favor, pai. — ela se joga em mim, seus bracinhos me envolvendo em um abraço pidão — Deixa, papai.

Eu bufo soltando uma risada e a pegando no colo.

— Tudo bem. — dou de ombros — Teremos uma botafoguense vaqueira hoje.

Eu perdi Pedro para a influência poderosa de Betta e Luan, mas Betina era uma Nascimento convicta e se apaixonou pela estrela solitária, mesmo que a mãe e o padrinho encham o saco dela sobre o Flamengo. Segundo Betta, Rafael e Pedro, eu faço tudo o que ela quer e ela só diz ser botafoguense pra puxar meu saco e por saber do poder que exerce sobre mim. Isso é besteira, é claro. Minha filha ama o Botafogo. Temos amor à camisa.

Eu a ajudo a calçar suas botinhas com franjas e estampa de vaca e desço pra sala com ela sentada em meus ombros. Betta está sentada no sofá, sintonizando no canal que exibirá Flamengo e Botafogo hoje, Rafael está sentado no tapete comendo pipoca, Tatiana e Mateus estão trazendo salgadinhos pra sala e Luan está descendo de uma escada doméstica após trocar uma das lâmpadas da sala.

— Vai pro chão, filha. — eu ponho Betina no chão — Time completo.

— Rafinha, me dá um pouquinho? — ela corre para o irmão mais velho

— Depende. — Rafa sorri pra ela — Você me ama?

— Muito, muito, Rafinha. — ela o abraça pelo pescoço e beija sua bochecha

— Ah, então o irmão dá sim. — ele diz rindo e dando pipoca pra ela

Eu ergo os braços acima da cabeça, sentindo minhas costas estalarem. Estou ficando velho demais pra algumas coisas, mas não há nada que meus filhos não me pedem sorrindo que eu não faça chorando de desespero. Semana passada Pedro e Betina inventaram de acampar no quintal e eu dormi na grama uma noite inteira. Fiquei com a coluna travada três dias.

— Ah, pra mim você não quis dar, né, Rafael? — Pedro desce a escada correndo, enquanto passa sua blusa do Flamengo pela cabeça

— Quem mandou ser flamenguista? — Rafael rebate com a irmã sentada em suas pernas

Rafael estava quase formado, mas já não morava mais com a gente. Alugou um apartamento no centro de Petrópolis, mais perto da universidade e está pensando em chamar a namorada pra dividir o aluguel com ele. Ele diz que é uma forma de economizar, mas Rosane tem certeza de que esses dois vão acabar se casando escondido e nos dando netos antes mesmo de fazerem trinta anos. Eu não tô podendo ser avô agora, porque mal estou aguentando com um filho de nove anos e uma de cinco, imagine com um melequento me chamando de vovô.

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