A sereia e o surfista - Yasmin Brunet e Gabriel Medina

Capítulo 48

" Pov Gabriel"

O silêncio da casa era quase reconfortante, uma raridade desde que Luna nasceu. Yasmin havia saído com a mãe para fazer as unhas, o pai dela estava explorando a cidade, e eu me encontrava sozinho com nossa filha no colo, aproveitando esse momento de paz. Conversava com Luna, que me olhava com seus grandes olhos curiosos, quando Cleide anunciou que eu tinha uma visita inesperada.

— Pode entrar — respondi, esperando ver meu advogado. Mas quando a porta se abriu, a surpresa tomou conta de mim.

— Você?! — exclamei, sem acreditar.

— Desculpa vir sem avisar, mas eu não podia perder a oportunidade de conhecer a Luna - ela disse, com um sorriso gentil no rosto.

— Bem-vinda! Tudo bem? — sorri de volta, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que sua presença despertava.

— Estou ótima, e você? Imagino que esteja dormindo pouco agora.

— Que nada! Contratamos uma enfermeira noturna, então estamos dormindo super bem. A Yasmin só acorda para amamentar - expliquei, tentando manter o tom casual.

— Entendi, vi as fotos do primeiro mês dela. Amei o tema.

— De abelha - sorri, lembrando do momento.

— Isso.

— Pensei em você quando vi tudo pronto, acredita? Meus sogros prepararam tudo como uma surpresa, bem quando chegamos do hospital.

— O que ela teve? — questionou ela, com uma preocupação genuína nos olhos.

— Um quadro de bronquiolite, mas agora está 100% recuperada, né, filhota? - dei um beijo suave na cabeça de Luna.

— Que bom! Ela é linda, Gabriel. Acho que parece com você.

— Quer pegar ela? - ofereci, sentindo uma mistura de nostalgia e apreensão.

— Não tenho muita prática, mas quero sim - riu nervosa.
— Vai levar jeito pô. Você vai ser uma ótima mãe.

— Será? Tomara... - ela hesitou, depois soltou a frase que pairou no ar como um peso. - E pensar que ela poderia ser nossa filha...

O olhar dela se tornou mais intenso, e por um momento, todo o meu autocontrole foi posto à prova. Não consegui resistir e retribuí o olhar. Ela se aproximou lentamente, e quando nossos lábios se encontraram, foi como se todo o passado voltasse à tona em um único momento.

— O que a gente fez... Vanessinha, você mexe demais comigo. - confessei, ainda sentindo o sabor do beijo dela.

— Eu sei. Mas não se preocupa, não quero causar problemas no seu casamento. Deus me livre! Nós tivemos algo especial... pena que não deu certo.

— A vida segue, né? Podemos ser amigos.

— Claro, amigos! - ela sorriu, mas havia algo mais no seu olhar.

Ela deixou um presente para Luna antes de se despedir. Eu sabia que era melhor que ela fosse antes de Yasmin voltar, minha esposa é extremamente ciumenta, e esse encontro só traria complicações.

— Vai falar pra Yasmin sobre o que aconteceu aqui? - Vanessa perguntou já na porta.

— Não sei... tô confuso. Mas gostei de te ver, difícil vai ser esquecer isso.

— Eu também gostei, e adorei conhecer sua filha. Tchau, boneca. Tchau, Gab. - disse, dando um beijo no meu rosto. O perfume dela ficou na minha camiseta, e eu passei o resto do dia tentando apagar o que havia acontecido da minha mente, sem sucesso.

Depois que ela saiu, eu tentei distrair minha mente jogando videogame enquanto Luna dormia ao meu lado. Estava tão imerso no jogo que nem percebi Yasmin chegando com minha sogra.

— Lindo, chegamos! Como a Luna se comportou? — Yasmin perguntou, entrando na sala.

— Super bem, dormiu o tempo todo! - respondi, sem tirar os olhos da tela.

— Lindo, olha pra mim, estou falando com você!
— Ela notou a sacola de presente e perguntou.

— Presente? De quem?

— Pra Luna, como sempre. Uma fã deixou na portaria.

— Que fofo! Um macacão, tão lindo... amei! - Yasmin comentou, guardando o presente com um sorriso.

— Pois é, também achei - respondi, tentando esconder meu nervosismo.

Yasmin me olhou de maneira estranha, como se sentisse que algo estava errado.

— Tá tudo bem? Te achei meio estranho... já te disse pra aproveitar quando estiver com a Luna, o tempo passa rápido e você aí jogando videogame...

— Não posso me distrair um pouco? Caramba... — respondi, porém a irritação foi crescendo.

— Claro que pode, lindo - ela disse, revirando os olhos.

— Não parece... parece que tenho que ficar o tempo todo 100% por conta da Luna e de você. Eu também preciso de um tempo pra mim.

— Eu sei que precisa, lindo. Acha que eu não preciso? Foi ótimo sair um pouquinho, mesmo que fosse só para fazer as unhas.

— Claro que você precisa. Todo mundo precisa. O problema é que você não tem amigas aqui, eu tenho.

— Isso, joga na minha cara... Não tenho amigas porque vivo nessa casa com você. Já não saía muito antes, imagina agora!

— Talvez porque você não faz questão de conhecer as pessoas? Eu faço amigos por onde vou, em vez de criar muros.

— Eu tenho dificuldade, lindo.

— Já te disse que posso te ajudar, mas você também não quer ser amiga das minhas amigas.

— Amigas que você ficava quando era solteiro? É óbvio que isso não vai dar certo e eu não quero.

— E daí? Vou dar uma volta na praia, fui! - disse, levantando-me com raiva.

— Melhor mesmo! - Yasmin respondeu, frustrada.

Saí, deixando o peso daquele dia para trás, mas sabendo que a tensão entre nós estava longe de ser resolvida. Chego em casa e a Yasmin me espera na sala sentada no sofá, ela me encara furiosa dizendo:

— Não tinha fã nenhuma! O presente foi a Vanessa Lopes quem mandou! A Cleide achou o bilhete na sacola e me mostrou. - me encara ela puta da vida.

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