Capítulo 65

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"Pov Gabriel"

— Yasmin? Está mais calma? Quero conversar com você. — Entrei no quarto, me sentando na borda da cama enquanto ela estava de costas para mim, claramente ainda irritada.

— Entra, estava ninando a Luna de novo. Pode falar, começa seu show. - Ela disse com um tom ácido que só surgia quando estava realmente chateada.

— Assim não, fala direito comigo! Vai conversar comigo como uma adulta ou vai agir feito uma adolescente? - Respondi, tentando manter a calma, mas firme.

— Parece que a sua mãe já fez sua cabeça. - Ela revirou os olhos, me atingindo com uma acusação que não esperava.

Respirei fundo. Não queria discutir, mas também não ia deixar a situação como estava.

— Ok! Depois não diz que eu não tentei... — Me levantei, pronto para sair, mas antes que eu pudesse dar um passo, ela me chamou.

— Gab... espera, eu sei que eu exagerei um pouco. — A voz dela saiu mais suave dessa vez, e eu parei. - É que eu amo tanto a nossa filha, quero tanto proteger ela de todas as coisas ruins, que acabo pecando pelo excesso.

Me virei para ela, sentindo o peso do que ela estava carregando.

— Eu também amo ela, meu amor, quero proteger de tudo igualzinho a você. Mas infelizmente, a gente não vai poder fazer isso pra sempre. Um dia ela vai crescer, e vai ser dona da vida dela. - Disse, tentando trazer um pouco de realidade pra nossa bolha de proteção.

Ela suspirou.

— Nossa, nem fala... Eu não tô preparada pra esse dia. Agora eu consigo entender um pouco a sua mãe.

— Exato, se coloca no lugar dela. Você gostaria se alguém fizesse com a Luna o que você fez com a Sophia? - Perguntei com calma, vendo que ela começava a enxergar a situação por outra perspectiva.

— Não, claro que não! Eu vacilei muito... Vou pedir desculpas pra ela e prometo que vou mudar esse meu jeito super protetor. - A sinceridade nos olhos dela me fez relaxar.

— Que bom, porque você realmente magoou muito ela.

— Eu tentei falar com jeitinho, mas sou meio grossa às vezes, sem perceber... - Ela disse, quase envergonhada.

— Vem cá. - A puxei pra perto, dando um beijo no topo da cabeça dela. - Você errou por excesso de amor. Mas errou, e precisa pedir desculpas.

Ela assentiu, abraçada a mim.

— Vou lá falar com ela.

— Ok. Eu tô aqui se precisar. - Sorri, aliviado por finalmente termos chegado a um entendimento.

" Pov Yasmin"

Bati levemente na porta do quarto da Sophia, respirando fundo antes de entrar.

— Licença, Sophia... posso entrar? - Minha voz saiu hesitante, mas sabia que era a coisa certa a fazer.

— Claro, entra aí, Ya. - Ela respondeu, com um sorriso pequeno, mas os olhos ainda tristes.

— Meu amorzinho, você me perdoa? Eu não queria de maneira alguma te magoar. Perdão pelas minhas palavras, pela forma que falei ou por qualquer coisa que possa ter te machucado. — As palavras saíram rápido, mas sinceras. Eu só queria consertar tudo.

Sophia suspirou, seus olhos marejados.

— Eu te desculpo, Ya. Me doeu muito não poder dar um beijo na Luna. Eu estava com tanta saudade dela, desde o batizado...

A culpa me acertou de novo, com força.

— Eu sinto muito... Você sabe que é sempre bem-vinda na nossa casa. E agora, morando juntos, você vai poder ficar com ela sempre que não estiver ocupada com os treinos com o seu pai. - Tentei aliviar o peso daquela situação.

— Verdade! — Ela sorriu um pouco mais, o que me deixou mais tranquila.

— E sua mãe? Ela tá com raiva de mim, né? - Perguntei, já sabendo a resposta.

— Vou ser sincera... Ela tá puta da vida com você. - Sophia não tentou suavizar as palavras, e eu agradeci pela honestidade.

Suspirei fundo.

— Ela é mãe, deveria me entender. Assim como ela protege vocês, que já são adultos, eu só tô tentando proteger a Luna, que é um bebê. - Justifiquei, mas sentindo que isso não bastava.

— Cada uma tá certa, do seu jeito. Fala com ela antes que isso piore... você sabe como a minha mãe é. - Sophia me olhou com um pouco de preocupação.

— Sei bem... - Respondi, soltando um longo suspiro. Não seria fácil falar com a Simone. Eu já podia prever que seria uma conversa pesada e que provavelmente terminaria em briga.

— Simone, posso entrar? - Perguntei, já sabendo que seria uma conversa tensa.

— Entra, Yasmin! - Ela respondeu, claramente irritada, seu tom de voz era tudo, menos  amigável.

Respirei fundo antes de começar.

— Eu já falei com a Sophia, pedi desculpas pelo que aconteceu mais cedo. Não quis magoá-la, só pensei em proteger a Luna. - Tentei manter a calma, mesmo sabendo que ela não estava disposta a ouvir de forma tranquila.

— Acorda, menina! — Ela retrucou, levantando a voz. — Protege a sua filha de quem realmente precisa ser protegida, de gente má de verdade... Porque você não vai conseguir protegê-la a vida toda, sabia? Não vai poder escolher com quem ela vai casar ou como vai viver, e aí vai ter que conviver com isso ou viver longe dela. - Ela me encarou com uma frieza cortante.

— O que você está insinuando? - Perguntei, já cansada das indiretas. — Eu nunca pedi pro Gabriel se afastar de vocês. Ele fez o que quis, sempre!

— Você agora é mãe e vai entender melhor. Por filho, a gente faz tudo! — Ela respondeu, sem hesitar. — Até conviver com uma riquinha mimada que se acha o centro do mundo... Mas é como dizem, "pelo santo, se beijam as pedras." — O sarcasmo na voz dela era evidente.

Eu senti o sangue ferver, mas tentei me controlar.

— Sou rica graças ao trabalho dos meus pais, e também ao meu próprio esforço. — Rebati, firme.

— Nasci com dinheiro, mas trabalho desde os 13 anos pra não depender de ninguém. Muito menos pra ter que roubar do próprio instituto do filho. - Eu a encarei diretamente, ali vi o choque tomar conta de sua expressão.

Ela ficou em silêncio por um momento, atônita, mas logo recuperou o fôlego.

— Você deveria me agradecer. Eu apoio o Gabriel desde sempre, em todos os campeonatos, em todas as competições. Se ele estivesse solteiro, sabe onde ele estaria? Em baladas, rodeado de "amigos" que a fama e o dinheiro trazem, com mulheres ao redor, mas por dentro estaria vazio... Você prefere ele assim, vazio, do que casado comigo? Por que eu te incomodo tanto, hein?

Ela me encarou de volta, sentindo a tensão aumentar a cada segundo. Estávamos frente a frente, o ar entre nós estava carregado. Sua respiração era pesada, quase como se estivesse pronta para explodir.

A resposta dela não veio, mas o silêncio dizia mais do que qualquer palavra. Eu sabia que essa conversa não resolveria tudo, mas pelo menos agora as cartas estavam na mesa.

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A sereia e o surfista - Yasmin Brunet e Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora