A sereia e o surfista - Yasmin Brunet e Gabriel Medina

Capítulo 50

"Pov Yasmin"

Eu só queria desaparecer. Arrancar essa dor insuportável de dentro de mim ou, pelo menos, acordar de um pesadelo. Imaginava que a qualquer momento abriria os olhos e encontraria Gabriel ao meu lado, pronto para me consolar. Mas não, era real. O pesadelo era minha nova realidade, e não havia ninguém ali além da Luna. Passei a noite em claro, chorando e tentando encontrar alguma explicação. Pensava em tudo que poderia ter motivado Gabriel a tomar uma decisão tão cruel, mas nenhuma resposta fazia sentido.

Às 4h30 da manhã, sem conseguir mais suportar o peso daquele vazio, liguei para minha mãe. Contei tudo entre soluços, e, como sempre, ela me acolheu. Disse que eu e Luna podíamos ir para a casa dela, que nossas coisas seriam bem-vindas. Meus olhos varreram a casa enorme, tão silenciosa e vazia. Sem Gabriel, o lugar parecia mais frio. Não havia o som de sua risada ecoando pelos cômodos, e isso apertava meu peito. Por um breve momento, pensei em destruir o que era importante para ele:  colocar fogo em suas pranchas, quebrar seus troféus. Mas logo descartei a ideia. Essa não era eu. Nada disso arrancaria a dor que eu sentia.

Cleide, nossa empregada, chegou para trabalhar, e me encontrou sentada no chão da sala, rodeada pelos cachorros, enquanto a Luna dormia tranquila no carrinho ao meu lado. Meu rosto estava inchado de tanto chorar.

— Yasmin! O que aconteceu aqui? Por que a sala está cheia de vidro quebrado? Entraram ladrões? - Cleide me olhou confusa, preocupada.

— Não foi ladrão não, Cleide. Foi o Gabriel. Ele decidiu terminar comigo. Eu me irritei e acabei quebrando umas coisas. Vou arrumar minhas coisas e as da Luna pra gente sair daqui dentro do prazo que ele deu. — Falar isso em voz alta fez a dor parecer ainda mais real. As lágrimas voltaram a rolar enquanto me lembrava da cena.

— Como assim? Mas parecia que vocês estavam tão bem, com essa bebê linda... Que pena. Eu vou sentir muita falta de você aqui. - Cleide me olhava com tristeza, tentando entender o que tinha acontecido.

— Pois é, Cleide. Eu também fui pega de surpresa. Não esperava que isso fosse acontecer, mas ele quis assim, né? Quando quiser, pode nos visitar. Você será muito bem-vinda.

— Visitar vocês onde? - Ela perguntou, confusa.

— Vou para a casa da minha mãe por enquanto. Meu apartamento em São Paulo ainda está em reforma.

— Eu posso te dar um abraço? Sinto muito mesmo, Yasmin. - O olhar de Cleide era cheio de pena e empatia.

— Claro, pode sim. - Respondi, tentando sorrir em meio às lágrimas.

Aquele abraço veio como um pequeno alívio. Eu precisava de algo para segurar, alguma coisa para me ancorar depois de tudo que vivi na última noite.

— Eu vou limpar tudo isso aqui e fazer um café da manhã maravilhoso pra você, você não pode ficar sem se alimentar. Eu tenho o número de um pessoal que faz mudança, posso pedir eles pra virem buscar suas coisas.

— Por favor, se puder fazer isso por mim seria ótimo. - digo indo pra cozinha preparar uma salada de frutas com iogurte natural para mim.

A equipe chegou para fazer nossa mudança na parte da tarde. Ver aquelas caixas sendo carregadas, cheias de roupas minhas e da Luna, brinquedos e acessórios, me fez finalmente perceber que tudo entre nós tinha realmente acabado. O que restava de nossa vida juntos estava sendo empacotado e levado embora. Em sete dias, a mudança foi finalizada e uma nova etapa da minha vida estava prestes a começar, e o destino era o Rio de Janeiro.

Gabriel pediu para se despedir da Luna, mas eu preferi não estar em casa nesse momento. Eu não tinha forças para encarar essa despedida. Peguei minhas coisas e fui para um restaurante na orla da praia. O som das ondas e a brisa do mar pareciam ser o cenário perfeito para tentar distrair minha mente. Pedi um lanche e fiquei ali, mexendo no celular, rolando pelo feed do Instagram, sem prestar muita atenção no que via.

Foi então que olhei para frente, e meu coração parou. Ali, bem na minha frente, Gabriel estava aos beijos com Vanessa Lopes. O choque me atingiu com uma força que eu não esperava. Sete dias... Em apenas sete dias, ele foi capaz de beijar outra pessoa. Não era só o beijo, era a falta de qualquer preocupação em esconder. Ele não se importava que alguém pudesse ver. Tudo aquilo que vivemos, o que construímos, parecia ter se esvaído sem deixar rastros. Eu me senti traída, descartada, como se nosso amor nunca tivesse existido.

As lágrimas encheram meus olhos de forma incontrolável. O nó na minha garganta apertava tanto que parecia que eu ia sufocar. Levantei rápido, sem fazer barulho, e saí dali antes que eles me vissem. Eu não queria que Gabriel me visse nesse estado. Eu precisava de ar, precisava ficar longe daquela cena. Cada passo que eu dava parecia mais pesado que o outro. A realidade me esmagava de uma forma brutal, e eu não sabia como ia suportar o que estava sentindo.

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