Capítulo 51

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" Pov Yasmin"

Saí daquele restaurante direto para casa, com o coração despedaçado. Peguei a Luna, fiz as malas e partimos no jatinho do pai dela rumo ao Rio de Janeiro, para a casa da minha mãe. A viagem foi silenciosa, com meus pensamentos martelando sem parar a cena que eu acabara de presenciar. Quando chegamos, o motorista da minha mãe já nos aguardava. Entramos no carro, e eu me sentia como um zumbi, apenas seguindo os passos sem realmente estar ali.

Chegando à casa da minha mãe, mal abri a porta e lá estava ela, com os braços estendidos, pronta para me abraçar. Aquele abraço era tudo o que eu precisava. Acolhimento. Poder desabar, colocar para fora toda a dor que estava me sufocando. Nos sentamos no sofá, de mãos dadas, enquanto Luna dormia em meus braços.

— O que aconteceu, filha? - minha mãe perguntou, com a voz carregada de preocupação. - De repente ele terminou com você dessa forma?

— Foi, mãe... eu não entendi nada. - Minha voz tremia ao lembrar de tudo. - Estávamos bem, ele estava meio distante durante a semana, mas achei que fosse algo relacionado aos pais dele, já que ele não gosta muito de falar sobre isso. Aí, de repente, ele simplesmente chega na sala, na sexta-feira, enquanto estávamos vendo TV, e diz que quer terminar.

Minha mãe ficou boquiaberta, sem acreditar.

— Meu Deus do céu, eu não reconheço o Gabriel.

— Nem eu, mãe... sabe o que foi pior? Ele nem teve a capacidade de olhar nos meus olhos, de me dizer um motivo.

— Ele não falou absolutamente nada? - ela perguntou, incrédula. Eu assenti em meio às lágrimas que já começavam a escorrer de novo.

— E tem mais... - continuei, sentindo o nó na garganta se apertar ainda mais. - Antes de eu vir pra cá com a Luna, ele pediu pra se despedir dela. Eu deixei, claro, mas preferi sair de casa pra não ter que ver isso.

— Certo. — Ela me ouvia atenta, tentando processar a situação.

— Fui tomar um lanche em um restaurante e, mãe... — Eu engoli seco, lembrando da cena. - Ele estava lá, aos beijos com a Vanessa Lopes.

Minha mãe soltou um suspiro pesado, e seus olhos ficaram tristes.

— Poxa, filha, que horror. Eles te viram?

— Não. Eu consegui sair dali antes que me vissem, mas foi horrível. Horrível, mãe. Essa cena fica passando na minha cabeça o tempo todo, e eu não consigo tirar isso de mim.

— Eu imagino a sua decepção, meu amor... — Ela suspirou, apertando minha mão. - Eu estou aqui com vocês, agora. O que precisarem, podem contar comigo, sempre. Terminar um casamento desse jeito é coisa de moleque.

— Ele foi um filho da puta. - Eu soltei, sentindo a raiva se misturar à tristeza. — E nem dá pra dizer que é culpa da Simone, porque eles nem estão mais se falando.

— Vem cá, deita no colo da mamãe. Pode chorar à vontade, estou aqui para te acolher. Dói muito, mas vai passar. - Ela disse, me puxando com carinho.

Eu deitei em seu colo, e as lágrimas vieram com força. Ela acariciava meus cabelos e me dava beijos no rosto, como fazia quando eu era criança. Aquela dor parecia impossível de suportar.

— Eu só queria não sentir isso, mãe... - solucei, com a voz embargada.

— Se ele soubesse o quanto você está mal, ele se odiaria pelo resto da vida. — Ela disse, sua voz firme. — Esse não é o Gabriel que conheci e admirava. O Gabriel que te respeitava, que cuidava de você e te amava... Ele não existe mais, filha.

Eu apenas chorei, sem conseguir responder, afundada naquela sensação de perda e decepção. E, naquele momento, no colo da minha mãe, eu só conseguia esperar que um dia aquela dor fosse embora.

Se passaram algumas semanas desde que me mudei para o Rio de Janeiro com a Luna. Já estávamos nos adaptando à nossa nova vida, embora fosse estranho acordar todos os dias sem o Gabriel. Era como se faltasse um pedaço de mim, uma parte que, mesmo destruída , ainda fazia falta. Gabriel, por sua vez, seguiu sua vida de solteiro, indo para festas e baladas, e sua presença era constante nos perfis de fofoca do Instagram. Eu, inevitavelmente, era marcada nas publicações, o que tornava ainda mais difícil seguir em frente. Ele veio algumas vezes visitar a Luna quando eu não estava em casa pra evitar conflitos, portanto desde a fatídica sexta-feira não trocamos mais uma sequer palavra.

O batizado da Luna seria neste final de semana, na Catedral de Angra dos Reis. Só de pensar em reencontrá-lo, meu corpo tremia. Não queria mais sofrer, não queria me magoar tentando resgatar algo que já estava destruído. Decidi manter a distância, mas a tensão de vê-lo novamente me consumia.

Os convidados começaram a chegar à igreja. Lá estavam meus pais, meu irmão, Sophia, Pedro e Cinthia, que seriam os padrinhos da Luna. A decoração estava impecável, exatamente como eu havia pedido: lírios brancos adornavam o altar, com toques delicados de ouro rose. Eu conversava com minha mãe, com a Luna em meus braços, quando percebi Gabriel entrando na igreja... agarrado à cintura de Vanessa. Meu coração disparou, um misto de raiva e decepção estavam me consumindo. Respirei fundo, tentando manter a compostura.

Gabriel se aproximou com aquele sorriso que parecia despreocupado, como se nada tivesse acontecido.

— Oi filhota, que saudades de você. Tá tão linda com esse vestido branco. — Ele disse, olhando para a Luna que sorriu de volta para ele.

— Oi, Yasmin! - Vanessa disse de forma sarcástica, o que fez meu sangue ferver.

Sem responder, simplesmente tirei a Luna do colo dele, sem pensar duas vezes. Saí andando, tentando me afastar o máximo possível. No entanto, não demorou para que Gabriel viesse atrás de mim, claramente irritado.

— Ficou louca? Tirar ela do meu colo assim, pra quê hein? Estou com saudades dela. - Ele disse, me encarando indignado.

— Tirei e tiraria de novo. - Eu respondi, tentando controlar minha raiva. - Você não gosta dela. Se gostasse, não teria feito tanto mal para mim, que sou a mãe dela! Vai me chamar de louca agora? Pois eu te chamo de sem noção por trazer essa vagabunda pro batizado da nossa filha.

— Você está dentro de uma igreja, melhor guardar essa boca suja. - Ele retrucou com frieza.

— Melhor ser boca suja do que ser tão frio como você. Responsabilidade afetiva? Isso simplesmente não existe pra você, não é?- Eu disse, com minha voz carregada de dor.

Ele não respondeu de imediato, apenas me olhou, como se estivesse cansado daquela discussão. E eu? Eu estava exausta de lutar, de tentar entender.

— Vocês dois por favor! Respeitem o batizado da filha de vocês, não é hora e nem lugar pra brigarem. - diz Luiza irritada com a situação

— Vai ser ótimo quando a Luna ver as fotos do batizado e perceber que o pai que tanto sonhou com ela chegou "virado" de uma noitada e de quebra trouxe uma piranha.

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A sereia e o surfista - Yasmin Brunet e Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora