¹Um convite inesperado

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A chuva fina que caía em Gotham parecia não ter fim. As ruas, cobertas por uma camada de umidade, refletiam as luzes dos postes de forma distorcida. O som das sirenes, agora uma melodia familiar, preenchia o ar enquanto eu, Astrid Drake, me sentava à minha mesa no GCPD. O café ao meu lado já estava frio, um lembrete constante das horas intermináveis que passei ali.

As pilhas de papéis e relatórios se acumulavam, cada um representando mais um caso não resolvido. Meu trabalho como detetive estava longe de ser glamoroso. Era exaustivo e muitas vezes solitário. Mas eu era boa no que fazia, e isso era o suficiente para me manter no jogo.

“Mais uma noite comum no GCPD”, pensei, tentando encontrar algum consolo na rotina.

O sargento Matthews, um homem de estatura imponente e uma expressão permanentemente cansada, aproximou-se da minha mesa. Seu olhar era de exasperação.

— Drake, vai ficar aí até quando? — Sua voz soava mais como um resmungo do que uma pergunta.

Eu ergui os olhos, tentando não demonstrar o cansaço que sentia. A pilha de relatórios parecia estar se multiplicando a cada minuto.

— Férias são para quem quer escapar da realidade, Matthews. Eu ainda tenho alguns corpos para identificar e algumas pistas para seguir.

Ele deu uma risada curta e se afastou, balançando a cabeça. O GCPD era um lugar onde o trabalho nunca terminava, e todos sabiam disso. Eu olhei para a janela e vi as luzes da cidade piscando através da cortina de chuva. Gotham parecia viva, com seus segredos e mistérios escondidos em cada esquina.

Meu telefone fixo tocou de repente, quebrando o silêncio do escritório. Eu peguei o aparelho, a voz no outro lado era séria e controlada.

— Detetive Drake?

— Sim, sou eu — respondi.

— Aqui é Alfred Pennyworth. O Sr. Wayne gostaria de vê-la. O mais breve possível.

O nome me pegou de surpresa. Bruce Wayne? O magnata bilionário e filantropo? Era incomum, para não dizer estranho, que ele quisesse me ver. Eu franzi a testa, tentando controlar minha surpresa.

— O Sr. Wayne? — perguntei, tentando parecer calma. — Isso é uma surpresa.

— Ele está esperando por você, senhorita — respondeu Alfred, com um tom que não oferecia muitas pistas. — Vou providenciar o transporte para a Mansão Wayne.

Desliguei o telefone, ainda perplexa. O que Bruce Wayne poderia querer comigo? Eu era apenas uma detetive em ascensão, e o máximo que eu tinha feito até agora era investigar casos menores e ajudar em algumas grandes operações. A ideia de ir até a Mansão Wayne me deixou ansiosa e curiosa ao mesmo tempo.

Peguei meu casaco e me preparei para sair. O carro preto luxuoso que Alfred enviou estava estacionado na frente da delegacia, e eu entrei, tentando não parecer nervosa. O trajeto até a Mansão Wayne foi silencioso, com as luzes da cidade passando rapidamente pela janela. O contraste entre o lado sombrio de Gotham e o luxo da mansão de Bruce Wayne era quase surreal.

Quando cheguei à mansão, Alfred estava lá, esperando na entrada. Ele era um homem de aparência impecável, com uma expressão que misturava formalidade e cortesia.

— Senhorita Drake, uma honra tê-la aqui — disse ele, estendendo a mão.

— Obrigada — respondi, apertando a mão dele. — Nunca estive em um lugar tão... impressionante.

Ele sorriu levemente e fez um gesto para que eu o seguisse.

— O Sr. Wayne está no escritório. Ele gostaria de discutir algo importante com a senhorita.

Subimos pelas escadas e pelos corredores ornamentados da mansão. O lugar exalava opulência, com móveis elegantes e obras de arte nas paredes. O escritório de Bruce Wayne era ainda mais impressionante, com uma grande mesa de carvalho e estantes repletas de livros.

Alfred abriu as portas pesadas, revelando Bruce Wayne de pé perto da janela. Ele se virou ao nos ouvir entrar, e seu olhar avaliou-me com um interesse calculado.

— Detetive Drake — disse ele com uma voz profunda e calma. — Obrigado por vir.

— Sr. Wayne — respondi, tentando não parecer intimidada. — Agradeço o convite. O que posso fazer por você?

Ele indicou uma cadeira diante de sua mesa e eu me sentei, observando-o com atenção. Bruce Wayne era um homem carismático, mas havia algo mais nele, algo que sugeria que ele carregava um peso considerável.

— Não vou me alongar — começou ele, com um tom direto. — Preciso de alguém confiável para uma tarefa importante. Seu nome foi recomendado como uma das melhores detetives da cidade.

A surpresa em meu rosto não pôde ser contida. Bruce Wayne precisava de uma detetive? O pensamento era tão inesperado quanto intrigante.

— O senhor está precisando de ajuda com algum caso específico? — perguntei, tentando entender a natureza do pedido.

Ele balançou a cabeça, a expressão séria.

— Não exatamente. O que preciso é de alguém para proteger uma pessoa muito importante para mim. Meu filho, Damian.

Eu o olhei, tentando processar a informação. Damian Wayne, o herdeiro de Bruce Wayne, era um nome que eu conhecia, mas pouco sabia sobre ele. A ideia de que ele precisava de proteção me deixou intrigada.

— Seu filho? — repeti, ainda em choque. — Por que ele precisaria de proteção? Não seria mais simples contratar seguranças pessoais?

Bruce Wayne se aproximou da mesa, seus olhos fixos nos meus.

— Damian está em uma fase complicada. Ele não é apenas o herdeiro das Empresas Wayne, mas está envolvido em outras responsabilidades que são... sensíveis. Preciso de alguém com habilidades especiais para protegê-lo, alguém que saiba lidar com situações complexas e que tenha a capacidade de se adaptar.

Eu o encarei, pensando sobre o que ele estava dizendo. Protegendo um adolescente herdeiro de uma fortuna bilionária não era um trabalho fácil. Era um desafio, sem dúvida, e, por mais que eu quisesse entender melhor a situação, Bruce Wayne não parecia disposto a fornecer muitos detalhes.

— E por que eu? — perguntei, tentando não parecer curiosa demais. — Existem muitos profissionais qualificados.

Ele me olhou com um sorriso enigmático.

— Porque você não tem medo de desafios. Gotham é uma cidade difícil, e você já demonstrou coragem e competência. Além disso, você tem uma habilidade natural para ler pessoas e situações, algo que considero crucial para o que está por vir.

Eu fiquei em silêncio por um momento, ponderando sobre a proposta. A ideia de proteger Damian Wayne era tentadora, mas também envolvia uma série de questões complicadas. Antes que eu pudesse responder, Bruce continuou.

— Eu entendo que isso possa parecer inesperado, e eu aprecio sua disposição em considerar isso. Se decidir aceitar, você começará imediatamente. Alfred pode lhe fornecer mais detalhes sobre as necessidades de Damian e o que será necessário para a missão.

Levantei-me, ainda processando tudo.

— Eu vou pensar sobre isso — disse, tentando soar decidida. — Agradeço a oportunidade, Sr. Wayne.

Ele se levantou e estendeu a mão.

— Agradeço a sua consideração. Farei o que for necessário para garantir a segurança do meu filho.

Eu apertei a mão dele e me dirigi à porta, deixando o escritório com uma mistura de nervosismo e empolgação. A proposta de Bruce Wayne era algo que não podia ser ignorado. E, ao que parecia, a cidade de Gotham tinha mais segredos e desafios reservados para mim do que eu poderia imaginar.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora