A Guarda de Damian Wayne

³⁸Um novo normal

Os dias que se seguiram foram mais calmos do que eu poderia imaginar. Os vilões de Gotham pareciam estar em um intervalo silencioso, o que, de certa forma, era preocupante. Eu sabia que esse tipo de calmaria muitas vezes precedia uma grande tempestade, mas, por enquanto, aproveitávamos a pausa.

Dick e Jason estavam mais presentes na mansão Wayne, preenchendo o espaço com uma energia que eu ainda estava me acostumando. Alfred, sempre atento, preparava refeições e organizava as rotinas da casa com uma precisão quase militar. E Damian… bem, ele continuava sendo Damian, sempre focado, sempre observador, mas com pequenos momentos que revelavam uma faceta mais suave dele.

Eu também estava mais integrada à rotina de eventos da alta sociedade de Gotham. Bruce Wayne fazia questão de manter sua imagem pública impecável, e, como parte da equipe de segurança, eu me encontrava cada vez mais ao lado de Damian, cumprindo o papel de guarda-costas em eventos de gala e reuniões. Isso nos deu a oportunidade de passar mais tempo juntos, em um contexto diferente do caos das ruas e das missões.

Em um desses eventos, uma noite de gala beneficente em um hotel de luxo no centro de Gotham, a atmosfera era de sofisticação e poder. Os ricos e influentes de Gotham circulavam pelo salão, trocando cumprimentos e risadas enquanto aproveitavam as iguarias servidas pelos garçons impecavelmente vestidos.

Damian e eu estávamos próximos à entrada, observando a movimentação com a habitual cautela. Eu usava um vestido longo, azul-marinho, que me fazia sentir estranhamente fora do meu habitat natural. Damian, em um terno preto elegante, estava impecável, sua postura reta e olhos atentos em cada canto do salão.

— Esses eventos sempre me deixam entediado, — ele murmurou, sem tirar os olhos da multidão.

— Eles não são exatamente emocionantes, — concordei. — Mas é bom para os negócios de Bruce.

— Hm, — ele fez um som de descontentamento. — Pelo menos você está aqui. Facilita as coisas.

Olhei para ele, surpresa pela sinceridade em sua voz. Damian raramente demonstrava abertamente esse tipo de sentimento, e isso fez meu coração acelerar por um segundo.

— Obrigada, — respondi com um sorriso. — Digo o mesmo.

Um garçom passou, oferecendo taças de champanhe, e ambos pegamos uma, mais por formalidade do que por qualquer desejo de beber. O olhar de Damian ainda estava focado nos detalhes da festa, mas havia uma leveza em sua expressão que eu estava começando a reconhecer.

— Então, quantos desses eventos você já teve que frequentar? — Perguntei, tentando quebrar o gelo e manter a conversa.

— Muitos. Desde que me entendo por gente, Bruce sempre fez questão de que eu estivesse presente em eventos como esse. Ele diz que é importante para manter as aparências, — Damian respondeu, quase com uma ponta de ironia.

— Não posso culpá-lo. — Dei de ombros. — Ser um Wayne deve trazer responsabilidades que a maioria de nós nem imagina.

Damian soltou um suspiro, quase imperceptível, e finalmente olhou diretamente para mim.

— Nem tudo é responsabilidade. Às vezes, é apenas sobre fazer o que é certo, independentemente do nome que carregamos. — Ele deu um gole em sua taça, seus olhos se suavizando levemente. — Mas você já sabe disso, não é?

Senti meu rosto aquecer. Havia algo em como ele falava, na intensidade de seu olhar, que me deixava cada vez mais ciente de uma conexão crescendo entre nós.

— Acho que sim, — murmurei, tentando não parecer afetada.

Antes que a conversa pudesse se aprofundar mais, Bruce apareceu, se juntando a nós com seu habitual ar de elegância e autoridade. Ele lançou um olhar breve para Damian e depois para mim, um sorriso leve no rosto.

— Vocês dois estão se divertindo? — Ele perguntou, com uma leve brincadeira em sua voz.

— Tão divertido quanto possível, considerando o evento, — Damian respondeu com um tom seco, mas não hostil. Havia uma certa camaradagem entre eles, algo que ia além das palavras.

Bruce assentiu, reconhecendo o comentário do filho sem se aprofundar. Ele virou-se para mim, seus olhos sempre avaliadores.

— Como está o controle de segurança por aqui?

— Tudo tranquilo, Sr. Wayne, — respondi. — Até agora, nenhum incidente.

Bruce parecia satisfeito com a resposta e olhou para Damian.

— Depois desse evento, preciso que você e Dick me ajudem com um projeto. Jason também está envolvido, então será interessante, para dizer o mínimo.

Damian arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Um projeto?

— Sim, mas falaremos disso depois. Aproveite a noite. — Bruce deu um aceno curto e se afastou, retornando para a multidão de convidados.

Quando ele desapareceu na multidão, Damian voltou seu olhar para mim.

— Isso significa que haverá algo grande em breve. Bruce não traz todos nós juntos a menos que haja algo importante acontecendo.

Eu franzi o cenho, tentando adivinhar o que Bruce poderia ter em mente.

— Você acha que está relacionado a Gotham, ou algo maior?

— Difícil dizer. Mas, com a equipe toda reunida, sempre há uma boa chance de ser algo mais complexo. — Damian deu de ombros, mas seu tom sugeria que ele estava intrigado.

A noite prosseguiu sem grandes eventos, e logo estávamos de volta à mansão. O projeto mencionado por Bruce ficou no ar, e o mistério trouxe uma antecipação silenciosa para todos nós. No entanto, o que mais me marcou naquela noite não foi o comentário de Bruce, mas sim o tempo que Damian e eu passamos juntos. Havia algo ali, algo crescendo, e por mais que tentássemos manter as aparências, era inegável que nossas interações estavam mudando.

Enquanto Damian subia as escadas para seu quarto, ele parou por um momento e se virou para mim.

— Obrigado por hoje. Foi mais... suportável com você por perto.

Sorri, apreciando o pequeno gesto.

— Fico feliz em ajudar.

Ele hesitou por um segundo, como se quisesse dizer algo mais, mas logo se virou e desapareceu no corredor. Fiquei ali por um momento, refletindo sobre a noite e o que poderia estar por vir.

O futuro, tanto em termos de vilões quanto de sentimentos, parecia cheio de possibilidades.