⁶Sob tensão

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Acordei na manhã seguinte com a mente ainda presa à tensão do dia anterior. O disparo ecoava nos meus ouvidos, e a expressão de fúria de Damian não me saía da cabeça. Ele era irritantemente arrogante, e, mesmo que não admitisse, estava jogando com o risco de vida dele próprio, algo que eu jamais entenderia. No fundo, sentia que havia muito mais escondido sob a fachada de perfeição e controle que ele exibia.

Enquanto caminhava em direção à Mansão Wayne novamente, meu pensamento oscilava entre o que poderia ter dado errado se eu não tivesse agido e o que poderia vir a seguir. Não era só o perigo físico que me incomodava, mas a constante resistência de Damian em aceitar qualquer ajuda. Eu sabia que aquilo não seria um trabalho fácil, mas não esperava um conflito diário de egos.

Ao chegar, Alfred me recebeu na porta com sua calma costumeira, mas dessa vez notei um brilho de preocupação nos seus olhos.

— Bom dia, senhorita Drake — ele disse, segurando a porta para eu entrar. — O jovem mestre está... um pouco agitado hoje. Apenas um aviso amigável.

Eu suspirei, já esperando mais um embate.

— Ele está sempre agitado — respondi, com um sorriso cansado. — Mas obrigada pelo aviso, Alfred.

Subi as escadas até o corredor onde ficava o quarto de Damian. O ambiente da mansão estava incrivelmente silencioso, o que só aumentava a tensão que eu sentia. Quando cheguei à porta do quarto dele, estava aberta. Damian estava de pé perto da janela, olhando para o vasto jardim, os braços cruzados. Seu reflexo no vidro mostrava que ele sabia que eu estava ali, mas não fez menção de se virar.

— Já cansada de me seguir? — Ele falou sem sequer desviar o olhar.

Revirei os olhos, fechando a porta atrás de mim antes de cruzar os braços.

— Isso aqui não é sobre gostar ou não, Damian. É meu trabalho, e o que aconteceu ontem só mostra que você precisa de proteção, quer goste ou não.

Finalmente, ele se virou, seus olhos verdes cravando-se nos meus, cheios de irritação.

— Eu não preciso de proteção. Se você tivesse ficado fora do caminho, teria acabado tudo sem aquele alarde.

— Alarde? — Eu estava incrédula. — Você quase foi atingido por uma bala, Damian! Isso não é "alarde". É uma realidade. E a realidade é que, por mais habilidoso que você seja, às vezes, precisa de ajuda.

Ele me encarou em silêncio por alguns instantes, seus punhos fechados ao lado do corpo. Era como se ele estivesse travando uma batalha interna, tentando decidir se iria explodir ou simplesmente ignorar o que eu disse.

— Você não me conhece, Astrid. — Sua voz saiu mais controlada do que eu esperava. — Você não sabe o que eu sou capaz de fazer.

Me aproximei, mantendo meu olhar firme no dele.

— Você está certo, Damian. Não conheço tudo sobre você. Mas isso não significa que eu não possa ver o óbvio. Você está jogando com a própria vida, e isso não é algo que eu vou deixar passar. Seja para salvar seu orgulho ou para provar um ponto, não vou permitir que você se machuque enquanto eu estiver por perto.

Damian deu um passo em minha direção, e a tensão entre nós pareceu quase tangível. Eu podia sentir a raiva e o orgulho conflitante nele, mas, ao mesmo tempo, havia algo mais profundo nos olhos dele. Algo que ele estava tentando esconder.

— Você não manda em mim — ele disse, a voz baixa e ameaçadora. — Não tente controlar minhas decisões.

Eu dei um pequeno sorriso, cruzando os braços.

— Eu não preciso mandar em você, Damian. O mundo vai fazer isso por mim, porque se continuar agindo desse jeito, mais cedo ou mais tarde, você vai acabar morto. E eu estarei lá para evitar que isso aconteça, mesmo que você deteste cada segundo disso.

Antes que ele pudesse responder, Alfred entrou na sala com uma expressão calma, mas preocupada.

— Com licença, senhor Wayne, senhorita Drake — disse ele, com a postura sempre impecável. — O senhor Bruce pediu para ambos descerem. Parece que há algo de importância que ele deseja discutir com vocês.

Damian passou por mim, sem dizer mais uma palavra, e desceu as escadas rapidamente. Suspirei, aliviada por aquele confronto ter terminado, ao menos por enquanto. Mas algo me dizia que a verdadeira batalha estava apenas começando.

Bruce nos esperava na sala de estar com uma expressão séria. Quando nos aproximamos, ele fez um gesto para que nos sentássemos. Damian manteve-se de pé, encostado em uma das paredes com os braços cruzados, enquanto eu me sentei no sofá, curiosa para saber o que estava acontecendo.

— Tive uma conversa com os investigadores da GCPD — começou Bruce, olhando diretamente para mim. — Parece que o homem que tentou atacar Damian no evento faz parte de um grupo maior. Eles acreditam que ele não estava agindo sozinho, o que significa que a ameaça a Damian ainda não acabou.

Eu troquei um olhar rápido com Damian, que apenas arqueou uma sobrancelha, sem parecer surpreso.

— E quais são as suspeitas sobre quem está por trás disso? — perguntei, tentando obter mais informações.

Bruce suspirou, esfregando o queixo com a mão.

— Ainda não sabemos ao certo. Pode ser algum concorrente querendo me atingir, ou algum inimigo mais antigo. A verdade é que estou no escuro, e isso torna tudo mais perigoso.

Damian finalmente falou, sua voz cheia de desdém.

— Então é isso? Agora vou ser tratado como um alvo ambulante? Me recuso a ficar parado enquanto você me coloca em uma redoma de vidro, pai.

Bruce não desviou o olhar, sua expressão inabalável.

— Damian, você é o futuro das Empresas Wayne. Querendo ou não, há pessoas que farão de tudo para nos atingir. E isso inclui você. É por isso que Astrid está aqui, para garantir sua segurança.

Damian olhou para o pai, seus olhos verdes faiscando de irritação.

— Eu já disse que não preciso de proteção.

Antes que Bruce pudesse responder, eu me levantei e o interrompi.

— Olha, não estou aqui para discutir com você, Damian. A questão é que não temos certeza do que estamos enfrentando, e não podemos ignorar o perigo. Eu não gosto de ficar parada tanto quanto você, mas a diferença é que sei quando é hora de ser cautelosa.

Damian abriu a boca para retrucar, mas Bruce ergueu uma mão, interrompendo-o.

— Basta, Damian. Estamos todos no mesmo time aqui. Não se trata de quem é mais forte ou mais inteligente. Trata-se de manter você seguro. Se isso significa que você terá que suportar a presença de Astrid, então é assim que será.

Damian apertou os punhos, a frustração clara em sua postura rígida. Ele não respondeu, apenas saiu da sala rapidamente, deixando Bruce e eu sozinhos.

Eu suspirei, me sentindo exausta pela constante batalha de egos.

— Ele é difícil de lidar — comentei, olhando para Bruce.

Bruce deu um meio sorriso.

— Ele é teimoso, sim. Mas no fundo, ele entende a necessidade disso. Vai demorar para ele aceitar, mas um dia ele vai. Até lá, apenas continue fazendo o seu trabalho. E... tenha paciência.

— Vou tentar, mas não prometo que não vou perder a cabeça às vezes — brinquei, tentando aliviar um pouco a tensão.

Bruce sorriu, e pela primeira vez, senti que ele realmente entendia o que eu estava enfrentando.

Eu sabia que a verdadeira luta com Damian estava longe de acabar. Mas também sabia que, de algum jeito, estávamos mais conectados do que ele queria admitir.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora