²⁶Tempestades internas

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Na Batcaverna, o som de passos ecoava pelos corredores subterrâneos. Damian estava à frente, movendo-se rápido, quase como se quisesse deixar tudo para trás, incluindo a conversa que estava inevitavelmente por vir. O ferimento no ombro mal parecia incomodá-lo. Era uma mistura de teimosia e orgulho, duas características que ele exibia constantemente.

Eu o segui, meu coração ainda acelerado pela batalha. Não era só o perigo que tínhamos enfrentado, mas também a tensão entre nós dois. Algo havia mudado lá no porto, e era impossível ignorar.

— Você não pode continuar assim, Damian, — falei, minha voz ecoando na caverna enquanto nos aproximávamos da área de primeiros socorros.

— Continuar como? — Ele respondeu secamente, sem olhar para mim enquanto subia na maca improvisada.

— Fingindo que nada aconteceu. — Eu me aproximei, pegando o kit de primeiros socorros. Sabia que ele não ia pedir ajuda, então me ofereci.

Damian soltou um suspiro, deixando-me trabalhar em seu ferimento. Suas expressões, seus gestos, sempre carregavam uma certa arrogância, mas havia algo mais profundo ali. A dor física era um fardo que ele conseguia ignorar, mas as emoções... essas ele nunca sabia lidar.

Enquanto eu limpava o ferimento, ele ficou em silêncio, seus olhos verdes focados em algo distante. O peso de tudo o que havia acontecido recentemente estava nos puxando para direções que nenhum de nós sabia lidar.

— Por que está me ajudando? — Ele perguntou de repente, o tom de voz mais suave, quase imperceptível.

A pergunta me pegou de surpresa, e por um segundo hesitei, as mãos parando de trabalhar no ombro dele.

— Porque... porque eu me importo, Damian, — respondi, finalmente. As palavras pareciam carregar mais peso do que eu imaginava.

Ele não respondeu de imediato, apenas virou o rosto, evitando meu olhar. Era como se ele estivesse tentando entender ou aceitar algo que lutava para não admitir.

— Não preciso de ninguém se importando comigo, — ele disse finalmente, seu tom de voz voltando à frieza habitual.

— Claro que precisa, — retruquei rapidamente, terminando de enfaixar seu ombro. — Todos precisam de alguém, Damian. Até você.

Antes que ele pudesse responder, um alarme soou pela caverna. O som cortou o silêncio como uma faca, e nós dois nos viramos imediatamente para o grande monitor no centro da sala. Bruce estava de volta, e ele já havia acionado a próxima missão.

— Parece que Gotham nunca dorme, — murmurei, sentindo a adrenalina começar a subir novamente.

Damian se levantou, sua postura rígida como sempre, ignorando o ferimento recente. Ele colocou a máscara de volta, tanto literal quanto figurativamente. Aquele era o Robin, o herói impassível, deixando para trás qualquer vestígio de vulnerabilidade.

— Temos trabalho a fazer, — ele disse, já se preparando para sair.

Eu sabia que a conversa estava longe de terminar, mas, naquele momento, Gotham exigia nossa atenção. E, de certa forma, talvez fosse mais fácil para ele focar no caos da cidade do que nas tempestades que enfrentava dentro de si.

A noite estava particularmente escura, mesmo para os padrões de Gotham. As ruas molhadas refletiam as luzes fracas dos postes, e o ar frio cortava a pele como lâminas afiadas. Eu e Damian corríamos pelos telhados da cidade, uma dupla de sombras em movimento.

Cada vez que ele saltava de um prédio para outro, eu sentia uma mistura de admiração e frustração. Damian era excepcional no que fazia, isso era inegável. Sua habilidade, sua precisão, tudo o tornava um guerreiro implacável. Mas, ao mesmo tempo, ele era completamente fechado, isolado por trás de suas muralhas emocionais.

— Temos uma movimentação estranha na área leste da cidade, — disse ele, parando abruptamente e puxando um binóculo de alta tecnologia. — Parece que o Espantalho está de volta ao jogo.

Meu estômago revirou ao ouvir o nome. O Espantalho era o vilão que quase havia me destruído. Eu sabia que, em algum nível, o confronto com ele estava longe de ser resolvido.

— Qual é o plano? — Perguntei, tentando manter a voz firme, mesmo com a tensão correndo em minhas veias.

— Entramos, coletamos informações e saímos. Sem distrações. — Damian respondeu, o tom de comando deixando claro que não havia espaço para discussão.

Mas, naquele momento, algo mudou em mim. O medo e a ansiedade que sempre me acompanhavam quando o Espantalho era mencionado começaram a se dissipar. Eu precisava enfrentá-lo novamente, e dessa vez, não seria como vítima.

— Eu vou com você, — declarei, sem hesitação.

Damian me lançou um olhar de advertência, seus olhos verdes brilhando com irritação.

— Não. Não vamos repetir o que aconteceu da última vez. Você ainda está vulnerável aos efeitos da toxina dele.

— E você acha que vai me proteger de tudo para sempre? — Retruquei, cruzando os braços. — Eu não sou uma vítima, Damian. Eu posso lutar tanto quanto você.

— Não estamos discutindo isso agora, — ele disse entre dentes, claramente perdendo a paciência.

Mas eu não estava disposta a recuar. Algo em mim havia mudado desde a última vez que enfrentei o Espantalho. Talvez fosse a confiança que comecei a ter em minhas próprias habilidades ou a compreensão de que, para sobreviver em Gotham, eu precisava ser mais do que apenas alguém sob a proteção do Robin.

Antes que a discussão pudesse continuar, um barulho vindo do galpão à frente chamou nossa atenção. Damian se moveu imediatamente, sua postura rígida e pronta para a batalha. Eu o segui de perto, meu coração martelando no peito enquanto nos aproximávamos da fonte do ruído.

Assim que nos infiltramos no galpão, o cheiro familiar e nauseante da toxina do medo pairava no ar. Minhas mãos começaram a suar, e minha mente já estava se preparando para o pior. Eu sabia o que aquela toxina podia fazer. Mas eu também sabia que não estava sozinha.

Damian avançou silenciosamente, neutralizando dois capangas que guardavam a entrada principal. Eu segui logo atrás, meus olhos atentos ao ambiente. O Espantalho não estava à vista, mas sua presença era sentida em cada canto daquele lugar.

— Precisamos ser rápidos, — sussurrei, olhando ao redor. — Não podemos deixar que ele espalhe essa toxina.

Damian assentiu, focado na missão. Mas algo estava errado. O ambiente estava silencioso demais, quase como se estivéssemos sendo observados.

— Cuidado, — murmurei, sentindo uma presença estranha ao nosso redor.

E foi então que a porta do galpão se fechou com um estrondo, trancando-nos lá dentro.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora