¹⁹Entre suspeitas e sentimentos

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Os dias seguintes foram um misto de tensão e incertezas. Cada vez que eu olhava para Damian, era como se um jogo de xadrez estivesse se desenrolando em minha mente. Será que ele sabia que eu estava desconfiando dele? A forma como ele me olhava, às vezes arrogante, outras vezes com um brilho nos olhos que me deixava confusa... Tudo estava me deixando à beira de uma descoberta ou de um colapso.

A cada movimento dele, eu procurava pistas. Em cada resposta evasiva, eu tentava encontrar a verdade por trás das palavras. Eu sabia que, se o confrontasse sem provas concretas, ele simplesmente me desdenharia, como fazia em tantas outras situações. Por isso, continuei em silêncio, mas os olhos sempre atentos.

Naquela tarde, estávamos novamente na mansão. Bruce estava fora, o que nos deixava sozinhos — o que parecia acontecer cada vez com mais frequência. Eu estava sentada no sofá da sala, enquanto Damian lia algo sobre as Empresas Wayne. O silêncio estava carregado de uma tensão que se tornara familiar nos últimos dias.

Finalmente, não pude evitar o impulso de quebrá-lo.

— Damian, posso te perguntar algo? — minha voz saiu mais suave do que eu esperava, quase hesitante.

Ele ergueu os olhos do relatório, arqueando uma sobrancelha, o tom de desafio já evidente em seu rosto. — Desde quando você pede permissão para falar? — ele respondeu com aquele sarcasmo típico.

Ignorei o comentário e continuei. — Por que seu pai me contratou, realmente?

Damian soltou um suspiro irritado, como se estivesse cansado dessa pergunta. — Já disse isso a você. Ele acha que eu preciso de proteção... — Ele parou por um segundo, o tom mais ácido. — Não que eu concorde.

Eu cruzei os braços, estreitando os olhos para ele. — Você luta melhor do que qualquer pessoa que eu já tenha visto. No evento beneficente, você estava à frente de todo mundo, e sem hesitar. Como alguém que precisa de proteção se comporta assim?

Ele me encarou, os olhos verdes se estreitando levemente, como se estivesse avaliando o quanto eu sabia — ou o quanto eu suspeitava. O ar na sala ficou ainda mais pesado, e por um segundo, pensei que ele fosse me confrontar ali mesmo. Mas então, um sorriso presunçoso surgiu em seu rosto.

— Talvez você só seja péssima em subestimar as pessoas. — A arrogância em sua voz era irritante, mas eu não recuei.

Antes que eu pudesse responder, o celular dele vibrou. Seu rosto imediatamente mudou. Ele se levantou, colocando o celular no bolso com pressa. Eu já sabia o que isso significava. Mais uma vez, ele sairia sem explicações.

— Tenho que ir. — Ele já estava se dirigindo à porta, sem sequer me olhar.

Eu me levantei rapidamente. — Aonde você vai, Damian?

Ele parou na porta, de costas para mim. Sua postura estava tensa, como se ele estivesse lutando contra algo dentro de si. Após um breve silêncio, ele respondeu:

— A negócios, nada que você precise se preocupar.

— Você sempre diz isso, mas isso não impede que eu me preocupe — repliquei, minha voz mais dura do que eu pretendia. Eu estava cansada dessas respostas vagas. — Como posso te proteger se você não me diz a verdade?

Ele se virou, seus olhos verdes brilhando com uma intensidade que me fez sentir um arrepio na espinha. — Talvez porque você nunca foi contratada para me proteger de verdade, Astrid. Talvez seja outra coisa que você deveria estar investigando.

Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer com isso, Damian saiu da sala, e eu fiquei sozinha, com mais perguntas do que respostas.

No dia seguinte, voltei à GCPD para uma reunião com o Comissário Gordon. Precisava de uma distração, algo para tirar Damian da minha cabeça, mesmo que por algumas horas. Os dias na Mansão Wayne estavam começando a me sufocar com tanta incerteza.

— Astrid, você tem feito um ótimo trabalho com os Wayne. Mas preciso de você de volta em campo — Gordon me disse, enquanto estudava os relatórios na mesa dele.

— Voltar para as ruas, Comissário? — perguntei, surpresa. — Achei que meu trabalho com Damian ainda era uma prioridade.

— É, mas estamos perdendo detetives experientes nas ruas, e você sempre foi uma das melhores. Além disso — ele me olhou nos olhos, sério —, ouvi rumores. Há algo estranho acontecendo nas ruas de Gotham, algo que você talvez queira investigar.

Meu coração acelerou. Poderia ser uma oportunidade para descobrir mais sobre a vida dupla que eu suspeitava que Damian estava levando?

— O que você ouviu? — perguntei, tentando parecer casual.

— Ouvimos falar de um vigilante que está lidando com os criminosos de uma forma bem... peculiar. Rápido, preciso. Ninguém sabe quem ele é, mas os rumores apontam para alguém com treinamento militar. — Ele me lançou um olhar curioso. — E acho que você conhece as pessoas certas para investigar isso, não?

Não havia como negar que ele estava certo. Gordon sabia o que estava sugerindo sem dizer diretamente. Robin. Eu sabia que era dele que ele estava falando, e talvez essa fosse a chance que eu precisava para ligar os pontos.

Mais tarde naquela noite, quando voltei à Mansão, Damian estava novamente misteriosamente ausente. Passei horas na sala, o pensamento dele não saindo da minha cabeça. Estava claro que ele estava escondendo algo — a questão era o quê. Eu não podia simplesmente confrontá-lo sem provas, mas não podia deixar as dúvidas corroerem minha mente.

Foi então que ouvi um ruído vindo de fora da mansão. Instintivamente, fui até a janela, e lá estava ele: Damian, voltando pela parte de trás da casa, suado e exausto, mas sem o terno caro que havia usado ao sair. Mais uma vez, meu cérebro começou a girar com suposições.

Decidi que não podia mais esperar. Precisava de respostas.

Na manhã seguinte, esperei por um momento oportuno. Damian estava na sala de treinamento, socando um saco de pancadas com uma intensidade quase selvagem. Me aproximei devagar, observando sua postura, seus movimentos calculados. Mesmo em seu exercício, ele exibia uma precisão que me deixava desconcertada.

— Vai me ignorar o dia todo? — perguntei, cruzando os braços enquanto me aproximava.

Ele parou de socar o saco de pancadas e se virou para mim, secando o suor da testa com uma toalha. Seus olhos verdes me perfuraram, mas havia algo diferente ali. Uma faísca de algo mais profundo. Irritação? Frustração?

— O que você quer, Astrid? — ele disse, com aquele tom irritante de quem já estava cansado de ser questionado.

— A verdade — respondi, sem hesitar.

Ele estreitou os olhos, seu maxilar travando. — Sobre o quê?

Dei um passo à frente, encarando-o com firmeza. — Sobre o que você realmente faz à noite. Sobre o que está sendo escondido de mim. Eu já cansei dos jogos, Damian. Não sou idiota, e você sabe disso.

Damian ficou em silêncio, me olhando intensamente. O ar entre nós parecia eletrificado. Algo estava prestes a mudar, eu podia sentir.

— E se a verdade não for algo que você queira ouvir? — ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.

— Eu decido o que quero ou não ouvir — repliquei, desafiadora.

Por um longo momento, nós dois ficamos em silêncio, apenas nos encarando. Era como se uma barreira invisível estivesse entre nós, uma que ambos sabíamos que estava prestes a ser derrubada — de uma forma ou de outra.

Finalmente, Damian desviou o olhar, suspirando. Mas antes que ele pudesse dizer algo, o alarme da mansão tocou.

— Intruso! — a voz eletrônica ecoou pela casa, e o momento foi interrompido.

Damian e eu trocamos um olhar rápido. Ele correu na direção da porta, e eu o segui, pronta para enfrentar o que quer que estivesse por vir — mas com mais perguntas do que nunca.

A verdade estava prestes a ser revelada, mas o caminho até ela seria cheio de perigos.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora