⁴³Paciência e estratégia - Dick

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Sentado no batente da janela da Mansão Wayne, eu observava os jardins sendo iluminados pela luz suave da lua. A noite em Gotham sempre teve algo de poético, especialmente agora que o caos dos últimos dias havia diminuído. Damian e Astrid estavam lá embaixo, andando pelos corredores com aquela típica tensão que eu conhecia muito bem. Jason tinha dado a contribuição dele, com seu estilo mais provocador e direto, e agora era minha vez de entrar em cena de uma forma mais... estratégica.

Sabe, eu sempre fui o cara que tenta equilibrar o ambiente, trazer um pouco de leveza e senso de união para o grupo. E essa missão específica – a missão "Damian e Astrid" – era algo que eu sabia que precisaria de um toque mais delicado. Não que Jason não tivesse o jeito dele, mas... bom, ele tende a ser como um furacão.

Olhei para o relógio. Já era tarde, e o pessoal tinha se retirado. Jason provavelmente já estava deitado, mas Damian e Astrid ainda não tinham voltado para seus quartos. Aquilo era um sinal.

Descendo as escadas da mansão em silêncio, fui em direção à sala de estar, onde eles estavam sentados em lados opostos de um sofá enorme, olhando para algo na tela da TV, mas claramente distraídos um com o outro. Ah, juventude...

— Vocês dois ainda estão acordados? — Perguntei, tentando parecer casual enquanto caminhava até eles. Me sentei na poltrona ao lado, lançando um sorriso de lado.

Damian deu de ombros, tentando esconder o desconforto, enquanto Astrid deu um sorriso gentil. Ela parecia menos tensa agora, mas ainda havia uma barreira ali, entre o que eles sentiam e o que estavam dispostos a admitir.

— O filme não estava tão bom assim? — Perguntei, olhando para a tela. Nem prestei atenção no que estava passando, mas sabia que o filme não era o problema.

Damian, sendo Damian, respondeu de forma rápida e seca.

— O filme é irrelevante. Estamos apenas... relaxando.

Astrid riu levemente, mas ficou em silêncio. Eu podia ver a hesitação em seus olhos. Ela gostava dele, e era evidente. E, bem, Damian era Damian. Ele tinha uma muralha de aço ao redor dos sentimentos, mas a verdade era que ele também sentia algo por ela. E por mais que fosse irritante às vezes, eu sabia que era hora de dar aquele empurrãozinho.

— Relaxando, hein? — Eu disse com um sorriso maior. — Bom, vocês merecem. Depois de tudo o que passaram... foi uma semana difícil.

Damian olhou de canto de olho para mim, como se estivesse percebendo onde eu queria chegar. Astrid parecia um pouco mais confusa, mas continuava prestando atenção.

— Sabe, Damian... — Eu disse, mudando de posição para parecer mais relaxado. — Você nunca foi o cara mais aberto, mas, se tem uma coisa que aprendi com o Bruce, é que trabalhar em equipe e confiar nas pessoas ao seu redor faz toda a diferença.

Ele cruzou os braços e fez uma expressão de quem já sabia onde a conversa iria dar, mas eu continuei.

— Quero dizer, claro, cada um de nós tem suas próprias batalhas internas, mas às vezes é bom... deixar as pessoas entrarem. E eu tô falando de algo mais que só nas missões, sabe?

Astrid olhou para mim com curiosidade, e eu pude ver que ela estava captando o que eu queria dizer. Damian, por outro lado, se mantinha impassível, mas eu percebi que ele estava ouvindo.

— Ah, e, Damian, — continuei, agora me levantando e dando uma volta pela sala. — Lembra quando eu comecei a sair com Barbara? Eu era tão teimoso quanto você. Queria resolver tudo sozinho, achava que abrir espaço para outras pessoas significava fraqueza. Mas ela me mostrou que, na verdade, isso era força. Porque confiar em alguém é... bom, muito mais complicado do que sair socando bandidos.

Eu dei um olhar rápido para Astrid, que estava agora visivelmente mais atenta ao que eu dizia.

— Vocês dois formam uma ótima dupla. — Continuei, voltando a me sentar. — Não só como parceiros de missão, mas... bem, vocês têm uma sintonia que não se encontra facilmente.

Damian me olhou com um misto de impaciência e desconforto. Era o jeito dele de dizer "Eu sei do que você está falando, mas não quero admitir". Típico.

— Dick... — Ele começou, mas eu o cortei.

— Não, não. Deixa eu terminar. O que eu tô tentando dizer, Damian, é que às vezes a gente precisa parar de lutar contra o que estamos sentindo e deixar as coisas seguirem o curso natural. Astrid está aqui, do seu lado, em tudo isso. Vocês já passaram por um monte de coisa juntos, e o que falta agora é vocês dois... reconhecerem isso. Simples assim.

O silêncio caiu na sala por um momento, e eu esperei para ver se algum dos dois ia falar algo. Claro que Damian não diria nada de imediato, mas ele parecia mais pensativo do que nunca. Astrid, por sua vez, sorriu levemente, como se estivesse entendendo exatamente o que eu queria dizer, mas sem querer pressionar o momento.

Eu me levantei e dei um leve tapinha no ombro de Damian.

— Bem, eu já falei demais por uma noite. Pensem no que eu disse, e talvez... sei lá, deem um passeio lá fora. O ar fresco ajuda a clarear a mente.

Damian me lançou um olhar de pura resignação, enquanto Astrid, ainda sorrindo, balançou a cabeça em agradecimento. Eu sabia que tinha plantado a semente certa. Agora era só esperar.

Enquanto eu me afastava, ouvi Damian suspirar e finalmente se dirigir a Astrid.

— Ele é um idiota, mas... talvez tenha razão em parte.

Astrid riu, e aquele foi o som que me fez perceber que tudo estava no caminho certo.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora