fifty two

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Eu estava deitada ao lado de Carina, meus dedos deslizavam suavemente pelo tecido do lençol enquanto sentia a respiração dela ao meu lado.

– Eu vou ter que fazer aquela cirurgia – falei quebrando o silêncio.

– Você tem certeza? – ela perguntou sempre cautelosa quando o assunto era esse — Não quer uma opinião de outro médico?

– Eu estou cansada de médicos — suspirei — A Jules tem a melhor equipe possível e eu confio neles, não acho que outro médico vá fazer diferença.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, analisando o que eu dizia, até que assentiu lentamente.

– O que você decidir eu vou apoiar.

O silêncio voltou por alguns instantes até que soltei uma risada alta, tentando aliviar o peso da conversa.

– Se não der certo dessa vez... – eu falei entre o riso – acho que vou cortar a perna fora e ficar igual à Arizona.

Carina não riu e me deu um empurrão no ombro

— Para de falar merda — ela disse revirando os olhos.

Eu segurei sua mão dando um beijo leve nos seus dedos mas sua expressão mudou completamente.

– O que foi? – perguntei me sentindo um pouco culpada.

Ela balançou a cabeça, mas eu sabia que tinha algo errado.

– Nada – ela respondeu desviando o olhar.

– Carina, fala sério, o que aconteceu?— insisti e ela respirou fundo hesitando.

– Não sei por que você foi falar da Arizona... – ela disse baixinho quase como se não quisesse que eu ouvisse.

Eu comecei a rir imediatamente, uma gargalhada que saiu de forma espontânea, sem controle.

– Não acredito que você tá com ciúmes da Arizona! — falei entre risos.

– Não é ciúmes – ela se defendeu rapidamente o rosto ficando visivelmente mais tenso.

– Se eu soubesse que você ia ficar assim tão ciumenta, eu teria comido você com um cinto antes – sussurrei no seu ouvido.

A expressão dela mudou novamente, num segundo, ela estava irritada e no outro já estava levantando da cama, indo em direção ao banheiro.

– Ah, não! Carina, eu estava brincando! – chamei, vendo ela caminhar rápido.

Quando ouvi o som da porta batendo suspirei, sentindo que tinha passado dos limites, levantei e fui até a porta do banheiro tentando abrir, mas ela tinha trancado.

– Carina, abre a porta – pedi encostando a testa contra a madeira fria.

– Não – respondeu com a voz abafada do outro lado.

– Ok – disse suspirando e ficando em silêncio.

O silêncio se arrastou por alguns segundos, então, ouvi a voz dela novamente, mais suave dessa vez.

– Desculpa... eu tô sendo infantil... é a TPM.

Eu sorri suavemente encostando o ombro na porta e passando a mão pelos cabelos.

– Ei, amor, todo mundo tem dias assim, tá tudo bem – disse com suavidade – Você quer que eu faça um chá ou algo assim? Posso fazer o seu chá preferido

Eu ouvi um pequeno suspiro do outro lado e a porta finalmente se destrancou. Carina apareceu com um olhar arrependido mas eu só consegui sorrir, eu entendia, ela estava vulnerável e eu também estava.

– Faz o de camomila – Carina respondeu com um biquinho que eu amava, eu assenti e fui para a cozinha, enquanto ela ficava para trás por alguns momentos.

Abri o armário pegando o saquinho de chá e colocando a água para ferver, estava cansada mas queria fazer algo para aliviar o humor dela.

Enquanto esperava a água senti a presença de Carina chegando logo atrás de mim. Quando me virei, ela já estava sentada no balcão, balançando as pernas como uma criança, o rosto dela estava mais tranquilo, mas ainda havia algo nos olhos dela que me dizia que a tempestade ainda não havia passado por completo.

– O que foi? – perguntei, abrindo um sorriso para tentar aliviar a tensão e Carina respirou fundo antes de falar, como se estivesse escolhendo as palavras.

– Fiquei insegura – ela confessou os olhos baixando por um momento. – Você é tão popular Maya, já teve tantas mulheres e parece que todas elas te querem.

Ela olhou para mim com uma expressão séria quase como se esperasse que eu fosse negar mas eu sabia que ela estava falando a verdade.

Suspirei me aproximando dela, coloquei minhas mãos sobre as pernas dela que ainda balançavam levemente, e olhei bem nos olhos dela.

– Sim, eu já tive muitos casos – comecei tentando ser o mais honesta possível. – Mas Carina, quem eu quis ficar de verdade foi você, quem eu disse que amo foi você.

Ela piscou, como se estivesse processando minhas palavras e depois olhou para baixo novamente.

– Não estou duvidando dos seus sentimentos – ela disse baixinho – É uma insegurança minha... sei lá, às vezes parece que eu não sou suficiente, especialmente quando vejo como as mulheres te olham.

Eu balancei a cabeça me inclinando para beijar sua testa.

– Eu sabia que você teria essa opinião, trabalhando no hospital, com todo mundo que pensa isso de mim – continuei. – Mas eu escolhi você, Carina e parece que você está duvidando disso.

Ela abriu a boca para protestar, mas eu coloquei um dedo em seus lábios.

– Espera – falei suavemente. – Eu sei que você não quer duvidar, mas às vezes parece que você duvida e eu preciso que você confie em mim, confie no que estamos construindo.

Carina respirou fundo segurando minha mão que ainda estava no rosto dela, ela apertou levemente, como se precisasse de um ponto de apoio.

– Eu não quero brigar – ela falou– A gente acabou de começar esse relacionamento, estamos em uma viagem incrível... eu só quero aproveitar, não quero um clima chato entre a gente.

– Não vamos brigar, só estou te lembrando de que você é a única que importa pra mim.

Carina sorriu de volta os olhos ainda com um brilho de insegurança, mas havia algo mais ali, ela sabia que estava sendo irracional mas às vezes os sentimentos são difíceis de controlar e eu entendia isso.

A água começou a ferver o som suave da chaleira quebrando o silêncio entre nós.

– Vou preparar seu chá – falei me afastando um pouco para cuidar da bebida.

Senti o olhar dela me seguindo enquanto mexia nas xícaras e no saquinho de chá, mas já havia uma leveza no ar que antes não existia.

Eu sabia que Carina precisava ouvir que eu estava ali por ela que, apesar do meu passado, meu presente e futuro eram com ela.

– Você sabe que você é a única, né? – perguntei, enquanto me aproximava com a xícara quente nas mãos.

Carina sorriu e acenou com a cabeça, eu entreguei o chá para ela e aproveitando o momento para passar a mão pelo cabelo dela de forma carinhosa.

– Sim, eu sei, só preciso que você me lembre de vez em quando – ela respondeu uma voz manhosa tomando um gole do chá.

Amizade Colorida - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora