forty nine

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Depois do nosso café da manhã no jardim, levei Maya até meu antigo quarto para que pudéssemos desfazer as malas. O quarto estava quase como eu o deixei anos atrás, com pequenas mudanças feitas provavelmente pelo Andrea para receber visitas. As paredes ainda tinham o mesmo tom suave de azul e alguns dos meus antigos pôsteres de bandas italianas ainda estavam colados na parede.

—Sua casa é incrível — Maya comentou enquanto colocava suas roupas no armário, sorri sentindo uma onda de nostalgia enquanto observava a familiaridade do meu antigo espaço.

— Passamos todas as férias aqui, na infância, era apenas a nossa casa de verão até que meu pai finalmente a comprou — expliquei pegando uma blusa minha e dobrando com cuidado.

— Você não fala muito sobre seu pai — ela falou e eu senti um pequeno aperto no peito ao ouvir a menção dele, e suspirei evitando seu olhar por um momento.

— Não gosto de tocar nesse assunto... — admiti, sabendo que meu relacionamento com meu pai sempre foi complicado e cheio de dramas que eu não queria reviver.

— Então, não sou só eu que tem daddy né ? — ela disse, com um sorriso brincalhão no rosto e eu não consegui evitar rir.

— Acho que isso é algo que temos em comum — respondi dando um bocejo em seguida.

— Você tá morrendo de sono né? — ela me olhou enquanto fechava a mala vazia.

— Fuso horário acabando comigo.

— Eu viajei tanto quando era atleta que nenhum fuso mexe comigo mais — ela falou — Vamos tomar um banho e descansar um pouquinho.

Logo estávamos no banheiro a água caindo sobre nós como uma bênção, o banheiro do meu quarto era espaçoso, com azulejos de mármore e um grande chuveiro. Entrei primeiro sentindo a água quente relaxar meus músculos tensos enquanto Maya me seguia, eu me virei para ela estendendo a mão para que ela pudesse se juntar a mim debaixo do chuveiro.

— Você tá tão linda — falei com um sorriso enquanto passava as mãos pelos seus ombros, sentindo a água escorrer pelo seu corpo e Maya riu se inclinando para me dar um beijo na bochecha antes de passar os dedos molhados pelo meu cabelo, tirando alguns fios molhados do meu rosto.

— Acho que você está tentando me seduzir com essa conversa. — ela respondeu com um tom brincalhão, os olhos brilhando.

— Jamais, tesoro... apenas apreciando a vista. — respondi com um sorriso de canto.

Não havia pressa em nossos movimentos, nem segundas intenções o toque entre nós era leve, carinhoso, quase inocente. Enquanto lavávamos o cabelo uma da outra, brincávamos com a espuma do shampoo, trocando beijos suaves e risadas eu sentia uma paz genuína em estar assim com Maya, simplesmente compartilhando um momento de intimidade que não precisava de mais nada além do que já era.

Quando terminamos saímos do chuveiro e nos secamos, vesti uma camisola leve e fui para a cama e me deitei esperando por ela, Maya logo se juntou a mim, vestindo uma camiseta confortável e shorts e se deitou ao meu lado, me puxando gentilmente para seu peito.Me aninhei contra ela sentindo o calor de seu corpo e o ritmo constante de sua respiração, era fácil ficar assim, apenas sentindo a presença dela.

— Me conta um pouco mais sobre a sua carreira no atletismo — pedi levantando o rosto para olhar para ela.

— Deixa eu pensar ... — ela começou — Acho das minhas memórias mais marcantes foi quando ganhei minha primeira medalha olímpica em 2016.

Me ajeitei para olhar para ela vendo o brilho nos seus olhos enquanto relembrava aquele momento.

— Foi nos Jogos do Rio, eu me lembro da adrenalina, da expectativa, do barulho da multidão... — ela fez uma pausa, como se estivesse revivendo aquele instante. — Quando cruzei a linha de chegada e percebi que tinha vencido, foi como se o mundo parasse por um segundo. Tudo o que eu havia sacrificado, todas as vezes que treinei até a exaustão... tudo valeu a pena.

— Deve ter sido surreal — comentei sentindo a emoção nas palavras dela e ela concordou com um sorriso suave.

— Foi mais do que surreal, Carina, aquele momento mudou minha vida foi ali que eu percebi o quanto eu amava correr, foi a primeira vez que senti que poderia fazer algo incrível e não apenas por causa do meu pai, mas por mim mesma — ela fez uma pausa, olhando para o teto como se estivesse se perdendo nas memórias.— Por muito tempo, correr era uma forma de tentar agradar o meu pai, de não chatear ele mas, naquele dia eu percebi que correr poderia ser algo positivo, algo só meu, que poderia ser um jeito de transformar tudo o que passei em algo bom, algo que me fortalecesse, longe das sombras dele.

— Isso é incrível bambina — eu falei admirada com a força dela.

—Perceber que poderia ser feliz correndo, sem sentir que estava fugindo de algo — ela disse seus olhos voltando a me encontrar. — E foi aí que decidi que minha vida, minha carreira, seria sobre isso: encontrar felicidade em algo que eu amava, sem deixar meu passado me definir.

Me inclinei e beijei ela delicadamente sentindo um misto de orgulho e admiração por essa mulher que havia passado por tanto e ainda assim, conseguia encontrar uma forma de seguir em frente com tanta vontade.

— Estou tão feliz que você encontrou isso Maya e ainda mais feliz que agora você pode compartilhar tudo isso comigo — falei acariciando seu rosto com carinho e ela sorriu.

— E eu sou grata por ter você ao meu lado, Carina.

Abracei ela mais forte, me sentindo verdadeiramente sortuda por estar ali, compartilhando esses momentos e as histórias que a tornaram a pessoa incrível que é hoje.

Acordei algumas horas depois percebendo que já era noite, Maya ainda dormia pesadamente, seus cabelos loiros espalhados sobre o travesseiro e sua respiração tranquila me acalmava de uma forma que eu não esperava. Eu passei a mão nos seus fios de cabelo, os dedos deslizando suavemente, sem pressa, apenas aproveitando o momento. Olhei para o rosto dela, agora sereno e relaxado no sono, parecia quase inacreditável o quão confortável e segura eu me sentia ao lado de Maya, nunca havia experimentado isso antes, essa sensação de pertencimento, de que eu estava exatamente onde deveria estar.

Cada momento com ela me fazia sentir mais conectada, mais completa, enquanto eu continuava o leve cafuné, meus pensamentos vagaram por tudo o que compartilhamos até agora, as risadas, as conversas, os momentos de carinho, o sexo incrível e até os desafios que enfrentamos. Tudo isso parecia me levar a um ponto em que eu começava a entender algo que antes me assustava: o amor, era como se pouco a pouco sem que eu percebesse, Maya tivesse aberto uma porta dentro de mim que eu mantive fechada por muito tempo, talvez por medo, talvez por incerteza mas agora, deitada ao lado dela, sentindo o calor do seu corpo contra o meu, algo se tornava mais claro: eu realmente a amava.

Amava sua força, sua determinação, mas também amava sua vulnerabilidade, as partes dela que poucos conheciam, mas que eu tive o privilégio de ver e mais do que isso, sentia que estava pronta para abraçar esse sentimento, para começar algo verdadeiro, algo que não envolvesse mais medos ou reservas, eu estava pronta para dizer a Maya o quanto ela significava para mim, o quanto ela tinha mudado minha vida.

Amizade Colorida - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora