Acordei com um telefone tocando sem parar no meu ouvido, uma fina dor de cabeça indicava as poucas horas de sono. Sabia que aquele toque não era do meu celular. Cutuquei Arizona, dizendo que o celular dela estava tocando.
— Arizona, seu celular está tocando sem parar. Você não vai atender? — perguntei, esfregando os olhos para afastar o sono.
Ela deu um pulo da cama quando viu a hora e começou a procurar uma roupa às pressas.
— Meu Deus, Maya, olha que horas são! Estou super atrasada para o plantão! — ela exclamou, enquanto vasculhava o guarda-roupa.
Sentei na cama, ainda tentando despertar completamente, e comecei a calçar meus tênis.
— Pensei que você estivesse de folga hoje — comentei, levantando uma sobrancelha.
— Não, hoje é meu dia de trabalho. Mas nunca achei que dormiríamos tanto assim — ela respondeu, vestindo uma blusa às pressas.
Terminamos de nos arrumar rapidamente. Eu sabia que precisava levar Arizona ao hospital, afinal, a culpa era minha por termos dormido tanto.
Ao chegarmos no Grey Sloan, encontramos Amélia na recepção. Ela não disfarça a irritação ao ver Arizona comigo.
— Olha só quem resolveu aparecer! Já está se deixando levar de novo pelo que não faz bem para você? Devia ter cortado isso da sua vida faz tempo — Amélia dispara, sem cerimônias.
Percebo que estão falando de mim, então, com um sorriso irônico, comento.
— Parece que sou o lobo mau, levando a pobre Arizona para o mal caminho.
Amélia respira fundo, tentando manter a calma.
— Não é isso, Bishop. Você sabe que a Arizona já teve sentimentos por você e mesmo assim continua indo atrás. Não tem responsabilidade afetiva — ela responde, com sinceridade.
Reviro os olhos, cansada de ouvir esse tipo de comentário de pessoas que não sabem nada sobre a nossa relação.
— Já ouvi demais disso de alguém que não sabe nada sobre nós — retruco, cruzando os braços.
Antes que a conversa possa continuar, uma enfermeira se aproxima de mim.
— Bishop, seu pai está esperando por você na sala dele — ela avisa.
Sinto a bile subir na minha garganta, imaginando tudo que ele poderia me dizer eu realmente não estava preparada pra ouvir uma enxurrada de ofensas do meu pai, hoje não.
— Muito obrigada Dra Robbins — dou um sorriso irônico — É ótimo saber que posso confiar em você pra manter a minha vida particular fora do hospital.
— Eu só falei pra Amélia — ela se defendeu.
— Eu não contei pra ninguém — Amélia disse — Alguém deve ter me ouvido falar com Arizona no telefone e bom, você sabe como as notícias correm aqui.
Eu dou uma risadinha sabendo que sempre é fácil ter uma desculpa pra tudo, ninguém está na minha pele. Mas já é tarde demais para lamentações, tudo sempre chega até o meu pai, afinal, ele parece ser o epicentro de tudo o que acontece em minha vida.
— Sem problemas — dou uma risada forçada.
— Desculpa, May, eu realmente não queria que isso acontecesse — Arizona diz com um sorriso triste.
— Eu sei — respondo, suavizando meu tom. — Mas agora preciso encarar o que quer que meu pai tenha a dizer — digo, me preparando para a conversa difícil que me aguarda.
Com isso, viro as costas para as duas médicas e sigo em direção à sala do meu pai, pronta para enfrentar o que quer que venha pela frente.
Eu saí da sala do meu pai, sentindo como se meu mundo tivesse desabado ao meu redor. Cada palavra que ele proferiu cortou fundo em minha alma, me deixando em pedaços, era uma dor familiar, mas não menos devastadora do que da última vez em que estive nesse lugar, meses atrás. Desta vez, no entanto, foi meu próprio pai quem me empurrou para esse abismo emocional, não James.
Ao sair, dei de cara com os olhos profundos e compassivos de Carina. Ela segurou meu braço suavemente, mas eu só queria fugir e me esconder, não queria que ela me visse naquele estado. Tentei puxar meu braço para me soltar, mas ela não deixou. Suas palavras chegavam aos meus ouvidos como murmúrios distantes, enquanto eu me debatia para escapar.
De repente, senti mais duas mãos seguras envolverem minha cintura, me levando para algum lugar. Ainda podia sentir o toque firme de Carina em meu braço, enquanto éramos conduzidas. Logo ouvi uma porta se fechar atrás de nós, e Carina me abraçou com firmeza, seus dedos fazendo um cafuné reconfortante em meus cabelos.
No calor de seu abraço, me deixei desabar. As lágrimas que eu segurava com tanto esforço finalmente vieram, me inundando com uma avalanche de emoções reprimidas. Não sei quanto tempo ficamos ali, abraçadas, enquanto eu despejava todo o peso da minha angústia.
— Va tutto bene, va tutto bene, io sono qui e tu sei al sicuro — ela sussurrava no meu ouvido em italiano.
Finalmente, aos poucos, me afastei dos braços de carinho. Ela me ofereceu um sorriso gentil e, com ternura, enxugou minhas lágrimas. Eu me sentia frágil e vulnerável, mas também grata por sua presença reconfortante. Naquele momento de dor intensa, sua amizade era o que eu mais precisava.
— Desculpa por isso — Aponto para o seu jaleco molhado pelas minhas lágrimas.
— Não se preocupe, está tudo bem — Carina responde, sua expressão suave.
Ela se levanta e enche um copo de água, me entregando com gentileza.
— Está se sentindo melhor? — Ela pergunta, com um olhar preocupado.
Sim, um pouco — respondo, aceitando o copo.
Carina sorri, aquele sorriso reconfortante que sempre parece acalmar a tempestade dentro de mim.
Seu pager toca e ela desliga, rapidamente.
— Eu vou pra casa, você precisa trabalhar e eu não vou mais te atrapalhar. — falei me levantando rapidamente.
— Não, eu não vou deixar você ir embora sozinha assim — ela diz com determinação.
— Eu estarei bem — insisto. — Andy está em casa.
— Então me passa o telefone da Andy, para eu garantir — ela pede e eu falo para ela.
— Obrigada — ela diz, anotando o número. — Podemos conversar mais tarde?
Respiro fundo antes de concordar
— Sim, bom você merece saber depois de tudo isso — falo se referindo a minha crise.
— Não precisa se sentir pressionada a nada tá bom?
— Não é pressão — eu explico — Estou realmente me sentindo confortável.
— Fico feliz com isso — ela sorri mas logo muda de expressão — Mas Maya... O seu pai não pode te tratar dessa maneira, em hipótese alguma.
— Eu estou acostumada — murmuro, mas suas palavras ainda ecoam em minha mente.
— Você não pode se acostumar com esse tipo de tratamento — ela argumenta com firmeza.
Seu pager toca novamente nos interrompendo, e ela se prepara para sair.
Antes que ela vá, seguro sua mão e me aproximo do seu ouvido.
— Não que seja alguma satisfação, mas queria que você soubesse que eu não transei com a Arizona hoje.
Ela me olha surpresa, mas um sorriso fraco aparece em seu rosto antes que ela saia.
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Amizade Colorida - Marina
Fiksi PenggemarCarina DeLuca, uma renomada obstetra italiana que se encontra no auge de sua carreira e confortável em sua vida na ensolarada Sicilia. Enquanto isso, Maya Bishop, uma dedicada ex-atleta americana é encarregada de uma missão desafiadora: persuadir a...