four

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"Você só estraga tudo, como sempre dormindo com todas as minhas funcionárias como uma vagabunda Maya. Além de estar a meses em casa sendo uma inútil após estragar a sua carreira."

As palavras afiadas de meu pai ecoavam como lâminas cortantes em minha mente durante o trajeto de volta para casa, um tormento que se estendia por quase um ano. A indiferença dele desde o acidente era como uma ferida aberta, uma ausência de cuidado que doía mais a cada dia. Sua primeira preocupação não foi se eu estava viva, mas se eu poderia voltar a correr. E minha mãe, era uma eterna submissa a Lane Bishop, sempre se mantinha em silêncio, incapaz de se opor. Como permiti que essa situação se prolongasse por tanto tempo?

Ao estacionar o carro, suspirei profundamente, antecipando a tempestade de insultos que se desencadearia ao cruzar aquela porta. E, inevitavelmente, foi exatamente o que aconteceu.

- Me dá essa chave - ele arrancou da minha mão - Você não tem autorização para dirigir o meu carro! Quer destruir igual você fez com o seu? Já que sua especialidade é destruir as coisas.

Andei até a cozinha, os passos dele ecoando atrás de mim, a voz impregnada de raiva.

- Não quero que você se aproxime mais daquela médica, ok? Você não vai estragar mais nada na minha vida.

- Eu convenci a DeLuca a ficar, pai. Você deveria se lembrar disso - retruquei, impaciente, enquanto enchia um copo de água e organizava meus remédios.

- Acha que fez muito? - ele riu - Qualquer um aceitaria o Grey Sloan.

- Ela não estava muito convencida, não viu? - rebati - Estou indo dormir.

- Não acabei de falar, Maya!! - ele aumentou o tom de voz.

- Não quero mais ouvir! Estarei indo para o meu quarto dormir; amanhã tenho fisioterapia cedo - declarei, virando as costas e seguindo em direção ao corredor dos quartos.

- Seu? - ele falou - Acha que alguma coisa é sua ainda, Maya? Você não tem nada! É sustentada aqui dentro da minha casa.

A gota d'água fez o copo da minha paciência transbordar.

- Sua casa??? - me virei para ele - A casa que você praticamente perdeu quando quase faliu a empresa? Quem pagou a hipoteca dessa casa, pai? Quem quitou todas as dívidas atrasadas que você fez no nome da nossa família? - gritei, a indignação fervendo.

- Eu te sustentei a vida inteira, garota! O mínimo que fez foi o mínimo! - ele gritou - Sustentei e continuo te sustentando, já que você não tem mais um real da sua grandíssima carreira.

- Sabe muito bem que a história não é essa - falei com faíscas de raiva nos olhos. - Não vai usar isso contra mim! E quer saber, não precisa mais me sustentar, estou indo embora.

Abri a porta do quarto com força, pegando a mala no closet e abrindo sobre a cama, decidida a não tolerar mais aquilo.

- Filha, espera - ouvi a voz suave da minha mãe - Não vai sair tarde da noite, vocês estão de cabeça quente, amanhã conversam.

- Não, mãe! - falei - Estou indo, diferente da senhora, não preciso aguentar isso! Nunca precisei, vou embora.

- Deixa essa ingrata ir, Katherine - meu pai disse.

- Muito ingrata, claro - ironizei, fechando a mala e saindo do quarto.

- Escuta aqui - ele disse enquanto eu passava - Se sair por essa porta, saiba que nunca mais irá entrar novamente.

- Prefiro morar embaixo da ponte do que voltar para sua casa - cuspi as palavras.

Saí pela porta, apertando o botão do elevador diversas vezes.

Amizade Colorida - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora