thirty nine

627 90 59
                                    

Chegando no meu apartamento eu sentia como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros, cada passo parecia mais difícil que o anterior. Maya me ajudou a entrar e fechou a porta atrás de nós.

— Você quer comer alguma coisa? — Maya perguntou com a voz cheia de preocupação.

— Não, eu só... eu só quero dormir e esquecer tudo isso — respondi soando mais frágil do que eu gostaria.

Nos sentamos no sofá, o silêncio preenchendo o espaço entre nós, eu podia sentir a raiva que emanava da Maya, sua mandíbula estava tensa, e os punhos, cerrados. Ela estava tentando segurar as emoções, mas o olhar fixo em um ponto distante me dizia tudo o que eu precisava saber.

— Eles não podem sair impunes, vou dar um jeito de identificar cada um deles — ela murmurou, com a voz baixa e carregada de raiva.

— Maya, por favor, deixa isso para a polícia. Eles vão resolver — tentei acalmar ela colocando a mão suavemente no seu braço.

— Não, eles não sabem o que estão fazendo, eu vou fazer com que paguem por isso — ela retrucou os olhos brilhando com lágrimas de raiva.

Um nó se formou no meu estômago, a intensidade nos olhos de Maya me preocupava profundamente eu sabia que ela podia se meter em encrenca quando estava com raiva.

Bambina você precisa se acalmar, não pode deixar essa raiva consumir você — implorei tentando alcançar o rosto dela com uma mão.

De repente Maya se levantou a frustração explodindo em sua voz.

— Eu te amo, Carina! — ela praticamente gritou sua voz ecoando pelo apartamento como um trovão.

Senti um choque percorrer meu corpo, as palavras de Maya se repetindo na minha mente, ela continuou como se fosse incapaz de parar agora que havia começado.

— Eu te amo de um jeito que nunca amei ninguém, eu não consigo suportar a ideia de que alguém poderia ter te machucado hoje quando eu ouvi aqueles gritos, quando eu vi você naquela situação, algo dentro de mim quebrou. E essa raiva que eu sinto... é porque eu não suportaria te perder. Não suportaria que algo acontecesse com você e eu não estivesse lá para impedir.

Ela fez uma pausa, as lágrimas agora escorrendo livremente pelo rosto.

— Carina, eu sei que posso ser intensa, que às vezes eu não penso antes de agir mas isso é porque você significa muito para mim. E eu não sei o que faria se você não estivesse aqui.

Eu paralisei naquele momento eu só queria responder mas estava sem palavras, meu coração batendo descontroladamente no peito, e o meu silêncio foi mal interpretado por ela que deu um passo para trás os olhos se enchendo de tristeza.

— Eu preciso sair para pensar — Maya disse com a voz baixa e tremula.

— Não, por favor, não vai, eu não quero ficar sozinha — implorei me levantando rapidamente e segurando o braço de Maya.

— Eu não vou longe, só preciso de uns minutos para pensar, ok? eu ainda vou cuidar de você — ela respondeu com um fio de voz, meu coração se apertou ao ver o carinho por trás do olhar quebrado.

— Eu só fiquei em choque com a sua declaração repentina, aconteceram tantas coisas hoje mas eu  quero conversar sobre isso — falei tentando manter a voz firme, apesar do turbilhão de emoções dentro de mim.

Maya assentiu levemente antes de sair, assim que a porta se fechou, senti minhas pernas fraquejarem e escorreguei pela parede, as lágrimas descendo pelo meu rosto. Todo o peso do ataque, a dor nos olhos de Maya e a confusão de meus próprios sentimentos me esmagaram de uma só vez.Sabia que também sentia algo forte por Maya, algo que me aterrorizava admitir para mim mesma, mas que estava ali, queimando dentro de mim, inegável e intenso.

Alguns minutos depois, a campainha tocou e eu levantei num pulo com o coração acelerado. Abri a porta, esperando ver Maya mas em vez disso, me deparei com uma garotinha, que me olhava com uma sobrancelha erguida.

— Você é Carina DeLuca? — a menina perguntou, sua voz inocente contrastando com a tempestade de emoções dentro de mim.

— Sim, sou eu e quem é você? O que está fazendo aqui sozinha? — perguntei minha voz refletindo a confusão e o cansaço do momento.

A menina entrou e se sentou no sofá como se já conhecesse o lugar, ela olhou ao redor com curiosidade antes de se voltar para mim.

— Estou no lugar certo então — ela disse com um aceno de cabeça, como se estivesse confirmando para si mesma.

— Quem é você? E por que está aqui sozinha? — perguntei novamente, agora mais preocupada.

— Eu sou a Sophie, estou esperando por alguém — respondeu com a naturalidade de quem está apenas esperando o ônibus.

— Só eu moro aqui, quem você esta esperando? — minha preocupação aumentando a cada segundo.

A menina revirou os olhos claramente achando a minha pergunta absurda.

— A Maya Bishop é óbvio, como você não sabia disso? Pensei que você fosse mais inteligente — disse ela, cruzando os braços e me olhando com uma expressão desafiadora.

Fiquei sem palavras por um momento, tentando processar tudo. Maya nunca mencionou uma criança chamada Sophie na verdade ela nunca mencionou criança nenhuma e  eu estava preocupada e confusa, mas ao mesmo tempo, havia algo na atitude de Sophie que me fazia acreditar que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

— Eu estou com sede — ela falou me olhando.

— Eu... vou pegar um suco pra você, fica aqui, não saia, ok? — falei, tentando ganhar tempo para entender melhor a situação.

Sophie apenas assentiu, como se estivesse acostumada a esperar.

Fui para a cozinha, minhas mãos tremendo enquanto pegava um copo e o suco, quem era essa menina? E por que ela estava aqui, esperando por Maya? A presença dela apenas aumentava a confusão e o turbilhão de emoções que já estava dentro de mim.Enquanto enchia o copo, minha explodia de perguntas sem respostas, quando voltei para a sala, Sophie estava calmamente olhando ao redor, como se estivesse familiarizada com o ambiente.

— Aqui está seu suco — disse, entregando o copo a ela.

— Obrigada. — Ela respondeu, pegando o copo e bebendo com tranquilidade.

Eu me sentei no sofá ao lado dela, ainda tentando processar tudo, Sophie continuou a beber seu suco alheia à tempestade de emoções que estava me consumindo eu precisava de respostas e a única pessoa que poderia me dar essas respostas era Maya e ela não estava aqui.

— Sophie, você disse que está esperando a Maya, certo? — perguntei tentando confirmar.

— Sim, o seu porteiro me disse que ela voltaria logo. — ela respondeu sem tirar os olhos do copo.

A resposta dela me deixou ainda mais intrigada, eu precisava falar com Maya imediatamente. Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para ela, esperando que ela voltasse logo. As perguntas se acumulavam em minha mente, e a única coisa que eu sabia com certeza era que a presença de Sophie estava prestes a complicar ainda mais o que já era um dia extremamente complicado e eu só esperava que essa criança não fosse filha dela.

Amizade Colorida - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora