Capítulo 1 - O despertar

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O cheiro de desinfetante entrava nas narinas do rapaz. Tentava abrir os olhos, suas pálpebras estavam pesadas. O barulho do eletrocardiográfico o incomodava. Percebeu-se que estaria num quarto de hospital. A luz o cegou por instantes, enquanto entreabria os olhos lentamente.

Olhou em volta, não lembrava como chegara ali. Tentou se mover, tentando sair dali. Arrancou do corpo os cabos do eletrocardiográfico, o oxímetro de pulso e o cateter do braço. Estava nervoso, tudo o que queria era sair mais depressa possível. A única coisa que conseguiu causar fora o barulho estridente dos aparelhos.

_ Chamem a Doutora. – Gritava uma auxiliar de enfermagem- O paciente 15 acaba de acordar do coma.

_ Quero sair daqui! – O rapaz gritava. Irritado.

_ E está nervoso. - Outra auxiliar – O que faremos enfermeira Kaori?

_ Segurem-o! Enquanto os outros aplicam o calmante.

Dois auxiliares seguraram ambos os pulsos do garoto, outros dois pressionavam o dorço deste contra a cama. Três outros tentavam aplicar o calmante. Ele, cansado e desnorteado, não pode impedir.

_ Está sem acesso. Vamos ter que dar intramuscular, o segure mais um pouco.

Aos poucos sentiu seu corpo pesar novamente, era uma sensação de imponência, seus batimentos cardíacos foram abaixando, esse era o efeito de um calmante.

_ Doutora Inoue! – Enfatizava a enfermeira chefe – Tivemos que calmá-lo.

_ Tudo bem, obrigada – Falou, sempre com uma voz doce.

O rapaz, imediatamente reconheceu aquela voz. Direcionou o olhar rapidamente para os pés da cama, o que resultou numa leve tonteira. Viu uma bela moça com madeixas alaranjadas e olhos tempestuosamente gentis.

_ Olá, como está se sentindo? – Dirigiu-se ao rapaz, aproximando-se até chegar ao lado de sua cabeça.

_ Como cheguei aqui? – Sua voz saiu baixa e meio grogue.

_ Você sofreu um acidente de moto à três semanas.

_ Três semanas? – Repetiu incrédulo. – Então isso quer dizer...

_ Você estava em coma. Um coma natural, como se seu próprio corpo desligasse para reparar.

Fechou os olhos para assimilar o que estava acontecendo, depois abriu e olhou novamente para moça.

_ Não me lembro do acidente, ou antes, dele.

_ Provavelmente você teve uma amnésia temporária. Mas você lembra-se de algum fato da sua vida?

_ Não. Sinto-me vazio. Não me lembro de nada, nem do meu nome.

_ Ichigo. Este é o seu nome.

Olhou supresso e ao mesmo tempo desconfiado para a moça.

_ Eu o socorri naquele dia. - Ela respondeu olhando diretamente o garoto.

_ Hmm...

_ Vejo que você já chegou aqui Orihime. – Um rapaz magro de óculos chegava ao bloco. - Como está o paciente?

_ Está progredindo o tratamento, Dr. Ishida. – virou para responder

_ Que bom. – parou de braços cruzados ao lado da moça. - Agora podemos fazer a tomografia para ver se houve algumas outras sequelas.

_ Algumas outras sequelas? – Ichigo entrou na conversa. Um pouco espantado.

_ Sim, se houve algum trauma no cérebro. – explicava o Doutor - Esse diagnostica só é possível fazer no paciente depois de despertado no coma.

_ Você teve sorte no acidente, a sua coluna não sofreu nenhum tipo de traumatismo. - Tentava tranquilizar o rapaz ao perceber o seu olhar de preocupação.

_ Ichigo. - Ishida ia saindo do bloco. - Pode ficar tranquilo, tudo ocorrerá bem.

_ Vou prescrever o exame, você fará ainda hoje.

_ Doutora... - A chamou. - Essa amnésia por acaso é permanente?

_ Não – Aproximou-se dele ficando ao seu lado novamente. - É temporária. Você pode lembrar aos poucos ou em um estalo. Pode ser uma palavra ou objeto fará lembrar-se de tudo. Isso é comum ocorrer após de algum acidente.

Ficou um tempo pensativo, tentou falar alguma coisa.

_ Ah! Que coisa minha! – Orihime fez um movimento de "palmface" que contrariou o rapaz. - Esqueci-me de apresentar, me chamo Inoue Orihime. – Sorriu gentilmente.

_ Obrigado. - respondeu o rapaz.

_ Huh? – Encarou-o diretamente.

_ Por ter me salvado naquele dia.

_Ah! Não precisa agradecer. - Interpretava os sinais vitais do rapaz. – O importante é que você está bem.

O silêncio reinava enquanto ela o examinava. Ele apenas observava suas feições, traços finos e delicados, parecia como os de um anjo. Tentava lembrar-se se a conhecia de algum lugar, mas não adiantou nada. A sua memória estava vazia.

_ Bom. Não tem nada com o que se preocupar, está tudo bem. – ela toca a mão do rapaz para trocar o oxímetro de dedo. – Melhor você descansar um pouco, afinal você teve um dia agitado. Pela manhã estará fazendo seus exames. Descanse.

_ Obrigado. - aperta um pouco a mão da moça.

_ Então até mais. - soltou a mão e retirou do bloco.

Ichigo observa o local antes de adormecer um pouco, acostumar com ambiente seria o melhor a se fazer naquele momento. Mesmo estando ali a três semanas, aqueles barulhinhos era um incômodo.

O CTI estava tranquilo, apenas umas auxiliares conversando:

_ Você ficou sabendo? O paciente 15 saiu do coma.

_ O primo da Doutora?

_ Vê como ele é sortudo? A própria prima socorrê-lo. Praticamente o salvou.

_ É mesmo. Aqui serão que eles são descentes de irlandeses para terem cabelos ruivos?

_ Huh? Não sei.

As duas foram se afastando. Somente uma parte da conversa o deixou intrigado: "primos". Aquilo poderia ser um ponto inicial da sua busca.

                                                                                                                                                   

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