Troca de Favores

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Caíque

Convenço Helena a me esperar na lanchonete do hospital e vou ao encontro de Armando, médico e antigo amigo de minha família.

— Armando, como vai? — Estendo a mão.
— Caíque! — Ele a aperta, amistoso. — Eu vou bem e você? Seus pais?
— Estamos bem, obrigado. — Dou um pequeno sorriso, que ele retribui com um tapinha amigo em minhas costas. — Entretanto, receio que minha visita hoje não seja tão agradável.
— Algum problema de saúde? — Armando cruza as mãos nas costas.
— Infelizmente sim, mas nada de minha família. Na verdade, trata-se de uma amiga.
— E como posso ajudá-lo?
— Você está cuidando dela aqui, seu nome é Camélia.
— Ah claro, Camélia Accorsi. Você a conhece?
— Ainda não, mas conheço Helena e sei o quanto Camélia é importante para ela.
— Helena é a moça bonita que estava na recepção?
— Creio que sim. Baixinha, cabelos escuros, sorriso bonito.
— Não a vi sorrindo, infelizmente. Mas foi tocante o modo como ela me pediu para salvar Camélia.
— É exatamente por isso que estou aqui. Vim lhe pedir que cuide de Camélia da melhor maneira possível, faça o que for necessário, Armando. Eu arcarei com todas as despesas.
— Gesto muito bonito o seu, Caíque. Essa moça, Helena, deve ser uma grande amiga.
— É. — Baixo os olhos. — Uma grande amiga.
— Camélia ficará bem. Estou indo agora mesmo para a sala de cirurgia. — Armando apoia a mão em meu ombro.
— Tenho certeza que sim. Ela está em ótimas mãos. Obrigado, Armando.
— Não há de quê. 

Despeço-me dele e volto ao encontro de Helena.

— Até que enfim você apareceu. — Ela se levanta da cadeira e vem em minha direção.
— Demorei tanto assim?
— Só o suficiente para eu tomar uma quantidade de café que me fará ficar acordada por, pelo menos, duas noites. — Ela aponta para a mesa, onde a xícara de seu último café ainda repousa.
— É, acho que demorei. — Dou uma pequena risada. — Mas foi por uma boa causa. Camélia já está indo para a cirurgia.
— Jura? — Ela me olha, sem acreditar.
— Sim. Acabei de falar com o doutor Armando, ele cuidará da operação de Camélia pessoalmente. É um excelente médico, um dos melhores da cidade. Vocês tiveram muita sorte em pegá-lo no plantão.
— Então eu preciso dar um jeito logo. — Helena comenta para si.
— Jeito? Para quê?
— Ah, para conseguir o dinheiro da cirurgia.
— Não se preocupe com isso, eu já cuidei de tudo.
— Como assim?
— Eu arcarei com todas as despesas de Camélia.
— Não, Caíque! De jeito nenhum! Eu não posso aceitar. É muito dinheiro! E você me disse mais cedo que seu pai bloqueou todos seus bens.
— Quase todos os meus bens. — Sorrio. — E não seja orgulhosa, estou fazendo isso por Camélia. Ela com certeza é uma grande mulher, merece uma segunda chance.

Assim que digo isso, Helena sorri. E nesse momento, vejo que a convenci.

— Você não aceitará um "não" como resposta, estou certa?
— Completamente.
— Caíque, eu nem sei como te agradecer. Eu... — Helena me abraça, deixando seu agradável perfume em mim. — Obrigada.
— Não foi nada. Qualquer um no meu lugar faria o mesmo.
— Eu lhe devolverei todo esse dinheiro. Não sei como, mas devolverei. — Ela se solta de meus braços.
— Você pode me pagar de outra forma e sabe disso. 

Helena fixa seus belos olhos em mim. Eu sorrio.

— Brincadeira.
— Então, quer dizer que você já conhecia o doutor Armando? — Helena muda de assunto. 
— Desde criança. Ele é o médico de nossa família e grande amigo de meus pais.
— Que coincidência. — Ela sorri.
— Pois é, parece que nós somos rodeados por elas. Agora vamos, temos que dar a boa notícia para os outros.

Helena consente, sorri e agradece a atendente da lanchonete do hospital.

Ao nos encaminharmos para a sala de espera, noto como ela irradia felicidade e esperança, e como ela fica impressionantemente mais bonita assim.

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