Dezesseis anos e o mundo para enfrentar. Esse era o meu desafio.
Durante meus últimos anos no colégio, passei a me dividir entre os estudos de manhã e o trabalho na cantina da escola na parte da tarde, período em que minha irmã estudava. Ganhava pouco mais de quatrocentos reais por mês e os salgados que sobravam, quando sobravam, no final do dia. Muitas vezes eles eram nosso jantar. Era com esse "salário" que eu ajudava a sustentar nossa casa, além dos trocados que ganhávamos com as flores de domingo, na feira da cidade.
Dona Camélia, grande amiga de nossa falecida tia, lutou até conseguir nossa guarda. Por eu ainda ser menor de idade, era considerada incapaz de chefiar um lar, segundo a assistente social, e seríamos obrigadas a viver em um orfanato, caso não conseguíssemos um guardião. Dona Camélia, como um anjo, nos amparou nessa difícil fase.
Como digna descendente de italianos, ela não abre mão da boa e velha macarronada no almoço de domingo, mesmo o médico a tendo proibido de ingerir carboidratos. Dona Camélia a prepara sempre com muito carinho, risadas e histórias divertidíssimas.
Ela se tornou nossa família e nós, a dela. Éramos sozinhas no mundo e quando nos encontramos, amparamos umas às outras.
Logo que terminei o ensino médio, consegui um emprego em uma loja de artigos de decoração no centro da cidade, que pagava mais do que a cantina da escola, e passei a me revezar entre o trabalho de dia e a faculdade à noite.
Meu tempo com Alice era curto, então aproveitávamos a hora do almoço para conversar ou resolver alguma atividade passada em aula.
Antes de voltar para o trabalho, eu a deixava na escola e, ao sair, passava para pegá-la e a deixava com Dona Camélia em nossa casa.Me sobravam pouco mais de vinte minutos para tomar banho, me arrumar e pegar algo para comer no ônibus, à caminho da faculdade. Quando chegava em casa, quase sempre as duas já estavam dormindo. Eu lhes dava um beijo de boa noite, devorava a deliciosa comida de Dona Camélia e apagava no sofá. Basicamente, essa era minha rotina.
Todos os dias no caminho para a faculdade, eu traçava um plano em minha cabeça: me formar, mudar para uma cidade grande com mais oportunidades e mostrar toda minha competência como contadora. Eu almejava o topo.
Todo meu esforço seria recompensado, todas as noites mal dormidas e dores nas pernas seriam válidas. Eu seria bem sucedida e ofereceria à Alice e Dona Camélia a vida que elas mereciam. Repetia isso como um mantra.
Esse era o Plano de Helena.
O meu plano de sucesso.
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Plano B
RomanceHelena perdeu seus pais em um trágico acidente, ainda muito nova. Desde então, trabalha duro para sustentar a casa e oferecer uma vida digna à sua irmã, Alice. As dificuldades a fizeram ter sede de vitória e traçar um plano para sua vida: se formar...