A triste história da Menina do Interior

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Nasci e cresci em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde vivi por cinco anos apenas com meu pai e minha mãe.

Apesar de ser muito amada e acolhida, eu me sentia muito sozinha, sem ter com quem brincar ou dividir minhas bonecas e ursos. Lembro-me de, todos os dias, pedir uma irmãzinha para meus pais.

Finalmente, quando completei seis anos, ganhei o maior presente de minha vida: Alice. Papai e mamãe a adotaram ainda bebê e desde então, somos inseparáveis.

Alice é divertida, inteligente e amorosa, e a negra mais linda que já vi na vida, diga-se de passagem. Perco as contas de quantas horas ela passa arrumando seu cabelo para mantê-lo sempre maravilhoso e muito cacheado.

Quanto à mim, bem... "Puxou ao seu pai", mamãe sempre dizia.
E realmente, nos parecíamos. Nossos cabelos pretos e lisos, nossos narizes idênticos.
"Mas os olhos são de sua mãe, amendoados e expressivos." - papai rebatia, cheio de carinho.

Alice e eu somos parecidas em muitos aspectos, mesmo que não tenhamos nenhum laço sanguíneo. O que nos difere talvez, é que ao contrário de minha irmã, que é de todo coração, eu sou movida pela razão. Deixei de acreditar no amor há algum tempo, mas isso é assunto para outra hora.

 Deixei de acreditar no amor há algum tempo, mas isso é assunto para outra hora

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Nós éramos uma família perfeita. Vivíamos uma vida simples, porém imensamente feliz.

Mas nosso conto de fadas não teve um "E viveram felizes para sempre".
Me lembro como se fosse hoje...

"Estávamos os quatro voltando da casa de tia Joana, que morava na cidade vizinha, quando uma tempestade nos pegou de surpresa. A chuva forte atrapalhava a visão de papai que, por segurança, diminuiu a velocidade, porém, inutilmente. Uma van desgovernada surgiu ziguezagueando pela estrada e nos atingiu violentamente, fazendo papai perder o controle e capotar o carro.

Não me lembro de como cheguei ao hospital, nem quantos dias demorei para acordar.
A enfermeira não soube o que me responder quando perguntei desesperada por meus pais, então preferiu deixar essa parte com a psicóloga do hospital.

Meus pais estavam mortos."

Meu mundo havia caído e eu não fazia ideia de como reerguê-lo. Eu era apenas uma menina de treze anos, órfã, com um coração despedaçado e uma irmã pequena que precisava de mim.

Nós duas passamos alguns dias no hospital até recebermos alta e nos mudarmos para a casa de tia Joana, uma mulher muito bondosa, porém de saúde frágil.
Vivíamos com sua pensão, que não era muito e, aos domingos, íamos para a feira da cidade vender as flores que nossa tia cultivava em seu jardim. Não que ela nos obrigasse a ir, mas era divertido e nos fazia esquecer de nossa tristeza, além de render um dinheirinho extra no final do mês.

Tia Joana nos ensinou a lidar com as dificuldades da vida com muito amor, cabeça erguida e sorriso no rosto. E a nunca desistir de nossos sonhos, por mais inalcansáveis que eles pudessem parecer.

Infelizmente, logo que completei dezesseis anos, ela nos deixou.

E foi aí que meu plano começou.

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