Capítulo 24

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Estava a vinte minutos andando de um lado para o outro tentando achar alguma solução cabível para o problema que meu amigo acabara de fazer. Eu não fazia ideia do que fazer, Heitor estava desmaiado e Igor sem nenhuma expressão, e eu nervosa.

— Igor, rápido! — exclamei ao sentir a aproximação de algum soldado.

Nos escondemos em uma parte oca e escura do escritório.
O soldado entrou calmamente até ver um velho caído no chão quase como um defunto. O homem na mesma hora gritou para trazerem algo que não consegui compreender o que era.

— O que vocês fizeram?! — perguntou um homem alto, com voz grave e aparência rústica.

Ele trazia uma maleta em sua mão. O homem se abaixou e abriu a maleta, nela continha vários tipos de sangue em sacolas iguais com rótulos diferentes. Ele furou um deles e pôs na boca do Heitor, rapidamente ele foi rejuvenescendo e se tornando o crápula que eu odiava tanto.

— Aqueles! — exclamou assim que sua consciência voltou. — Cadê eles?! — indagou ainda irritado.

— Os invasores foram presos, meu senhor — respondeu o homem com a maleta.

Na mesma hora Heitor deu um suspiro e se acalmou. Se nós estávamos ali, quem eles haviam capturado?. Interrompi meus pensamentos assim que ouvi o barulho da porta se fechando e do Heitor se levantando.

— Você pensa que vai fugir de mim, Emilly?! POIS ESTÁ MUITO ENGANADA! HAHAHA — grita ironicamente.

Meu sangue congela e meus pulmões param.

Será que ele sabe que nós estamos aqui?!

Respiro fundo — graças aos meu pulmões que resolveram voltar a funcionar — e olho para Igor aflita.

— Você acha que ganhou?! POIS EU JÁ GANHEI HÁ MUITO TEMPO! — continua e dá um soco na parede.

Escorre sangue de suas mãos e uma marca enorme consumiu a parte da parede que levou um soco.

— Esse sangue um dia vai ser o seu, — ele lambe o sangue com prazer — e você também vai ser minha — diz e saí da sala.

Fico refletindo em suas palavras. Era uma simples obsessão ou já era algo pior?!. Uma lembrança nostálgica invade meu subconsciente.

"Luzes... Ou talvez flashes... Não consigo enxergar muito bem o ambiente ao meu redor. Ouço um barulho e me encolho onde eu estava. Um ruído e um arranhar na parede, instantaneamente tapei minhas orelhas e me encolhi mais ainda, — o que estaria acontecendo?! — eu estava assustada e segurava os soluços. Não sabia bem o que estava acontecendo mas simplesmente tinha um mal pressentimento.
Uma sombra aparece e eu tento esconder meu rosto em meus braços que agora agarram meus joelhos com força.

Emilly, Emilly, Emilly — pronuncia lentamente, como se cada repetição de meu nome me proporcionasse mais medo — Você acha que consegue se esconder de mim? — indaga e eu mantenho meu rosto entre minhas mãos — Emilly, eu só quero brincar — explica e da uma risada irônica.

De repente sinto uma mão puxar meu braço com força, — com certeza eu ficaria com uma marca roxa — luto contra, contudo minha força vai se esvaindo assim como minha relutância.
Tento não olhar para o seu rosto, ou chorar, mas infelizmente não consigo. Minha ficha cai e eu reconheço que sou só uma criança de 6 anos que não é forte.

Que bom que não está lutando contra, minha borboletinha — diz com um sorriso sarcástico no rosto.

"Borboletinha", só minha mamãe me chamava assim... e outra pessoa também, ele. Só podia ser ele, a pessoa que tirava as minhas noites de sono, a pessoa que roubava a minha infância e também roubava o papel dos monstros ou figuras infantis que deveriam por medo nas crianças, era sempre ele.

Me solta... — pedi mas saiu mais como um sussurro.

Não, ainda não posso... Precisamos brincar antes! — exclama já sem paciência — Venha — ele me puxa com mais força.

Sinto minha garganta secar com as lembranças da nossa última "brincadeira".
Chegamos a um lugar mais claro, e sinto que na verdade eu estou na minha casa, e agora estamos no porão. Sinto um frio percorrer minha barriga "de novo não, de novo não!".
Ele solta a minha mão e acende a luz.

Venha, Emilly — comanda apontando para algo que está atrás de suas costas.

O que tem aí? — pergunto com medo da resposta.

Venha, Emilly — diz entre dentes, sem paciência.

Meu corpo está paralisado, tento mas não consigo sair do lugar, muito menos fugir. Ele vem em minha direção irritado e me puxa em direção a um saco de tamanho médio.

O que tem dentro? — pergunto segurando as lágrimas.

Pare de fazer tantas perguntas, borboletinha — diz passando a mão em meu queixo, eu viro o rosto para o outro lado.

Eu só queria que tudo acabasse, não queria ter de "brincar" de novo, mas eu não tinha escolha, era isso ou a morte de outros.

Até porque eu ainda não conhecia a minha maldição, então era uma criança humana ainda.

Abra o saco, Emilly — disse autoritário.

Continuo imóvel, meu corpo se arrepia só de pensar no que teria de fazer. Suas mãos geladas tocam a minha pele e a mesma se arrepia, ele a aperta com força e me leva em direção ao saco.

Não, não! Não quero ir! — grito aos prantos empurrando meu corpo na direção oposta.

Cala a boca! — grita e me atinge com um tapa na cara. — Você não tem escolha, ou quer que eu mate sua família? — indaga e dá uma risada diabólica.

Passo a mão no lugar do tapa e seguro o choro. Agora não teria mais como enrolar, ele já estava irritado.
Vou em direção ao saco que só agora eu tinha percebido que estava fazendo barulho.

Mate.

Abro o saco mesmo hesitante e rapidamente sai um veado de dentro do mesmo. Olho para o animal, admiro a sua beleza,— era meu animal favorito — e lembro que as vezes eu o admirava pela janela do meu quarto. Seus olhos cor de mel me atingem em cheio, eu não queria fazer isso, meu olhar em sua direção era de pena.

Mate — repete.

Olho uma última vez para o animal e gesticulo "perdão". Enfio uma adaga em seu estômago e vejo a criatura gemer de dor.
Viro na direção da sombra que tanto me amedronta.

Posso ir agora? — pergunto baixo.

— Pode sim, borboletinha.

Saio e vou em direção ao meu quarto. Deito em minha cama e cubro todo o meu corpo.

Fingi que tudo era um pesadelo, que logo iria passar, que eu iria esquecer tudo isso.

Eu havia matado uma criatura.

Arrancado a sua vida. 

A primeira de muitas.

Ele já estava me transformando em uma máquina de matar, antes mesmo de eu ser vampira.

Sua sombra me vem em mente... a sombra era o Heitor."

Mariposa (Série Vampira e Presas) - Livro Um (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora