— Você pensa que vai aonde? — pergunta uma voz que soa familiar.
Eu havia acabado de fechar a porta de casa e estava prestes a mergulhar na escuridão da floresta.
Fingi que não estavam falando comigo e corri em direção a floresta, ouvi algo que parecia um animal atrás de mim e logo corri mais rápido. Fui atingida em cheio por um lobo enorme que me jogou no chão e me prendeu ao mesmo.
— Sai — digo me debatendo sem olhar em seus olhos.
Ele volta ao normal e me ajuda a levantar.
— Emilly? — pergunta surpreso.
Com certeza não era o Harry, e não sabe o quanto isso me tranquilizou. Como eu já disse, não aguentaria uma despedida.
— Elliot? — indago também surpresa.
— Sabe, as vezes eu gostaria que você me chamasse de pai — comenta calmamente.
— E as vezes eu gostaria de não ser metade vampira e metade lobisomem — digo pegando minha mochila que estava no chão e andando em direção ao sul.
Eu não iria explicar a ele o que eu estava prestes a fazer, nem sobre o feiticeiro. Minha mãe sempre me escondeu que eu tinha um pai, e ele vivia a alguns quilômetros da minha casa e me tratava como uma estranha. Então agora que a verdade foi revelada eu deveria simplesmente esquecer tudo que aconteceu e chama-lo de pai?! Nunca.
Não sou idiota, eu nunca tive alguém na minha vida que fizesse um papel de pai, então eu não iria chama-lo de pai só por ser o meu pai biológico. Pai é quem cuida, quem aconselha, quem protege, e ele nunca fez nada por mim.— Emilly...— diz baixo devido as minhas palavras ácidas.
— Adeus, Elliot, não preciso das suas explicações — digo por fim e novamente me afasto.
Agora já era muito tarde para ele vir com sermões e com histórias sobre como ele e a minha mãe se conheceram e se apaixonaram. Eu poderia estar sendo ignorante, mas quem não seria?!. Desde pequena eu considerava um homem como meu pai sendo que ele só queria me usar para dominar os vampiros. Onde o meu verdadeiro pai estava neste momento? Eu não sei!. E agora ele vêm com a cara mais lavada se explicar por demorar tanto para assumir a minha paternidade? Eu não iria querer ouvir as suas explicações. Não hoje e não agora.
— Mas eu preciso das suas, está indo para onde tão cedo?
Ele estava testando a minha paciência, essa seria a única explicação inteligente para isso.
Respira, Emilly. Respira, Emilly.
— Não, eu não te devo explicações — digo calmamente para não explodir com ele.
— Emilly,eu sei que... — o interrompo.
— Não! Você não sabe! Você nunca foi presente na droga da minha vida! Você nunca ligou para o que eu estava passando! — digo já sentindo a mágoa aparecer — Você não sabe o quanto dói ser a única pessoa diferente na sua família, você não sabe o quanto machuca ser considerada a ovelha negra da família, você não sabe o quanto me atormenta o meu passado e principalmente o que eu tive de passar por culpa sua. — Digo apontando o dedo em sua direção — Se você tivesse sido presente em minha vida talvez o Heitor não tivesse me feito de brinquedo, talvez eu me sentiria aliviada em lembrar de tudo o que aconteceu, talvez eu não odiasse a minha origem — digo friamente.
Limpo as lágrimas ao despejar tudo que estava trancando em meu coração por sete chaves. Corro em direção ao sul com as lágrimas secando ao vento, devido a minha velocidade.
É incrível o quanto as pessoas são ingênuas ao pensarem que com um simples "pedido de desculpas" podem mudar tudo o que já aconteceu.
Não me importo se o Elliot e a minha mãe estão casados, espero que sejam felizes, mas eu não sou obrigada a aceita-lo e ouvir as suas desculpas. Eu já sofri muito, e agora a única coisa que almejo é ter as minhas respostas, não preciso de um carinho paterno, não agora depois de tanto tempo.— Emilly, eu falei a verdade quando disse que sinto muito — diz seriamente.
Respiro fundo para não fazer nada de que depois me arrependa.
— E eu falei a verdade quando disse que não quero e não preciso das suas desculpas — respondo correndo ainda mais rápido.
Para me alcançar ele só conseguiria se começasse a sua transformação para lobo. Ouço um barulho e prevejo que ele já havia se transformado.
— O que você quer, Elliot?! — pergunto correndo o mais rápido possível.
— Quero a sua segurança, Emilly, eu já sei o que você vai fazer. E isso não é nem um pouco seguro — diz em tom protetor.
Ele estava de brincadeira comigo. Eu sou uma mulher adulta e sei muita bem o que estou fazendo, e as consequências eu irei enfrentar sozinha.
— Elliot, vai embora, não quero que ninguém venha comigo. Isso é algo que eu devo enfrentar sozinha. Eu não posso mais viver sem ter respostas — digo por fim.
Paro um pouco de correr pois já estou um pouco fadigada. Não é fácil correr e sentir tantas emoções ao mesmo tempo.
— Emilly, o feiticeiro sempre pede algo em troca de respostas ou qualquer outra coisa que pedirem, você nunca sabe o que ele pede. A magia sempre tem um preço & diz preocupado — E se ele pedir a sua essência?
— Ele estaria me fazendo um favor — respondo friamente.
Ele me encara com pena, eu estava fazendo de tudo para que ele desistisse de tentar me parar, eu iria para o sul da floresta e ninguém me impediria.
— Você não sabe o que está falando. — Diz triste — Quando eu e a sua mãe nos apaixonados nós descobrimos que era impossível termos um filho, devido a essência dela. — Respira fundo — Eu fiz um trato com o feiticeiro, eu daria o meu primeiro filho a ele, contanto que eu pudesse ter outro com a Sarah. Nós tivemos o primeiro filho e depois de tentarmos enganar o feiticeiro ele pegou o nosso filho a força e nos jurou uma maldição, o próximo filho que tivéssemos nasceria metade vampiro e metade lobisomem, e ele teria o poder de destruir a tudo e a todos — diz passando a mão no rosto devido ao nervosismo.
Então o filho desaparecido que minha mãe havia me contado era o bebê que eles entregaram ao feiticeiro?!. Como eles poderiam fazer isso?! Entregar o próprio filho em troca de outro?! E ainda por cima, eu sou a culpada disso, como sempre sou a culpada das coisas ruins que acontecem.
— Como vocês foram capazes?! — pergunto incrédula.
Eu não tinha o que dizer nesse momento, foi uma descoberta totalmente inesperada.
— Emilly, nós estávamos cegos. O feiticeiro tem o poder de fazer isso com as pessoas, e o pior, tirar tudo de melhor que elas tem.
Eu já não tinha nada de bom, a esperança jazia fora de mim, o egoísmo me dominava, e a única coisa que me restava era o amor. O amor por toda a minha família.
— Adeus, Elliot, eu não tenho nada a perder — digo por fim.
— Foi o que eu e ela pensamos.
— Mas eu não sou vocês, eu não sou igual a ninguém...
Depois de saber de mais um aspecto da minha origem, acho que me sinto mais preparada para enfrentar o que vir pela frente.
Eu faria de tudo para descobrir mais uma peça desse jogo que era o meu passado.
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Mariposa (Série Vampira e Presas) - Livro Um (Concluído)
VampireEmilly Altermann, uma vampira que é melhor amiga de um lobisomem, tem uma vida normal de rebeldias contra os seus pais e os seus irmãos. Sua vida dá uma reviravolta ao descobrir que ao invés de só uma vampira - que já não é nada comum - ela é metade...