Capítulo 30

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Parecia que tudo seria finalizado em uma simples explosão de luz, e tudo voltaria ao normal. As famílias seriam unidas, eu e Harry finalmente ficaríamos juntos e tudo acabaria como em um conto de fadas.

O único problema:

Isso não é um conto de fadas.

Isso é a realidade.

Isso é a minha vida.

Tentei não pensar em tudo que estava acontecendo ao meu redor. Só tentei...

Ver Igor caído e ferido no chão, e Harry também, e toda a nossa família amarrada simplesmente mexeu comigo. Isso colaborou para que eu deixasse o meu lado animal ter completa dominação sobre mim.

Eu não pensei em o que aconteceria depois. Não pensei em absolutamente nada.
Eu simplesmente estava ferrada, não sabia o que fazer ou o que iria acontecer daqui por diante.

— Olá a todos, viemos em busca de Heitor. — Disse o líder da organização dos vampiros —Fomos avisados que ele estaria presente neste lugar, nesta exata hora —disse com um sorriso falso e largo no rosto.

— Vejo que todos estão alegres, mestre —disse um de seus seguidores.

— Soltem os prisioneiros, socorram os feridos e tragam o Heitor e a Emilly —senti minha garganta secar assim que ouvi a última parte da sua fala.

O que eles iam querer comigo?!

Assisti a movimentação de seus seguidores para cumprirem as suas ordens. Me senti aliviada em ver todos serem soltos e em ver Igor e Harry sendo socorridos.

Só faltava uma última parte: eu.

Os seguidores pegaram o corpo de Heitor e levaram até o seu mestre.

— Senhor, ele não está respirando — disse um deles.

Em um pequeno momento ele hesitou, contudo voltou a sua postura de líder.

 —Ele está vivo, só está desacordado, com o tempo irá se regenerar, seu coração ainda bate — responde naturalmente.

— Mas ele disse que seu coração não estava mais com ele — eu disse alto até demais.

Nós vampiros, não temos o coração como essencial igual aos humanos, alguns vampiros até adquiriram a capacidade de viver sem o seu coração, o mantendo guardado, assim seria mais difícil de ele ser morto. O problema é que ficamos mais fracos sem ele.

— Querida Emilly, não sabe o quanto eu esperava por esse encontro. — comentou com um sorriso receptivo no rosto — Respondendo a sua pergunta, seu coração além de estar do lado oposto onde reside normalmente, ele também estava com um silenciador, o que impede de nós vampiros ouvirmos os seus batimentos, todavia, como eu já contenho experiência com esse tipo de aparato, mesmo com esse pequeno silenciador eu posso ouvir as suas batidas— diz com orgulho de si mesmo.

Então ele era mais inteligente do que eu pensava. Ele simplesmente tinha mudado o lugar de seu coração. Algo simples, porém inesperado.

—E o que o senhor quer comigo?— indago meio receosa.

Ele respira fundo e abre um grande sorriso.

Algo impossível para a anatomia humana assim por dizer.

— Vim fazer um convite, um grande e inegável convite. —Limpou a garganta com uma tosse forçada —Conhecemos as suas incríveis e diferentes habilidades, algo que nunca vimos em nenhum vampiro. Sabemos da sua origem dupla e de todos os seus poderes fora do normal. Acompanhamos as experiências do Heitor que foram feitas em você, e sabemos que ele queria você para poder se tornar o líder dos vampiros, mas também descobrimos outro ponto desse plano diabólico dele. Seu desejo era ter a sua paternidade, Emilly, ele é um maníaco e todos os sintomas dele identificados por mim, indicam que ele queria ter o controle de você e a usar para tudo, e principalmente, ele queria verdadeiramente ser o seu pai. Ainda não sabemos muito sobre essa obsessão dele por ocupar o lugar de seu pai, mas achamos que se deve ao fato dele invejar a você, ele sempre desprezou os seus filhos por querer ser seu pai e também por querer o reconhecimento como o tal.

Parei por um instante. Talvez tudo estivesse claro, essa sua obsessão por mim, pelos meus poderes. Acho que o seu objetivo era que eu o ajudasse a dominar todos os vampiros, eu e ele como pai e filha. Acho que, o que mais o torna um maníaco é cogitar a ideia de que eu aceitaria participar desse seu plano inescrupuloso e egoísta.
Por toda a minha infância, quando ele fazia testes comigo e queria que eu matasse animais indefesos, no fundo eu sempre o odiei, até quando eu não sabia, eu o odiava.

Mas agora... Agora eu só sentia pena dele, pena por ele ser tão ingênuo nesse plano, pena por ele ser um maluco.
Não sinto mais raiva, ódio ou qualquer sentimento do tipo por ele. Finalmente me libertei desses sentimentos. Não sei se foi pelos golpes que apliquei nele, ou se foi pela verdade que eu acabo de descobrir, contudo sei que não nutro mais sentimentos maus contra ele.

— Continuando a minha proposta, Emilly, —viro o meu olhar em sua direção —nós do conselho de vampiros queríamos saber se você gostaria de fazer parte do nosso conselho, com os seus poderes e a sua inteligência, nós conseguiríamos alcançar pontos inalcançáveis para nós meros vampiros —diz com um sorriso.

Paro por alguns e segundos, e não. Eu não largaria a minha vida e a minha família para fazer parte de um conselho de idiotas e adestrados vampiros. Sempre admirei o meu lado animal, e agora que posso controla-lo eu não irei lutar contra isso.

—Agradeço muito a sua receptiva proposta, porém a minha resposta é não— respondo naturalmente.

Um silêncio incomodativo prevalece no nosso cenário. Eu só queria que essa conversa acabasse e que eu pudesse ir para a minha casa.

—Não?! Oras, você sabe o quanto vários vampiros lutam para conseguir um lugar ao nosso lado, e você simplesmente rejeita a nossa proposta?

—Isso mesmo, eu recuso— sinto o olhar de todos sobre mim.

—Tudo bem, daremos mais tempo para que penses melhor sobre a nossa proposta —disse por fim.

Ele já estava bem irritado com a minha rejeição, então eu simplesmente confirmei com um leve balançar de cabeça.

—Então muito obrigado por ter nos ajudado com a captura do Heitor, e tenha uma longa e deliciosa vida... —disse e antes de sair virou o seu olhar para mim—Nos vemos daqui a alguns anos, Emilly — termina como se soubesse de algo que eu não sabia.

— Esp... —eles já tinham desaparecido.

Legal, muito legal.

Desabei no chão e respirei fundo. Será que finalmente tudo teria acabado? Será que finalmente eu teria um pouco de paz na minha pacata vida de vampira?.
Essa era uma questão que só o tempo poderia responder.

Só a droga do tempo.

—Então, vamos para casa?— pergunto com um sorriso irônico.

—Emilly, Emilly, sempre com senso de humor —diz John com um pequeno sorriso.

Todos se levantam e veem em minha direção. Eles me cercam em um abraço em grupo e sinto uma vontade enorme de chorar.

E impossível.

—Estamos todos orgulhosos de você, Emilly —comenta minha mãe com um sorriso carinhoso no rosto.

—Eu amo vocês— balbucio sem perceber.

—Nós também— diz Elliot.

Talvez tudo mudasse.

Talvez tudo melhorasse.

Só a droga do tempo poderia dizer.

Mariposa (Série Vampira e Presas) - Livro Um (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora