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Ali on:
Mel: Bom dia. -falou sorridente ao me ver saindo do dormitório.

Ué. A Mel não é de ir pra aula essa hora. Ela gosta de chegar cedo. Pra ela, eu to sempre atrasada.

Ali: Bom dia? -franzi o cenho.- Por que tu tá aqui à essa hora? Tá atrasada, não? -digo enquanto vamos para o elevador. Ela ri.
Mel: É... Sei lá... Queria te esperar hoje... -da de ombros e sorri.
Ali: Hm. -aperto o botão do elevador.

Tem coisa aí. Ela nunca me espera e sabe que eu não faço questão. Na real, sabe que eu não gosto de ficar atrasando ela e que eu gosto de dormir o máximo possível.

Ali: Descarrega. Fala logo, por que me esperou? -pergunto séria.
Mel: Bom... Ah... -fixa o olhar no próprio pé.

O elevador se abre. É ele. Do mesmo jeito de sempre. Tênis, calça jeans de qualquer jeito, camisa do uniforme amassada, cabelo bagunçado e o olho encolhido de sono. Entendi tudo. Ela sabia que eu e o Leonardo subimos no mesmo horário, consequentemente, pegamos o mesmo elevador. Ela se atrasou pra impedir que nós cometêssemos um assassinato, um com o outro. Não que ela vá conseguir impedir muita coisa, não miúda desse jeito. Mas quem sabe, consiga me acalmar. O ódio que eu sentia do Mirrors naquele momento, era incomparável. Eu acho que se aquilo não se revertesse à tempo, eu nunca mais conseguiria dizer que amo, gosto ou, simplesmente, que acho ele bonito. O ódio seria mais prevalecente.

Léo: Bom dia. -cumprimentou com um sorriso ao entrar no elevador.
Ali: Já entendi, Mel. -falei pegando o celular no bolso.
Mel: Eu te conheço, à pouco tempo, mas sei o que tu faria. -ela cochichou.
Léo: Sério que tu tentaria me matar, Ali? Logo eu? O garoto que te crusha? O menino que tu destruiu o coração? -falou em um tom debochado e soltou uma risada irônica.
Ali: Vai à puta que te pariu, Leonardo. Sem querer ofender a Cris, é claro. Se bem que, ela nem parece ser tua mãe. Uma pessoa tão legal, que conseguiu fazer um filho tão infantil e mimado. Tu vê, né? -sorri cínica.
Léo: Não sinta tanto ódio de mim, amor. Foi tu quem terminou comigo. Tu que fez questão de deixar claro para escola, e qualquer um, quando fez aquela publicação. -deu de ombros. A porta do elevador se abriu, e ele saiu.

Novamente o ódio tomou conta de mim. É a hora de jogar algumas coisas na cara dele. De novo.

Ali: LEONARDO! -chamei gritando, já que ele já estava adentrando a sala.
Léo: Fala, anjo. -respondeu com um sorriso cínico se virando, já dentro da sala.
Ali: Antes de falar que foi tudo culpa minha, -corri até ele, dentro da sala. Ouvi a Mel caminhando um pouco mais rápido atrás.- te lembra das porra que tu falou.
Léo: Ahn? -se fez de desentendido.
Ali: Por favor, né? -ri cinicamente.- Qual a chance de eu ir te ver todo dia no hospital, por pelo menos uma semana, e até passar uma noite de fim de semana lá, enquanto tu dormia e depois terminar do nada? Qual a chance de eu dizer "eu te amo" por nada? Eu não sou tuas vagabunda, porra. Vai dizer que esqueceu que tu cogitou que eu tava te traindo com o Igor? COM O IGOR! O CARALHO DO TEU MELHOR AMIGO! Tu não sabe da metade dos motivos pela qual eu terminei contigo. Te garanto, tu vai me agradecer no futuro. Teus filhos vão me agradecer, e qualquer puta com quem tu se casar. Todas as tuas futuras gerações vão me agradecer. Teu pai e tua mãe, também. Todas as pessoas se importam contigo vão. Então, cala o cacete da boca e para de falar merda. Porque não fui que, na primeira manhã solteira, fiquei com uma piá do primeiro ano. Não fui que dei indireta no Instagram. Não fui eu que não confiei em ti. E melhor, não fui eu que me paguei de fodona na frente dos outros, e depois te chamei no WhatsApp dizendo que tu era meu. FOI TU QUE FEZ TUDO ISSO! TUDO! -falei tudo de uma vez.

Não dei a mínima importância para quem tava olhando. Eu só precisava fazer com que ele soubesse que ele tava pagando a dele de guri mimado. Foda-se que ele não iria querer me ver nunca mais depois do o que eu falei dele. Ele não é oxigênio, nem comida, nem água, muito menos sol. Vivi bem sem ele até agora. Vou continuar vivendo. Porque, bem na boa, guri assim estoura meu pacote de paciência rapidinho.

Respirei fundo e passei reto por ele, indo para o meu lugar no canto. Senti muitos olhares me acompanhando. Estranhei o Leonardo não revidar. Mas, legal, assim não me da dor de cabeça. Joguei a mochila em cima da mesa e me sentei. Afundei o rosto nos meus braços apoiados na mochila. Senti meus olhos arderem. Logo marejariam e, eu choraria. De raiva. Mas não podia chorar. Não aqui. Não agora.

Léo: Cara... Quer dizer... Cara não. Ali... -senti que ele estava se sentando no meu lado, lugar dele, mas o ignorei. -Alícia, meu, desculpa. Porra, eu sei que sou um puta dum guri mimado. E tu? Tá ligado, né? Tu é perfeita, velho. -suspirou.
Ali: Eu to bem longe de ser perfeita. -falei e soltei uma risada irônica. Saiu abafada por eu não ter levantado o rosto.
Léo: Pra mim tu é perfeita. E não importa os motivos. Só é. E eu não sei discutir. Quero pagar a minha de "Leonardo Mirrors", mas contigo perto, nunca da certo, mano. Eu não consigo aceitar que não posso mais te beijar, que não posso dizer que te amo, que tu não vai mais tá por perto. E que quando estiver, que vai ser aqui na sala de aula, eu mal vou poder falar contigo. Não da. Eu te amo demais pra isso. -soltou o ar dos pulmões, por um longo tempo.

Isso mexeu comigo. Admito. Afinal, eu amo ele. De verdade. Com todo meu coração. Mas não da pra ele fazer merda e eu ficar desculpando. Não na hora. E mais, agora nem faz diferença. A gente não ta mais junto. Contanto que ele pare de me irritar ou de fazer coisas que me diminuem, lei áurea já foi assinada.

Ali: Piazinha do primeiro ano: bem pagável, moreninha, carinha de marrenta, te deu mole, parece que beija bem... Eu acho ela parecida comigo. Ela também deve ser "perfeita" que nem eu. Não que seja difícil, já que eu sou a mais errada dessa porra dessa bola que chamam de mundo. -levantei o rosto e o olhei nos olhos. Ele tava com um sorriso, que era uma mistura de incredulidade, deboche e raiva.
Léo: Eu disse que te amo e tu tá pensando na piazinha? Tá zoando, né? -riu sem humor, me olhando nos olhos.

Dei de ombros. Ele ficou extremante sério, minha vez de rir cinicamente. Me levantei.

Léo: Eu. Te. Amo. Caralho! -falou devagar, se levantando e ficando de frente pra mim.

A Bela E A Fera No InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora