CAPÍTULO 5

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RELEMBRANDO O PASSADO:

Quando conheci Amanda foi em um bar, ela estava com uma barriga enorme, completamente encharcada pela chuva intensa que caia lá fora e que estava parecida com os sentimentos tempestuosos dentro de mim, que borbulhavam feito lava. Geralmente as pessoas recebem parabéns e palavras bonitas das mães no dia de seus aniversários, mas aquele não era meu caso, recebi palavras chulas e sem escrúpulos assim como o caráter da mulher que me pois no mundo e como se não bastasse aquilo, eu passaria mais um aniversário sozinha, como todos os outros. Não querendo ficar lá jogada no minúsculo apartamento como nos últimos anos fui parar em um bar na noite chuvosa e sombria que conheci Amanda, ela era loira igual a mim, pele branca e olhos castanhos, não tão escuros nem tão claros, ao contrário dos meus que eram uma cor meio indefinida. Nosso papo surgiu depois de eu criar coragem, não que eu seja tímida ou algo assim, é que nunca se sabe se a pessoa quer realmente conversar e eu só fui tomar partido após uns bons cinco copos de suco de uva sem álcool.

Eu não tenho onde ficar sabe Cris? Vim pra Alemanha afim de fugir do meu passado conturbado e de uma certa pessoa, o que não esperava era ter que enfrentar essa chuva, perder todo meu dinheiro e pra melhorar estou grávida. — Ela ri sem humor e passa as mãos por sua barriga enorme. — Eu só quero dar uma boa vida pra minha filha, mas não sei nem onde vou dormir hoje, estou sem dinheiro, não tenho emprego e estou com meus pés inchados, estou começando a achar que sair do Brasil foi um tremendo erro.

Soltei um suspiro comovida com seu pequeno resumo sobre sua trajetória até a Alemanha e então como sempre minha boca trabalhou mais rápido do que meu cérebro fazendo com que tudo saísse tão rápido aponto de me assustar.

— Tem um quarto sobrando lá no meu apartamento, não é um lugar enorme e duvido muito que chegue pelo menos aos pés do que você está acostumada, mas se quiser saiba que ele está de portas abertas pra você.

Ela abriu um sorriso tão grande naquela noite que fiquei um tanto assustada e com receio, mesmo assim não poderia deixar uma mulher grávida dormir na rua certo?

Certo! E foi o que eu fiz, levei Amanda, uma desconhecida grávida pro meu apartamento e abriguei ela com as melhores intenções.

Naquele mesmo dia a gente foi pra casa onde ela tomou um banho se trocou e juntas sentamos no sofá, assistimos vários filmes enquanto comíamos sorvete de chocolate com brigadeiro, bolacha e pasta de amendoim, quer dizer ela comia porque eu apenas olhava tudo com uma sorriso, afinal, aquela poderia ser minha chance de finalmente ter alguém pra chamar de amiga.

No fim Amanda me contou que veio para Alemanha com um nome falso "Célia" era ele, e pelo que pude saber por alto ela estava fugindo de alguém, dessa vez omitiu os fatos e bem séria praticamente implorou para que eu não perguntasse nada, o que fiz sem sombras de dúvidas.

[...]

Algumas semanas depois e a gente já estávamos bem próximas, ela conseguiu um emprego na lanchonete em que eu trabalhava de cozinheira e com o dinheiro que ganhava me ajudava nas despesas, então passei a ajudar ela nas coisas para a sua filha, mesmo a contra gosto dela. Naquela altura a gente já era como duas irmãs que se ajudam, no dia da consulta dela com o médico eu fui junto, ouvi o coração da pequena e como ela me emocionei, até o médico acabou entrando na onda com a gente e olha ele era um gato em.

Eu vi o jeito que ele te olhou Cris, não adianta negar, você é linda, gostosa e mexe com a cabeça dos homens como uma bolsa da Prada mexe com a cabeça de uma mulher— Rimos muito de sua comparação e naquele momento além de feliz eu consegui me sentir desejada.

Para doida, não sei o que ele veria em mim.

Sua beleza? Sua doçura, seu charme, seu corpo com curvas maravilhosas? Seus seios fartos e essa bunda que eu sempre quis ter? — Ela dá risada e eu acompanho, pra ser realista nesse pouco tempo em que Amanda e eu nos conhecemos posso dizer que ela me colocou pra cima, fez meu ego aumentar e até que conseguiu fazer eu me olhar no espelho e não me sentir uma garota gorda e patética.

— Tá você pode estar até certa, mas me diz quando vai arrumar um pai pra minha sobrinha em? Nossa amizade floresceu tão rápido que quando fomos ver estávamos nos tratando como irmãs e não como amigas.

Ela já tem um pai Cris! — Sua voz sai embargada e toda aquela alegria de pouco tempo atrás se esvai. — Mas ele é um babaca idiota e cretino que não deu valor no que tinha em mãos, sabe se ele te visse provavelmente seria o mais babaca possível com você pelo simples fato de você ser sabe uma garota gordinha, ele não costuma ver o coração das pessoas porque se importa apenas com a aparência delas e com o seu próprio ser. Mas vamos deixar isso de lado, que tal a gente ir tomar um sorvete?

Claro, o passado fica no passado não é mesmo?

Isso ai Cris!

O tempo foi passando e Amanda não deixava mais eu ir nas consultas com ela e isso aconteceu depois de uma vez em que eu não pude ir e ela foi sozinha, naquele dia ela chegou estranha e sem o brilho dos seus olhos que eu sempre via após uma consulta, eu até tentei saber o que estava acontecendo, mas ela não me deu ouvidos, não quis me contar e se fechou dentro de seu próprio casulo.

[...]

Os minutos, às horas, os dias e as semanas se passaram rapidamente e  com tudo isso o dia do parto chegou, eu via nos olhos da Amanda sua aflição e seu medo e por mais que a todo custo eu tentasse tranquilizá-la dizendo que tudo ficaria bem ela me olhava de um jeito que claramente dizia que nada ficaria, então naquele dia eu entrei com ela na sala do parto...

Eu segurei em sua mão e sorrindo disse mais uma vez:

Vai ficar tudo bem Dadá!

Ela me olhou de um jeito que doeu minha alma, sorriu pra mim.

Eu sei que você será como uma mãe para minha filha e que não deixará ela desamparada!

Então eu vi que aquilo era como uma despedida e antes de começar o parto eu ouvi ela murmurar bem baixinho um: —  Eu amo vocês Cris e eu vou adorar se você colocar o nome na minha bebê de Melissa.

Me fazendo arfar só de imaginar o que ela queria dizer com aquela frase. Depois disso tudo deram início ao parto, mas as coisas se complicaram e o médico me olhou com pesar antes de proferir as palavras que rasgaram meu coração.

Só conseguiremos salvar uma, sinto muito!

Eu sabia que naquele momento a decisão estava em minhas mãos e com base no que Amanda me disse sabia muito bem que ela queria que eu escolhesse Melissa e apesar de estar com o coração na mão foi isso que fiz, escolhi salvar a bebê e ver minha única melhor amiga morrer apenas para satisfazer sua vontade.

De qualquer forma não me arrependo, Mell é um presente especial em minha vida, e eu sei que estou cumprindo o pedido de Amanda e que seja lá de onde ela estiver ela está feliz por mim e pela sua filha que agora é minha.

As vezes somos obrigados a tomar decisões na vida que de uma forma ou outra vão nos ferir, porém no final de tudo isso a gente vai ver que foi necessário fazer aquilo.

04 / 09 / 2016

Ela é a minha RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora