Capítulo 18

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Agachei-me bem perto das grades e passei o prato de comida por baixo. Ela o olhou com os olhos grandes, em seguida os voltou para mim e eu assenti.

- Não tenha medo, estou aqui para ajuda-la - falei e sem mais preâmbulos, ela deu um salto e começou a comer desesperadamente. Parecia pálida apesar da sujeira, quanto tempo a deixaram sem comer? E quem se importava se a menina morria de fome? Ela terminou de comer em menos de 3 minutos e empurrou o prato para mim, fazendo um leve barulho.

- Não faça barulhos ou nos descobrirão - sussurrei.

- Obrigada - ela disse em um fio de voz. Eu tinha que tirá-la daqui e dane-se se eu fosse pega, não poderia ficar ali parada. Então vasculhei o lugar em busca da chave e para minha surpresa ficava ali em baixo mesmo, pendurada na parede, provavelmente porque ninguém se atreveria a desobedecer o capitão. Então eu a peguei, abri a cela, ajudei a garota a sair dali.

- Vá, vá - falei, ela me agradeceu novamente e sumiu. 

Deixei a chave no lugar, lavei o prato que havia usado e finalmente, quando voltei para minha cabine, consegui repousar a cabeça no travesseiro. Ver o que faziam com aquelas mulheres e não fazer nada estava me consumindo. E se fosse comigo? Foi esse pensamento o que mais me motivou a solta-la, mesmo correndo perigo de ser pega.

Na manhã seguinte, acordei e quando sai estava um alvoroço do lado de fora, homens corriam de um lado para o outro, seus rostos eram puro pavor.

- O que aconteceu? - perguntei para Vitor.

- Fugiu, fugiu. Mas como? - ele balbuciava e não permanecia quieto.

- Mas quem?

- A mulher que o capitão trouxe - Stefan assustou-me quando surgiu ao meu lado e a mesma expressão que estava em todos, estava nele - ela conseguiu fugir e não sabemos como. Não sabemos quem foi o último que a visitou e provavelmente deixou a cela aberta sem querer. Eu engoli em seco mas consegui manter-me impassível.

- Você desceu lá ontem? - perguntei.

- Não, eu nunca vou - aquilo encheu-me de alívio, pois eu tinha uma grande estima por Stefan e me decepcionaria saber que ele aproveitava-se das mulheres que eram mantidas cativas aqui - nem sabemos quando saiu, poderia estar perto mas também estar a quilômetros.

E esse clima tenso durou o dia inteiro, pois o capitão não saiu da cabine, mas havia a expectativa que isso poderia acontecer a qualquer hora. Entretanto, essa sorte não durou muito; ao amanhecer do dia seguinte, todos estávamos enfileirados com as costas rígidas, olhando para o nada enquanto o capitão andava de um lado para o outro exigindo saber quem havia deixado aberta a cela. Ninguém denunciou-se, é óbvio. Mas tudo foi diferente quando ele limpou a garganta e disse em tom congelante:

- Ou apontem quem foi o último a deixar a cela ou matarei a todos sem piedade - recostou-se e cruzou os braços despreocupadamente. Depois de um minuto de silêncio, ele ergueu a pistola e atirou na cabeça do homem que estava na outra ponta da fila, o qual eu não conhecia direito e nem me lembro o nome. Tive que lutar para engolir de volta um grito de susto, mas não consegui esconder meus olhos arregalados e minha provável palidez, pois senti fugir todo o sangue do meu rosto.

- Vocês tem mais uma chance - Orion gritou, não mudando sua expressão.

- F-fui eu - gaguejou e levantou a mão o homem que estava ao meu lado que por incrível que pareça eu também não o conhecia direito, claro que já o havia visto, mas por não ter tanto contato não era tão identificável - mas senhor... - e antes que pudesse dar sua explicação, ele caiu no chão ao meu lado com um buraco na testa enquanto seu sangue espirrava no meu rosto e roupa.

ღ Perigosa AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora