Capítulo 1

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LUCIANA

- Luciana - a voz do meu pai soou vindo pelo corredor - Luciana. 

Seus passos eram firmes e apressados, suas botas colidindo com o assoalho de madeira, mas não me dignei a respondê-lo, continuei apenas observando para fora da grande janela da biblioteca.

  - Ah, ai está você. - olhei para trás e Túlio Hamilton, duque de Westwick, como gostava de lembrar, estava escorado no vão da porta, porém se endireitou e caminhou em minha direção - Princesa, o que está fazendo aqui? A festa está acontecendo lá embaixo. 

- Quando vai me deixar ir para longe desses muros, papai? - questionei, ignorando sua pergunta.

- Ora querida, você pode ir, sabe disso - logo ele estava ao meu lado, também inclinado sobre o batente da janela. 

- Não, eu não quero ir apenas até a esquina e ainda com um bando de brutamontes atrás de mim, monitorando todos os meus passos - reclamei e me afastei, frustrada com a situação em que vivia. O mundo era preenchido de belos lugares, pessoas de todos os tipos e inúmeras coisas para se fazer. Mas no mundo de Lucy apenas o que havia nele era um palácio idiota, cheio de empregados andando atrás para saber o que deseja como sanguessugas e terminava em um portão de altura absurda. 

- Sabe que isso é para seu bem, Lucy - meu pai colocou uma mão em meu ombro enquanto eu observava atentamente o abajur que ficava em cima de uma mesinha próxima. 

- Eu sei - suspirei - mas eu já tenho 23 anos, eu preciso de um pouco de espaço e... 

- Não me venha com a história de conhecer um homem. Não permitirei que minha filha se case com qualquer um - falou em um tom autoritário. 

- Tudo bem, então ficarei sozinha pelo resto dos meus dias - me afastei com passos largos, ergui um pouco com a mão o vestido longo que estava usando para me permitir caminhar mais rápido dali. Escutei chamarem meu nome mas não dei moral, continuei caminhando escada a baixo, voltando para a maldita festa. Eu estava cansada de jantares exaustivos, com convidados onde eu não conhecia nem mesmo a metade e de homens mesquinhos, que se achavam os donos do mundo. 

- Onde você estava? - minha irmã perguntou quando me aproximei da poltrona onde ela estava acomodada. 

- Apenas dando um tempo de tudo isso - falei e me sentei ao seu lado - o que eu perdi? 

- Michael Philips estava perguntando por você, novamente - Diana disse em um tom lânguido e revirou os olhos. 

- Ainda bem que eu não estava aqui, não o suporto - resmunguei. 

- Engomadinho mimado - ela o acusou e nós duas soltamos um risinho baixo. 

Quando a festa terminou, me recolhi em meu quarto, escovei os dentes, coloquei uma camisola leve e me joguei na enorme cama que ali havia. Uma batida fraca soou, quando dei permissão para que entrasse, Diana colocou o rosto cheio de cachos ruivos na porta e um sorriso iluminou sua expressão. 

- Entre - falei novamente e ela correu até mim, pulando com tudo no colchão. Sempre antes de dormirmos, minha irmã vinha até meu quarto, liamos um pedaço de alguma história juntas ou apenas brincávamos de algum jogo com papel e 23:00 em ponto ela ia para seu próprio aposento. Hoje apenas conversamos. 

- Não aguento mais papai e suas malditas regras. - reclamei enquanto penteava com os dedos os cabelos de Di, que estava deitada no meu colo. Ela virou a cabeça e arregalou os olhos quando eu blasfemei - Perdoe-me, mas isso me tira do sério. Papai ainda me vê apenas como uma garotinha, isso não é justo. 

- E o que pensa em fazer sobre isso? - ela perguntou depois de um tempo em silêncio. 

- Eu ainda não sei, mas não viverei assim para sempre - falei e joguei minha cabeça para trás, encostando na cabeceira da cama - não aguento mais caminhar todos os dias pelo jardim e quando saio pelos portões tenho que aturar dois ou mais homens me seguindo de perto. 

- Eu também passo por isso - Diana falou se endireitando e sentando-se do meu lado. 

- Sim, mas isso não te afeta tanto quanto a mim. Eu tenho meus sonhos, Di, e todos eles só serão realizados fora desses muros - suspirei e escorreguei para baixo da coberta, afundando minha cabeça nos travesseiros e um rosnado de frustração deixou minha garganta. 

- Tenho que ir, Lucy, mas pense bem no que irá fazer - minha irmã mais nova disse, beijou-me a testa carinhosamente e correu porta à fora, entrando no corredor. Me virei, arrumei o travesseiro entre minhas pernas, abracei uma almofada fofa e não demorou muito para a escuridão tomar conta dos meus sentidos.                   

ღ Perigosa AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora