Capítulo 9

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Na manhã seguinte, quando o relógio apitou às 05:40, senti que minhas pálpebras pesavam uma tonelada. Sempre fui uma dorminhoca nata e acordar cedo igualava-se com uma tortura bárbara. 

Me sentei no colchão, estiquei meus braços acima da minha cabeça e bocejei, abrindo tanto a boca que senti um pequeno deslocamento na mandíbula. Não sei quanto tempo fiquei ali sentada, meu olhar fixado em nada propriamente, então joguei minhas pernas para fora da cama e fui para o banheiro escovar os dentes. 

Enquanto isso olhei no relógio novamente e faltavam cinco minutos para as seis; arregalei os olhos como pratos e corri para cuspir a mistura branca em minha boca, enxaguei, arrumei meu cabelo firmemente e coloquei o chapéu. Eu adoraria um banho, mas o tempo estava contra mim e meu desejo teria que esperar para ser concedido.

Abri a porta e a escuridão ainda se fazia presente.

- Que bom que acordou novato, Morfeu fez uma bagunça na popa do navio e precisa ser limpo. Já! - gritou um homem com cabelos compridos, uma argola prateada no nariz e nas orelhas e dentes amarelados. 

Na verdade, ainda não tinha encontrado nenhum com aparência muito distinta, a não ser Julian; até mesmo Stefan tinha tais características, porém, ao contrário dos outros, não me causava repugnância - Ande logo - falou, acordando-me do meu transe momentâneo e seguiu seu caminho quando assenti. Não fazia ideia de quem era Morfeu, mas era irônico que tivesse o mesmo nome que o deus dos sonhos, pois para mim havia se tornado um pesadelo. Almejei que hoje fosse mais tranquilo, sem muitas coisas que eu precisasse fazer e o tal Morfeu tinha que vir e estragar tudo.

Respirei fundo e forcei meus pés um na frente do outro em direção da potencial bagunça mencionada. Não era grande coisa, apenas algum líquido espalhado pelo chão, então por que diabos não poderia ter limpado o maldito homem? Iria cair-lhe as mãos se tocasse em um rodo? Miserável.

Estava terminando de enxugar o piso úmido sem transtornos quando meus dois companheiros maus chegaram, um sorriso malicioso nos lábios. Parei e me apoiei no rodo.

- Continue, não queremos atrapalhar - o cabeludo disse enquanto passava a língua no buraco onde lhe faltava o dente. Fiz um esforço enorme para não fazer uma careta.

- Apenas sua presença já atrapalha - resmunguei e voltei ao trabalho. Bem, eu não era conhecida por manter-me calada muito tempo e o homem deve ter ouvido, pois seu rosto ficou vermelho e ele deu um passo em minha direção.

- Escute aqui seu... - o que quer que ele ia dizer ficou suspenso, pois uma voz fria e cortante soou atrás de ambos os homens.

- Deixe o garoto em paz - todos nós olhamos e eu perdi meu fôlego com a visão à minha frente.

UAU! O mais bonito dos homens estava parado na minha frente. Senti meu queixo cair, literalmente. Quem seria esse deus grego? Ele estava parado com os braços cruzados sobre o tórax, as pernas ligeiramente afastadas, seu cenho franzido e os olhos estreitos. Enquanto o silêncio pairava, tornando o ar um tanto tenso, deixei que meus olhos vagassem por ele.

 Comecei em seus curtos fios um pouco mais escuro que o dourado, suas sobrancelhas bem definidas e unidas em uma carranca, seus olhos da cor do céu em uma manhã ensolarada e então começou a surgir um calor desconhecido em todo meu corpo; agora eu estava em seus ombros largos, seus braços fortes e sua barriga lisa, suas pernas pareciam grossas e bem torneadas sob a calça enfiada nas botas.

Engoli em seco e quando olhei para meus dois visitantes indesejados, a cor havia deixado o rosto de ambos.

- Se as senhoras já acabaram com a fofoca, sugiro que voltem ao trabalho - o homem misterioso falou em um tom gélido enquanto dava alguns passos mais perto - caso contrário - agora ele estava com o rosto perto do careca - não gostarão das consequências.

Um silêncio sepulcral rondava e o oxigênio parecia ter diminuído na atmosfera.

- Vão - deu um grito que fez todos nós assustarmos e os dois homens correram dali. Não consegui segurar um sorriso enquanto observava os dois néscios correndo como se estivessem sendo seguidos pelo diabo em pessoa. Porém, as comissuras de meus lábios desabaram quando notei o par de olhos frios, de um jeito que poderia congelar um mar inteiro, fixos em mim.

- O que está olhando? Volte aos afazeres - falou e me deu as costas. Nota: o loiro era um leão em pele de cordeiro.

Terminei de limpar a água que fora derramada no chão, guardei os utensílios que havia usado e fui procurar Stefan para perguntar se tinha mais alguma coisa para fazer.Estava andando distraidamente quando dou com tudo em algo grande e duro, ergui a cabeça e encontrei um homem enorme, quase do tamanho do mastro do navio, me olhando e logo sorriu, mostrando-me seu dente de ouro.

- Olha só pessoal, se não é o novato - alguém disse e quando olhei em volta, imaginei que ali encontrava-se todos os piratas da embarcação. Engoli em seco. Ferrou.

- É, e hoje nos fez levar um rala. - olhei para encontrar o maldito careca se aproximando - Devemos dar uma lição nele.

- Calma pessoal - falei com a voz um pouco trêmula e dei alguns passos para trás enquanto vinham em cima de mim pelo menos três dos homens ali parados. 

Os outros apenas riam, mas o som ecoava tanto que me fizeram lembrar de um bando de mulatas. Bem, eu deixaria meu quarto para Diana, meu cabelo para Clô e meu chapéu para Stefan, pois eu gostava dele. Essas eram as poucas coisas que me pertenciam de verdade e esse era meu testamento mental, pois se esses caras me alcançassem era caixão e vela preta para mim.

- Vou lhe ensinar o que é ser um pirata - o senhor que eu havia trombado disse e agarrou-me pelo colarinho da camisa e o som da saliva passando pela minha garganta foi audível. 

Ele sorriu de lado, fechou a mão em um punho e jogou o braço para trás para pegar impulso, mas nesse momento um dos dois que estavam atrás dele gritou:

- Eu também quero - e pulou para nós, fomos todos para o chão. Logo o terceiro se juntou e um batia no outro, pois achei uma brecha e escapuli entre eles. Como era bom ser pequena. Me coloquei de pé e comecei a correr, olhei para trás e um estava com o outro roxo, o outro estava sendo segurado pelos cabelos e o que faltava um dente acabou de perder outro.

- Ele fugiu, peguem ele - escutei e comecei a correr. Que confusão, que confusão. Senhor das garotas desesperadas, não deixe que me peguem, estava torcendo silenciosamente e então esbarrei em alguém.

- Stefan - gritei, minha voz saindo um pouco mais estridente porém eu estava tendo todo o cuidado para mantê-la masculinizada. Até mesmo meu jeito de andar, mas no desespero eu não tinha tempo para pensar em nada.

- O que está acontecendo? - ele perguntou com uma voz autoritária quando os três homens pararam em seco perto de nós.

- A culpa é dele - falaram em um uníssono, apontando um dedo acusador em minha direção. A cabeça de Stefan baixou em minha direção e eu sorri amarelo, tentando parecer inocente. Merda.

ღ Perigosa AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora