Capítulo 76

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                                                                     LUCIANA

Enquanto adentrava a floresta que nos rodeava, fui tomada por sentimentos diversos e que tinha certeza que sentiria quando Will me encontrasse: alívio, felicidade, empolgação e sinceridade, esse último involuntariamente. Porém, ninguém me preparou para o que me atingiu repentinamente, de um modo que eu não me surpreenderia mais se uma nave espacial pousasse ali na minha frente e seres verdinhos viessem me pegar para me levar para seu planeta. Choque, batizei tal sentimento. 

Eu estava feliz apenas em estar em seus braços, mas então ele beijou o topo da minha cabeça e sussurrou as palavras que eu ansiava ouvir há muito tempo. Eu te amo. Essas três palavras curtas invadiram meu coração, mas meu cérebro parecia não conseguir processar que fosse verdade. Talvez fosse apenas coisa da minha cabeça, acarretado por algum trauma por ter ficado tantos dias presa naquela cabana à base de sanduíche frio e água. E pensando bem agora, presidiários deviam viver melhor do que eu.

Finquei meus calcanhares na terra úmida e permaneci parada, apenas olhando para aquele homem que era uma visão. Observando mais atentamente sua vestimenta, lembrou-me do primeiro dia em que eu o vi naquele navio; a camisa emoldurava seus ombros largos e mostrava um pouco de pele na base do seu pescoço, uma calça que mostrava o quanto Deus foi gentil com ele em relação a sua comissão traseira e botas de cano longo. Todo o conjunto lhe proporcionava um ar de seriedade e maleficência. 

- O que disse? - não consegui segurar as palavras, parecia que estava no modo automático. Naquele momento, talvez eu não fosse uma visão bonita, estava suja, o cabelo desgrenhado, os olhos quase saltavam das órbitas e parecia que meu queixo estava muito pesado para segura-lo no lugar. William, no entanto, estava um espetáculo. Ele se aproximou de mim e estendeu a mão para tocar o lado do meu rosto. 

- Eu te amo, Lucy - falou, calmamente. 

Ele me amava. Ele me amava. Era a única coisa que passava pela minha cabeça e a vontade era imensa de dançar, pular, dar cambalhotas, qualquer coisa para mostrar a emoção que me invadia naquele momento. Diante o meu silêncio, Will fechou os olhos e suspirou pesadamente. 

- Acho que eu a amei desde o momento em que a vi naquele baile, eu apenas fui muito fraco e não queria admitir isso. Eu não queria colocar meu coração na mesa, para depois ser cortado e servido. Depois que você foi embora definitivamente, eu me tornei um perfeito canalha, eu vivia em festas, bebia todas que eu conseguisse e dormia com qualquer mulher que se colocasse na minha frente. E tudo aquilo apenas para tira-la da minha cabeça. Eu já era assim, mas depois ficou pior. Nenhuma mulher me atraia de verdade e quando eu a vi novamente naquele zoológico, era você quem eu queria, a cada momento de cada dia. E quando descobri que você tinha tido dois filhos meus, no começo fiquei chocado e desesperado, temendo que eu não estivesse preparado para aquilo tudo que foi jogado no meu colo como uma bomba, porém, depois, aquela seria a minha chance de ter uma família com você.

Meu coração batia tão rápido e forte que eu pensei que me esmagaria ou quebraria alguma costela ali dentro. Eu não conseguia acreditar que aquilo finalmente estava acontecendo e que era comigo, eu que nunca tive sorte nem para ganhar uma rifa. E naquele momento, eu percebi que estava ganhando Will. Não poderia querer nada mais do que aquilo. 

- Eu nunca me senti assim antes, aliás, eu nunca senti nada por nenhuma mulher que não fosse minha mãe e minha irmã. Todas não passaram de transas, corpos sem rostos. 

- E por que eu? - não resisti a perguntar, minha voz falhada e meus olhos queimavam pelas lágrimas formadas. Ele sorriu de lado e beijou-me os lábios laconicamente.

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