Capítulo 14

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LUCIANA

Eu estava a ponto de roer as unhas de nervosismo quando o táxi finalmente para em frente ao salão. Joguei o dinheiro nele e agradeci rapidamente, pulei para fora do carro e a moça do salão já estava a minha espera para alisar meu cabelo, caso contrário não conseguiria fazer o penteado costumeiro. Não demorou para que eu estivesse pronta e corri de encontro ao navio. Quando entrei no táxi notei que o que havia atrasado Willian havia sido um de seus companheiros, então sabia que viriam logo depois de mim e não demoraria para chegar, então teria que ser rápida para me trocar e esconder tudo.

Tirei as sandálias, corri o máximo que consegui e apenas respirei novamente quando meus pés descalços tocaram a fria madeira da embarcação. Quando alcancei o pequeno aclive que encaminhava para dentro eu já havia tirado os brincos, o colar e a máscara. Me parabenizei pela rapidez quando já havia guardado todos os meus pertences e vestia as roupas que haviam tornado-se diárias.

- Vamos, homens, vamos - consegui ouvir gritos antes mesmo que os tripulantes aparecessem.

Me coloquei de pé, pois estava sentada em um banco observando o movimento das águas do mar, e aproximei-me da rampa onde chegaram gritando e rindo como um bando de pássaros agitados. Pelo jeito, a tarefa foi cumprida.

- Conseguimos, marujo - um homem corpulento soltou uma risada estridente e deu um tapa "camarada" no meu ombro que quase meu fez voar pela beirada do navio e de encontro ao chão. Fiz um grande esforço para sorrir. Notei que faltavam alguns homens e junto com eles... Willian. 

Fiquei olhando atentamente na direção em que vieram todos os outros e após alguns minutos ele surgiu. Tive que sufocar um suspiro ao vê-lo, um sorriso tão brilhante que poderia iluminar uma cidade inteira e seus lábios... ah, seus lábios, nunca me pareceram tão chamativos como hoje. E eu queria me materializar na sua frente, agarra-lo pela camisa e beijá-lo até tirar todo seu fôlego. Vinha calmo e despojado, com o nó da gravata um pouco mais folgado e o terno negro pendurado sobre um ombro.

- Senhor - um homem gritou, arrancando-me brutalmente dos meus devaneios - deixou cair algo.

Willian virou-se para o rapaz e, em seguida, deixou que suas vistas pousassem no rumo onde o dedo dele apontava. A curiosidade me torturou e eu tive que fazer o mesmo, um objeto pequeno brilhava na escuridão, o homem que gritou agachou-se para pegá-lo e eu senti como se uma corda estivesse no meu pescoço, sufocando-me, arrancando-me o ar pouco a pouco. Era um dos meus brincos, devo ter deixado cair com a pressa. Droga, eu realmente havia gostado daqueles brincos. E eu estava muito, muito ferrada.

- Tenho cara de que uso brincos? - Willian perguntou, arqueando uma sobrancelha.

- Não, senhor - respondeu o rapaz observando a joia - mas pareceu cair do senhor - se ele acreditasse nisso, eu estaria salva, mas as chances eram mínimas.

- Isso não poderia ser, e... - ele calou-se de repente quando eu já estava quase me despedindo de todos e andando na prancha para me tornar comida de tubarões. Continuei o observando, Willian caminhou até o brinco, segurou-o em sua mão, fixou seu olhar no mesmo por um tempo e mesmo na escuridão da noite vi que seus olhos se arregalaram como pratos.

- I-isso ficará comigo - titubeou, seu sorriso havia sumido e ele caminhava por entre os marujos com pressa, trancando-se em seu camarim.

WILLIAN

- Senhor - gritaram atrás de mim - deixou cair algo.

Olhei para trás e procurei com os olhos quem havia dito, então encontrei Vitor apontando para algo no chão, desviei a vista dele e segui seu indicador. Algo brilhava fracamente e antes que eu pudesse me aproximar e ver o que era, Vitor agachou-se e pegou, erguendo para que ficasse mais visível. Era um brinco.

- Tenho cara de que uso brincos? - perguntei, arqueando uma sobrancelha e sorrindo de lado.

- Não senhor - ele respondeu mordendo o lábio para não sorrir e ficou observando, intrigado, o brinco - mas pareceu cair do senhor - eu já tinha me virado e começado a andar.

- Isso não poderia ser, e... - disse olhando sobre o ombro, mas parei para analisar melhor a peça, caminhei até Vitor, peguei a joia da sua mão, fixei bem o olhar tentando me lembrar onde eu o havia visto. Era muito bonito e com certeza devia ter custado um bom dinheiro, onde eu poderia ter... arregalei os olhos.- I-isso ficará comigo - gaguejei, meu sorriso já havia se desvanecido e voltei-me para dentro do navio, trancando-me em meu camarim.

Era dela, indubitavelmente era dela. Mas como veio parar comigo? Estaria preso na minha roupa? Sai de repente e todos continuavam ali aos cochichos.

- Você - apontei para o garoto novo que me olhou com os olhos assustados - apareceu alguém aqui?

- N-não, senhor - falou, apenas assenti e voltei para dentro, encostando-me na porta.

Era impressão minha ou eu consegui sentir seu cheiro ali? Lembro-me de, em algum momento, aproximar-me para beijar seu pescoço e aspirar seu cheiro inebriante, uma mistura de flores e com algo peculiar dela, algo que eu não me importaria de ter impregnado em meus lençóis e fronhas. Foi então que eu vi seu brinco, ainda o peguei em minha boca e em seguida a mudei para sua face.

Suspirei e joguei meu casaco em cima da cama, foi então que o vento soprou e eu descobri de onde vinha o cheiro incrível daquela mulher. Vinha de mim. Peguei-o novamente e aspirei profundamente, joguei-me na cadeira e assim fiquei por um tempo como um terrível idiota. Eu a encontraria e ela seria minha.

LUCIANA

O despertador soou 05:40 na manhã seguinte, assim como em todos os outros dias. Tomei banho para tirar o perfume que havia passado na noite anterior, caso esse fosse o motivo de Willian ter saído da cabine me perguntando se alguém havia aparecido ali, me vesti e sai. Eu gelei até a alma quando ele apontou para mim e depois que eu respondi sua pergunta, fiquei ainda mais tensa se ele conseguisse ler em meus olhos que havia algo errado, mas soltei o ar que estava segurando quando ele apenas assentiu e entrou novamente. Não poderia correr nenhum risco.

Tudo estava correndo tranquilamente, era uma manhã trivial em mais um dia trivial. Estava na pequena cozinha do navio descascando batatas /descascando batatas, tem base? que furada; enfim, eu estava ali em um canto quando ouço a voz do capitão reunindo todos no convés do navio. A curiosidade iria me meter em uma fria algum dia, mas eu tive que me aproximar para ouvir o que iriam falar.

- Reuni vocês aqui - começou - para dizer que nossa permanência em Londres será estendida.

- Mas senhor, o capitão está nos esperando no próximo destino - o careca que me atormentava ergueu a mão e falou.

- Ele terá que esperar - Willian falou sério.

- Demoraremos um mês para chegar lá se sairmos agora, imagina... - outro intrometeu-se.

- Já disse que ficaremos e pronto. Com meu pai eu resolvo depois - bradou, já irritado.

- Então temos um dias de folga? - o careca perguntou com um sorriso preguiçoso no rosto.

- Não, tenho uma missão especial para vocês - Willian caminhou até uma caixa que havia deixado no canto quando chegou e tirou algumas câmeras fotográficas dali, em seguida distribuiu para cada um.

- Manda então, chefe - falou Stefan e Willian sorriu.

- Vocês deverão percorrer toda Londres durante os dias que ficarmos aqui, de olho principalmente nas maiores casas.

- E o que estamos procurando? - perguntou o cabeludo que faltava um dente.

- E para que as câmeras? - perguntou outro homem esquisito.

- Bem, as câmeras são para fotografar o que estou procurando e o que é - ele fez uma pausa - uma bela ruiva.

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