Capítulo 4

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- Você quase me mata de susto, Diana - disparei contra minha irmã que estava na minha frente em sua roupa de dormir. 

- Onde você vai? - ela perguntou em uma voz manhosa - você vai embora não é? 

- Eu não posso ficar aqui, Di - lhe dei um abraço terno, esfregando suas costas para confortá-la.

- Não me deixe aqui, Lucy - ela implorou, seu tom agora embargado. Afastei-a pelos ombros e olhei em seus olhos.

- Eu voltarei para buscá-la - prometi e lhe beijei a face - eu apenas seria infeliz pelo resto de minha vida. Eu não quero ficar encarcerada para sempre, eu quero aproveitar, conhecer pessoas e lugares e... - alisei seus cabelos - eu não quero que meu primeiro beijo seja dado por alguém que me enoja e se apenas a ideia de seus lábios em mim me deixa apavorada, imagina... - me calei, pois esse não era um assunto que eu deveria falar para minha irmãzinha, não agora. Mas eu não deixaria Michael Philips ou qualquer outro homem que eu não amasse tocar em meu corpo, me possuir.

- Tenha cuidado minha irmã - ela disse depois de um longo suspiro e me envolveu seus braços em torno de mim novamente. 

- Digo o mesmo. Eu te amo - sussurrei em seu ouvido. 

- Eu também te amo - ela retribuiu. Me virei e respirei fundo, em êxtase com a antecipação, quando me deparei com o enorme portão e os brutamontes parados em frente a ele.

- Diana - chamei quando ela estava fechando a porta atrás de si, ela parou e se aproximou - preciso que distraia aqueles homens para que eu possa abrir o portão. 

- O que eu irei dizer? - ela perguntou, seus olhos azuis arregalados. 

- Não sei, mas eu confio em você para realizar essa tarefa - ela pensou por um momento, assentiu com a cabeça e começou a correr pelo jardim - não se esqueça de fechar o portão atrás de mim - gritei e ela levantou o braço, seu polegar para cima em entendimento. Fechei a porta da casa e esperei, torcendo para que desse tudo certo. 

Não faço ideia do que Diana disse para convencer todos os homens ali parados a segui-la, mas funcionou. Ela corria pelo jardim, os homens a seguindo e essa foi a minha deixa. Corri, entrei em uma cabine que ficava ao lado do portão e o abri apertando um botão vermelho, escapando rapidamente antes que voltassem.

Quando eu me encontrava do lado de fora dos enormes portões, o vento soprando e insistindo em tirar o capuz da minha cabeça, uma onda prodigiosa de felicidade inundou meu corpo e alma, me fazendo abrir os braços com a sensação de liberdade. 

- Boa sorte - escutei atrás de mim e me virei para ver Diana piscar para mim com um olho e correr para a cabine. Garota esperta, de algum jeito ela conseguiu despistar os homens de papai e não demorou para o portão começar a fechar, a vasta casa do outro lado começando a sumir da minha vista. 

Escutei o baque do ligamento entre os ferros e suspirei, um sorriso surgindo em meus lábios, em seguida comecei a andar sem direção. Consegui um táxi e pedi para que ele me levasse para um hotel distante de casa. Não demorou para o carro parar, paguei e desci, entrando no estabelecimento. 

⚈⚈⚈⚈ 

Acordei o relógio marcava 08:30, pulei da cama, tomei um banho, escovei os dentes e coloquei a mesma roupa que eu estava ontem, cobrindo meu rosto com o moletom. Tomei café da manhã no hotel, paguei e segui meu caminho. Enquanto caminhava fiquei pensando por onde eu começaria, como eu faria para sair da cidade e o que eu faria para que ninguém me reconhecesse. Meu pai era conhecido por todo lugar e se eu queria conhecer pelo menos a metade do mundo eu tinha que me ajustar de uma maneira que não precisasse sempre usar um moletom. 

O fluxo de pessoas já estava terrível, homens e mulheres caminhavam apressadamente, esbarrando uns nos outros como se fossem invisíveis e eu fiquei feliz em me sentir assim. Invisível, pela primeira vez. Olhei para trás e uma vontade tremenda de dançar no meio da multidão tomou conta de mim ao notar que não havia ninguém atrás de mim, pelo menos ninguém que estivesse ali para me vigiar. Passei por inúmeras lojas, nas quais eu entrei apenas para ver as coisas, algumas incríveis que eu tive que levar comigo, outras funestas que me deixaram apavoradas. 

Passei em frente a uma loja de roupas masculinas e a lâmpada da ideia surgiu em cima da minha cabeça, brilhando como um letreiro luminoso. Sem pestanejar entrei no lugar. Tinha algumas pessoas do lado de dentro, vasculhando com as mãos as miríades roupas penduradas em cabides em um canto. Dei mais alguns passos para dentro e imitei os gestos dos outros, raspando meus dedos nas peças; havia todos os tipos de roupas, de várias formas e tamanhos, de portes sociais à fantasias.

- Posso ajudá-lo? - uma mulher apareceu ao meu lado, com cabelos castanhos lisos que chegavam até a cintura e olhos no mesmo tom. 

  - Estou olhando - falei, minha voz já era um pouco grave, rouca, então não tive muito problema para força-la a ficar como de um homem. 

- Fique à vontade - ela disse com um sorriso e eu acenei com a cabeça. 

Resolvi optar por um par de botas, três calças, blusas de mangas que não chegavam a ser camisas sociais e dois chapéus. Paguei e sai da loja com as sacolas em mãos, olhei para o espelho da vitrine e franzi o nariz. Eu adorava meus cabelos ruivos que alcançavam quase os meus quadris, mas eu teria que dar um jeito neles se quisesse que meu plano funcionasse. Chamei um táxi e pedi para que ele me levasse para o único cabeleireiro que eu confiava para colocar as mãos nos meus fios.

  

   

  





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