Capítulo 35

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Descemos e as três mulheres estavam no sofá, o silêncio permanecia exceto pelo barulho da televisão agora ligada. Não demorou muito a mãe de William disse que iria deitar-se um pouco, abraçou-me fortemente e disse que eu era bem-vinda sempre que quisesse. Sobrou apenas Nina, que estava em uma das pontas do sofá, William ao seu lado, eu posicionada adjacente à William e Ana na outra ponta, ao meu lado. Ana tagarelava incessantemente comigo e muitas vezes fazia-me rir, mas olhando de soslaio notei quando Nina passou um braço sobre os ombros do homem notável perto de mim e escorou a cabeça em seu ombro. 

Eu queria arrancar seus olhos das órbitas. Apesar de ele não sentir o mesmo por mim, eu não ia ficar fingindo para mim mesma que não gostava desse maldito infeliz. Para minha satisfação percebi também que ele mexeu o ombro e soltou-se dela, que o olhou com o nariz torcido mas ele não despregou os olhos da televisão. Porém, ela não desistiu e esticou a mão para entrelaçar os dedos com os dele. 

 - Venha, quero lhe mostrar algo - Ana levantou-se de repente e me puxou, sua palma rodeando meu pulso. Ela fechou a porta do quarto e revirou os olhos.

 - Não estava aguentando aquela melação - explicou-se - ela não poderia ser mais óbvia - comentou, sentando-se na cama e apontando para que eu fizesse o mesmo - desde que eu a conheço, ela é apaixonada por William.

- Penso que a cidade toda deve fazer o mesmo - murmurei, imitando seu gesto de revirar os olhos. Nas raras vezes em que saímos juntos, não havia uma cabeça feminina que não virava em sua direção e não haviam lábios que não tremiam quando escapava um sorriso. E apesar de tudo isso, eu ainda tive a ingenuidade de achar que ele tinha escolhido a mim.

- Sim, também penso assim, chega a ser chato quando saímos juntos e temos que parar todo minuto, por conta das mulheres que se aproximam dele. E eu realmente quis dizer isso - ela continuou - mas sempre achei Nina muito chata e fresca para meu irmão.

Preferi continuar calada, minha opinião sobre Nina não era das melhores. 

- Ana, preciso ir - anunciei, colocando-me de pé.

- Mas já? - ela fez um bico que me lembrou William. Ai merda, eu tenho que tira-lo da minha cabeça, ele era apenas meu amigo. 

- Sim, está ficando tarde e já estou aqui há muito tempo.

- Tudo bem então, mas pedirei para Will leva-la - não a contradisse pois quando olhei pela janela, o sol já havia desaparecido e o céu plúmbeo anunciava que a chuva não demoraria a surgir. Para meu alívio, William aceitou, então me despedi de Anabela com um forte abraço e ela me disse o mesmo que sua mãe, despedi de Nina apenas com um aceno e sai da casa, acompanhada. 

Eu com certeza voltaria, apesar de o clima ficar um pouco tenso, eu havia gostado de sua família. Caminhamos em silêncio, William apenas olhando para os lados, suas mãos enfiadas nos bolsos de seu jeans, enquanto eu estava distraída, observando as pessoas passarem. Eu ainda sentia a densidade do ar entre nós e eu, com certeza, não seria a primeira a puxar um assunto. Ao longe consegui ouvir uma música alta vindo de uma casa amarelada e quando me aproximei mais reconheci a letra de "Everything has changed" da Taylor Swift e comecei a cantarolar baixo, mexendo a cabeça no ritmo enquanto estava distraída olhando um menino correndo pela calçada com seu cão que eu arriscaria dizer era maior do que ele. 

Já tive um cachorro quando era criança e ocorria a mesma situação, adorava passear pelo jardim de casa em cima dele como se fosse um pônei. Ri comigo mesmo com a lembrança. Resolvi olhar para o lado e ver o que William estava fazendo, mas ele não estava ali, franzi o cenho e olhei para trás; ali estava ele, os polegares agora presos nas alças onde fica o cinto, um sorriso travesso em seus lábios e estava parado em frente a casa onde estava tocando a música que eu estava cantando agora mesmo.

ღ Perigosa AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora