Estou na delegacia, em um tipo de sala de espera, mas não tenho ideia de como vim parar aqui. Me lembro do meu vômito sujando o uniforme de Rivers e me lembro de ser colocada dentro de uma viatura e é só isso. Eu devo ter apagado no caminho pois não lembro de nada.
Rivers trouxe um cobertor para mim porque não paro de tremer, não só pelo frio, mas por essa situação.
— Quer chocolate quente? - pergunta esfregando as mãos em meus ombros, tentando me esquentar.
— Quero, por favor - forço um sorriso, sem sucesso. Estou tremendo demais para isso.
Ele força outro sorriso, melhor que o meu e se levanta. Logo depois que ele sai, April Parker se senta ao meu lado. Só aí percebo: onde está Crystal? Ela não veio comigo? Não me lembro de nada.
— É ele? - pergunto, ainda tremendo, me virando para April. — É o corpo de Charles?
Ela dá uma olhada nas unhas, fazendo um bico, sem olhar para mim.
— Não mesmo - ri de um jeito irritantemente irônico. — Minha mãe ainda quer ter certeza e ficar lá dentro sofrendo com o corpo de outra pessoa.
Rivers voltou com uma caneca de chocolate quente e sorriu, se abaixando para me entregar. April suspirou, levantou e saiu andando.
— Posso perguntar uma coisa? - raspei a garganta e olhei para o policial Rivers depois que ele se sentou.
— É claro - ele sorriu.
— Minha amiga, Crystal, ela veio comigo? Não consigo me lembrar de nada depois que vomitei em você... digo, no senhor - ri.
— Pode me chamar de você, já nos conhecemos há um bom tempo - ele piscou e riu, se apoiando na minha coxa. Isso me deixou desconfortável. — E sua amiga veio, ela está lá dentro com a senhora Parker. Ela disse que seria melhor que ela fosse reconhecer o corpo e eu concordei. E só mais uma coisinha: pode se acalmar, não é ele.
— O que? - falei baixinho.
— Aquele corpo não é de Charles, eu já sabia mas, meus colegas insistiram tanto... - ele deu de ombros e finalmente tirou a mão da minha coxa. — O que eu posso fazer?
Ele se levantou e me disse para aproveitar o chocolate.
— Espera - suspirei e ele se virou. — Sinto muito pelo seu uniforme.
— Não se preocupe, senhorita Thompson, eu tenho vários outros - respondeu e saiu sorrindo.
Rivers é muito charmoso, tem mais ou menos a idade de meu irmão, cabelos bem pretos e a pele clara, olhos castanhos que ficam mais claros no sol e eu me lembro bem deles na luz. Ezra Rivers já me ajudou bastante e foi mais do que um amigo em muitas vezes.
Um tempo mais tarde, quando eu já estava mais calma, Crystal voltou sorrindo e eu podia ver em seu rosto o quanto ela estava aliviada.
— Não é ele, Fan! - ela sorriu, levantando os ombros. — E eu notei algo entre você e o Rivers. Por acaso vocês falaram sobre...
— Não - a interrompi, seca, quase gritando. — E você também não deve falar disso, ainda mais na delegacia.
— Tudo bem, mas não se esqueça que policiais são humanos e tem relações com outros humanos, mas tudo bem, não toco mais no assunto.
— Não tivemos um relacionamento - sussurrei, perto de seu rosto. — E eu não quero causar problemas para ele. Para ninguém.
— Certo - ela assentiu e se recostou na cadeira, ficando um tempo em silêncio. — Bem, suspenderam o acampamento porque nós nem dormimos então não é justo, não é?
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Between Mysteries and Freedom (Livro 1)
Mystery / ThrillerO desaparecimento do namorado. Foi isso que levou Fannie Thompson às aventuras arriscadas ao longo de meses. Charles Parker desapreceu em uma noite fria qualquer de novembro, enquanto as folhas eram derrubadas pela brisa forte no...