Cap. 31: Feliz Halloween (Parte II: Inconsequência)

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As vezes, o necessário para mudar o próprio comportamento, é apenas um empurrão. Uma ajudinha. Uma rachadura na barreira da sanidade. Um pouco por querer agradar Leo, e um pouco para convencer a mim mesma de que tudo estava bem, resolvi esquecer que pertencia à Sociedade. Só por uma noite, só por poucas horas. Afinal, o que custaria?

Na baixa iluminação do ginásio, as múltiplas pequenas lâmpadas de decoração deixavam tudo com um aspecto arroxeado e vermelho. Muitas pessoas se movimentavam lá dentro, desfilando com suas diversas fantasias. Um palco pequeno repleto de instrumentos musicais aguardava pelas bandas dos alunos, que se preparavam atrás das cortinas cinzentas. Naquele instante, longe de tudo o que me controlava, por um breve momento, me senti livre.

Leo me arrastou direto para a mesa dos doces, que tinham formatos estranhos. Enquanto ele enchia a boca com balas de minhoca, sorri e mordi uma aranha de chocolate. O recheio de morango derreteu em minha boca, me fazendo suspirar. Aquilo sim tinha muito mais gosto do que as sopas e enlatados nojentas da Sociedade. Mastiguei como se fosse um pedaço do paraíso.

- Ale. - Leo murmurou de repente, a boca cheia - Não olha agora, mas...

Algo pulou em minhas costas. Mãos pequenas envolveram meu pescoço, enquanto me engasgava com o doce que havia comido.

- Olá!!! - Thereza gritou, saindo de cima de mim e pulando entre eu e meu amigo.

Tossi, a comida entalada na garganta, mas tentei dar um "oi" mesmo assim. Observei a fantasia da garota, que era um tanto... bom... diferente.

Das cores verde e laranja fluorescente, ela vestia uma minissaia colada à um colete marrom. Sacudiu uma varinha prateada em minha direção, quase acertando meu rosto.

- Então? O que acharam? - perguntou, piscando e fazendo pose.

Hã...

- Bem... original. - respondi, dando um sorriso amarelo.

- O que você é? Um duende saído do fim do arco-íris? - Leo perguntou, sempre sincero.

O sorriso enorme de Thereza morreu, e ela fez beicinho.

- Não!!! - respondeu, fazendo vozinha fina - eu sou uma fada!!!

- Só se for a fada das luzes de Natal. - Leo murmurou, levando uma varinhada na cabeça.

- Ei! - Thereza exclamou.

Eu, possivelmente, teria ficado olhando enquanto a fada laranja espancava o gato preto, caso outra mão não tivesse pousado em meu ombro. Com um leve susto, me virei, para ver quem era daquela vez. E meu queixo caiu.

- Oi, Al. - disse Rubi, girando em seu vestido vermelho.

Seus cabelos, antes pretos, estavam agora pintados de ruivo. Pedras vermelhas encontravam-se no final de seus olhos, fazendo com que as manchinhas vermelhas de seu olhar brilhassem ainda mais. Ela usava um vestido também vermelho, no estilo medieval, com uma saia armada e comprida, e mangas longas enfeitadas por babados.

Seriamente, achei que ela própria pudesse iluminar o salão, com toda a beleza que emanava.

- Você veio de... - começei, os olhos arregalados.

- Vim de rubi. O que achou? - sorriu, segurando a saia com sua mão pálida.

Sorri.

- Faz jus ao nome! - não pude evitar rir um pouco - está incrível, Rub!!!

Ela expandiu o sorriso, tirando a mão de meu ombro.

- Que bom que gostou. Porque eu não sou a única. - deu espaço, para que eu visse através de si.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora