Cap. 51: Assuntos Complicados

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Música maravilhosa sugerida por KatNascimento. Espero que gostem tanto quanto eu.



Quando acordei no dia seguinte, surpreendentemente sob um cobertor quentinho e a luz azulada do amanhecer, foi que o tempo voltou ao normal. Finalmente, o borrão de conforto e esquecimento havia passado, e me obrigariam a retornar para a Sociedade.

Seria tão bom parar os segundos novamente, me desligar outra vez das coisas ruins... de repente, antes que me afundasse em pensamentos tristes, uma mão quente acariciou meus cabelos.

- Buongiorno, musa. - murmurou Ônix, segurando uma xícara fumegante de café - dormiu bem?

O frio me atingiu, sem ter influência nenhuma com o inverno que se aproximava. O artista estava debruçado no encosto do sofá, com o rosto a centímetros do meu. Seu sorriso era sincero e, de algum jeito, ele conseguia ficar mais lindo a cada dia. Os cabelos brancos, lisos e penteados para trás, insistiam em escapar do lugar e cair sobre sua testa. O nariz fino e os ângulos retos ficavam encantadores com o brilho de seu sorriso, feito de dentes alinhados, caninos pontudinhos (fofos, até), e um brilho especial que atingia os olhos. Ou talvez fosse a luz da janela atrás de mim, que refletia na parte verde das íris.

- O que foi? - perguntou, arqueando uma sobrancelha - dormir até as 11 horas te deixou com raciocínio lento?

Minha posição imóvel se rompeu, assim que saltei e me sentei no sofá.

- 11 horas?! Como assim?! - começei a calçar as duas pantufas, que pedira pra Rubi pegar em meu quarto na noite anterior - como vocês podem ter me deixado dormir até essa hora?! Nós temos uma viagem!!! E os seguranças?!

- Calma, calma, li mio dramma musa. Eles e Rubi também estão dormindo como bebês. Não sei o que deu nas pessoas hoje, mas acho que sua casa é muito relaxante. - suas palavras me fizeram sorrir, mesmo não querendo - E nós podemos viajar mais tarde, com alguma desculpa. Garanto que os seguranças vão concordar, para não arranjarem problema para si mesmos.

Suspirei, aliviada. Graças à Deus, pelo menos aquilo não havia dado errado.

- Ah, além do mais, - acrescentou o artista, tomando um longo gole de café - seu pai sabe muito sobre pintura. Nós estávamos em uma divertida discussão sobre qual cor usar na parede descascada do escritório.

Sem conseguir resistir, ri. Ri de verdade, pela primeira vez em muito tempo.

- Aham. Bem divertido. - falei, tentando ajeitar os cabelos.

- Não acredita? - perguntou, fingindo choque. Isso só me fez rir ainda mais.

Observei-o tomar mais um pouco de café, enquanto me esforçava para desembaraçar os fios loiros. Naquela manhã (quase tarde, mas enfim), meu cabelo estava especialmente rebelde.

- Caramba, chega disso. - Ônix exclamou repentinamente, largando a xícara em algum lugar - seria bem mais fácil se você estivesse na frente de um espelho.

Então, levou suas mãos até meu cabelo loiro, bagunçando tudo novamente. Começei a protestar, até entender o que estava fazendo: ajeitando-o para mim. Quando isso aconteceu, todo o frio anterior substituiu-se por um calor que subia ao rosto.

- Mio Dio, sei bellissima macchiato... - murmurou, a boca quase encostada em meu rosto - deixe-me ajeitar essa bagunça...

Senti minha respiração acelerar. Era bobo, eu sei, mas nunca havia sentido nada parecido. Era como um... calor congelante, controverso porém bem real. E, quando seus dedos talentosos terminaram o trabalho, arquejei, assim que aproximou-se ainda mais e depositou um beijo em minha testa.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora