Cap. 29: Lembranças Felizes

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As vezes, mesmo muito tempo depois de um ocorrido, esquecer se torna uma tarefa excruciante e ardil. Então, se nem muito tempo depois de algo horrível, lidar com tal situação se torna fácil, o que você faria, caso tivesse visto alguém morrer há menos de um mês?

Eu não dormia direito. Não comia direito. Não conseguia respirar direito, sem pensar no escuro sólido e gélido da morte, prestes a me engolir para sempre. Eu quase não tinha frequentado a Academia, sem conseguir prestar atenção nas repreenções (preocupadas) de Leo. A única coisa que havia me impedido de ficar na cama o tempo todo, era Bianca, que me arrastava para fora dali com medo de que Datha resolvesse me matar também. Já eu, sem vontade para nada, nem medo mais sentia. Sentia apenas um ódio amargo e sôfrego daquela mulher impiedosa, que pouco tempo antes, terminara de despachar a pobre Babi para a Itália.

Suspirei, me virando para o outro lado.

De repente, ouvi batidas insistentes na porta.

- Vai embora, Bianca. Ainda não é de noite. - gritei, apertando os olhos com força.

A porta abriu, e passos rápidos ecoaram pelo assoalho.

- Não é a Bianca. Sou Rubi, prazer. - Rubi disse, sarcástica, puxando todas as minhas cobertas de uma vez - e você tem que sair daí.

Me levantei em um pulo, tentando pegar os cobertores de volta.

- Ei! Me deixa! Eu não quero ter que sair! - gritei, sentando pesadamente na cama.

- Mas você tem. Não pode ficar aqui o tempo todo, ou vai enlouquecer! - Rubi agarrou meu braço antes que eu tivesse tempo de contestar - Vem! Você sabe que dia é hoje?

Ela me arrastou para fora do quarto.

- Não. - respondi, sem encarar as bambolas curiosas que nos observavam.

- 31 de outubro! Halloween! - me puxou mais rápido - E teremos uma festa de comemoração!

×××

Ficar sentada em frente ao espelho do quarto de Rubi não era entediante. Pelo contrário, eu poderia ficar ali por 3 horas, apenas observando as inúmeras fotografias reveladas e penduradas em barbantes nas paredes. Até na janela, Rubi possuía um varal de imagens, todas de flores, como que substituindo uma floreira que deveria estar ali. Girei no banco de rodinhas em que me sentava, como uma criança encantada, e olhei mais uma vez para tudo aquilo.

O cômodo era simples, exatamente como o meu, como exceções apenas as cores excêntricas de roupas penduradas em cada canto do lugar. Sua cama era grande, cercada por um dossel de cortinas vermelhas, e ela possuía uma penteadeira da cor rosa-claro. O espelho era circulado por várias lâmpadas coloridas de neon, que no momento estavam acesas, mesmo com a luz nublada que entrava no quarto. Uma cômoda branca e extensa estava repleta de tubos de tinta para cabelo. Ali, haviam todas as cores do arco-íris e mais um pouco, me fazendo entender como ela mudava de tintura tão frequentemente. Me arrastei até um canto da parede verde-água, esticando os dedos para alcançar uma foto em particular.

Na imagem, duas crianças brincavam. Estavam sentadas em uma colina baixa, sobre a grama, e o sol da tarde batia em seus rostos. Uma delas era uma menina, ruiva e sardenta, que exibia a falta de dentes da infância. Seus dois dentes da frente haviam caído, deixando ali uma bela janelinha, que ressaltava as bochechas coradas e olhos verdes brilhantes. Dentro dos olhos verdes, porém, consegui avistar manchinhas vermelhas, como lascas de jóias, que combinavam perfeitamente com seu cabelo. A menina segurava uma boneca de porcelana, que estava impecável apesar de pertencer à uma criança de aparentes 5 anos.

Ao lado da menina, também havia um garotinho. Ele parecia um pouco mais velho, talvez com uns 7 anos, e exibia uma expressão mais séria. Dava para ver que tentava esconder um sorriso, pela forma como sua mão pequena pousava em cima da boca. Ele era pálido e, ao contrário da irmã, não possuía sardas, apenas coradas e retas maçãs do rosto. Suas bochechas estavam vermelhas de sol, e o que mais chamava a atenção eram seus cabelos, escuros como jóias. Os fios sedosos tinham o mesmo tom intenso de preto que os círculos exteriores de suas íris, mesclados com diferentes tons de verde. Foi por causa dos olhos, das cores esmeralda e ônix, que soube no mesmo momento quem eram as crianças. Rubi e Ônix, quando ainda viviam longe da Sociedade.

A ponta de meu dedo tocou a fotografia, e pude sentir o papel liso e impecável. Marcas de digitais pousavam nos cantos, como se alguém constantemente observasse a imagem.

- Estávamos fazendo um piquenique. - a voz inesperada e baixa de Rubi me assustou, fazendo com que virasse para trás - na verdade, havíamos acabado de brigar pelo bolo de chocolate. Ônix tinha perdido, e não queria admitir.

Seus lábios rúbros exibiam um sorriso sereno, e os olhos passeavam por lembranças distantes.

- É... adorável. - falei, me virando uma última vez para observar a foto.

- É. É, sim. Mamãe foi quem tirou a fotografia. Dá pra ver a saia dela, bem ali. - apontou para o canto do quadro, onde um pedaço de tecido roxo esvoaçante repousava na grama verde. O sol iluminava naturalmente o cenário, ressaltando toda a alegria da família - Ela tinha acabado de nos xingar. Muito. Mas mudava de humor rapidamente.

Rubi riu baixinho da última frase, finalmente dirigindo o olhar para mim.

- Bem, o que achou? - perguntou, mudando de assunto.

Olhei em volta.

- Do quarto? - sorri - Bem legal.

- Sabia que a maioria das fotos foi minha mãe quem tirou? Eu só continuei com a prática. - ela se aproximou de mim, sentando em um banquinho próximo - então, o que vai vestir?

Pisquei. Não havia sequer pensado nisso.

- Na verdade, não sei. Aqui nem existem fantasias.

Ela revirou os olhos, como se eu fosse uma criança boba.

- Mas a festa não vai ser aqui. Vai ser na Academia. Insistimos com Datha para que ela nos deixasse ir, com a desculpa de encobrir qualquer suspeita. Ela deixou, contanto que fôssemos depois das 10h e 30min. É quando acaba o trabalho na Sociedade, já que hoje é Halloween, e muitas pessoas passeiam pelas ruas. - escostou-se na penteadeira - então, temos que improvisar alguma coisa.

Pensei, por apenas um minuto. Internamente, já tinha certeza do que iria vestir.

- Tive uma ideia. Mas o que você vai usar? - perguntei.

Rubi riu.

- Ah, Alessa. Uma boneca jamais revela suas peças.

- Hum. - respondi, retribuindo o sorriso - Bem literal.



Oi gente!!!! Voltei!!!

Como todos já estávamos tristes com tanto sofrimento, resolvi fazer algo mais leve, para balancear as coisas. Espero que tenham gostado, apesar de ser breve.

Nesta semana, eu não poderei postar. Viajarei na quinta, e voltarei só na terça-feira. Então, peço paciência, e que não desistam de mim, porque, eu juro (spoiler) o próximo capítulo será bem legal. ;)

Bjsss, comentem (a previsão [quase certa] de postagem, é que um novo Cap saia só na sexta-feira da semana que vem. Mas veremos, não é?)!!!!





Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora