Alex e o processo de Adoção.

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Me despedi de Nicky e de Duda e segui rumo ao meu novo escritório. Ia aproveitar a manhã livre para estudar o caso de Nicole. Minha irmã estava louca pela menina, Jorge era o pai mais babão de todos e eu mesmo estava tomado de amores pela minha sobrinha. Ela era um membro da família agora e eu moveria céus e terra pra que ela continuasse com a gente. A minha irmã não suportaria se afastar da menina. Isso era visível!

Pra sorte de Jorge e Aline, o laudo do IML apontava as lesões corporais sofridas pela criança, e havia um processo em aberto, contra a Vera Nascimento, tia da menina, pôr maus tratos e agressão contra o filho mais velho. Nenhum juiz em sã consciência, daria a guarda de uma criança à uma família como aquela, sem nenhuma estrutura física e emocional para acolhê-la. A única coisa que realmente, me preocupava no processo, era o fato de Jorge ter ficha criminal, e se o caso fosse avaliado por um juiz mais conservador, talvez ele julgasse o Jorge um homem instável, mas eu bem sabia que nosso meio, era tudo muito corporativo, e o fato dele mesmo ser um juiz, filho de um deputado com certeza, contava pontos a seu favor. Talvez não fosse muito "ético" se valer dessa influência, mas era o destino de uma criança que estava em jogo, e qualquer pessoa que visse o quanto Jorge e Aline estavam apaixonados pôr aquela criança. Saberia que eles eram o melhor pra ela.

Fui buscar a ficha criminal do Jorge, pra entender o tamanho da encrenca que nós teríamos que transpor, mas para a minha surpresa não havia nada contra o Jorge, não é que o caso tenha sido arquivado, ou o Jorge tenha sido julgado inocente. O processo, simplesmente não existia. Então deduzi que o Dr. Miguel Quintino tenha mexido os pauzinhos, pra que seu filho fosse nomeado juiz sem nenhuma mancha em sua ficha.

Bom! As coisas estavam totalmente favoráveis para o casal. Até que me dei conta de que o Jorge podia estar limpo, mas a Aline não estava.

Telefonei pra Jorge e após o telefone chamar algumas vezes, ele atendeu-me.

- Bom dia, cunhado. Como vai?

- Bom dia... Vou bem, e você?

- Estou ótimo!- era a mentira convencional que eu tinha adotado ultimamente- A sua tarde está livre? Pensei em tomarmos um Shops.

- Sim... as 15 horas saio da ultima audiência de hoje... Quer que eu vá te encontrar?

-Tenho um assunto a tratar com você. Diz respeito a Nicole!

- Muito bem... me diz a hora e o local que estarei lá - Diz Jorge parecendo meio apreçado.

- Ótimo, nos encontramos as 17h na Choperia Sujinho . Liga pra casa, pra avisar a Aline que vai demorar. Já conhece a minha irmã, né?

- Claro.... E como conheço. - Rimos. - Até mais tarde então.... abraço.

Segui com a minha rotina de trabalho, tentando não pensar muito na minha vida decadente, e as 16h, finalizei minhas atividades, seguindo para o bar, onde tinha marcado com Jorge. Não sei, ao certo porque tinha marcado com ele ali. Eu não era, bem o que se pode chamar de alguém sociável, e a ideia de tentar manter um dialogo num ambiente com música alta e cheirando a álcool, me irritava. Mas, ainda assim, ali estava eu, esperando por Jorge, enquanto bebericava uma caneca de shops que poderia estar mais gelado

- Cheguei, desculpe o atraso, estava procurando um lugar para estacionar. - Jorge estendeu a mão para mim em cumprimento e se sentou logo a minha frente, já pedindo para o garçom ao longe um shopp, - Bom!... Antes de falarmos sobre a nossa pequena Nicole, me diz como você esta?

- Estou bem! - As olheiras em meu rosto e a expressão cansada com certeza diziam o contrário, mas eu não poderia andar por aí posando de coitado. - E o casamento? Você e a Aline superaram àquela fase difícil?

- Não muda de conversa Alexandre... em casa não me deu chance para conversar e a Aline não está aqui, se abra comigo? - Ele me deu um tapa no braço de leve. - Não quero ser só seu cunhado e nosso advogado.

- O que eu posso dizer. Eu me apaixonei e me casei com uma vadia, que me traiu, teve uma filha com outro homem e morreu ao lado do outro pra ficar bem claro que ela não era fiel a mim. Daí, eu achei que podia recuperar o tempo perdido e fui desprezado pela Ticiane. - Eu ri da minha decadência. - A minha vida é uma piada de mau-gosto e eu sou um legítimo decadente.

- Para com isso Alexandre, você é humano e com falhas assim como eu, e você sabe bem disso. - Jorge deu um gole na cerveja. - Talvez o que a Patrícia tinha, a Tissy não tinha... por isso se sentiu tão abalado pela Patrícia... E sejamos claros, Ticiane era muito parecida com você, não sei se esse relacionamento de vocês iria longe... talvez fosse pela passividade dos dois... - Jorge me encarou. - Consegue entender no que quero dizer?

- Eu amava a Patrícia. -  Confidenciei com pesar e Jorge me encarou parecendo surpreso- Eu não trairia a Ticiane por uma simples atração. - Eu ri, me sentindo patético. - Mas, a Patrícia não prestava e eu sabia disso. Eu sempre soube, mas ela me envolvia de um jeito que...-não consegui explicar e sequei aquela lágrima intrusa. Eu não ia chorar na frente de outro cara - Eu sei que é idiotice... Mas, eu achava que depois de casados ela ia mudar... Eu fui um idiota! - Dei um gole na cerveja. - Alias, melhor... Eu sou um idiota!

- Não... você só se apaixonou. - Jorge sorriu. - Se Aline me traísse... Mesmo brigando, não deixaria ela ir... Por que também sou um idiota e louco por sua irmã... E agora você tem uma família que se importa com você, se sentir necessidade de conversar, tem a mim e a Aline para isso, não se cale, não guarde, Alex. - Jorge me encarou. - Estou falando sério... Guardar essa dor não faz bem e você tem a Duda.


O Inquilino 3 (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora