Dois Anos Depois

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Era gostoso conversar com Renata, ela era madura e ao mesmo tempo doce e meiga, e a nossa conversa simplesmente fluía.

E o que começou como uma conversa informal, se tornou uma espécie de vício. Passamos a nos falar todo dia, Aline dizia que estava com um viço novo e Jorge insistia pra saber com quem eu estava trepando, pra ter mudado tão rápido de atitude. Mal sabia ele que era a sua irmã que tinha me feito aquele bem, mas que nós não estávamos trepando e sim conversando como bons amigos. As vezes eu pensava na nossa primeira conversa, no quanto ela foi ousada e no quanto eu a desejei, e ainda sentia um reboliço nas minhas calças a cada vez que tinha essa memória.

O tempo passou rápido entre essas conversas e eu vi Pedro, Duda e Nicole comemorarem aniversário duas vezes, vi Pedro dizer as primeiras palavras, dar os primeiros passos, nascer os primeiros dentinhos. E vi Renata se tornar mais madura e mais mulher a cada dia, meus óculos de grau que antes eram uma opção, agora eu tinha de usar sempre e meus cabelos já começavam a ficar grisalhos, o que tinha mais a ver com o fator genético do que com os meus trinta e quatro anos, já que Aline também ostentava seus fios brancos, que ela insistia em tingir e Jorge insistia em provocá-la, a chamando de velhinha.

Dois anos haviam se passado e nesse período, nós tínhamos montado a nossa farmácia, eu tinha começado a trabalhar com Miguel Quintino, e o processo de adoção da Nicole finalmente estava concluído. E eu podia dizer que estava feliz com tudo o que tinha acontecido em nossas vidas, eu não pensava mais em Ticiane ou em Patrícia, e as vezes eu tinha uns casinhos de fim de semana, mas nada sério o suficiente pra ser chamado de namoro. Eu ainda estava esperando aquela mulher que iria balançar totalmente as minhas estruturas.

- Bom dia, Dr. Alexandre... - Disse Caroline se levantando ao me ver cegar no escritório. - O Dr. Quintino está vindo para cá, quer uma reunião com o Senhor as 14horas. - Ela me acompanhou até o escritório que era de Jorge.

- Estarei lá! - Sorri pra ela.

- Hummmm... - Carol fechou a porta e se sentou. - Está com a cabeça no mundo da lua?... Não precisa ir até o escritório dele no congresso... - Ela riu. - Ele vem para cá.

- Ah claro! - Eu pensava na última conversa que eu tive com a Renata, de como ela estava indo bem no curso e também nas férias que eu iria tirar dali há um mês.

- Posso passar sua agenda? - Carol me olhou sorrindo de lado.

- Por favor, Carol!

- Muito bem... - Ela abriu a agenda. - Jorge ligou, pediu para você não esquecer de encomendar o bolo da Nicole na confeiteira perto da sua casa e disse que vai te ligar mais tarde pra te cobrar isso... - Ela me olhou. - TEM um PS:

- Prossiga...

- Que não seja das princesas e que não tenha nozes e nada que gruda no dente... E ele disse que o senhor iria rir disso! - Carol sacudiu a cabeça revirando os olhos. - Nem parece que vai completar trinta anos... continua o mesmo moleque crescido...

- Imagino que ele exija chocolate. Ele pediu bolo de chocolate no casamento.

- Ele não disse nada... Acho que é por que o bolo não é dele... - Rimos, Carol passou minha agenda, hoje ficaria praticamente no escritório recebendo clientes, eu estava a frente de tudo praticamente, e isso era bom, eu tinha uma equipe muito boa e Caroline era antiga aqui, sabia de muita coisa e me ajudou a me adaptar muito bem.

- Mais alguma coisa, Carol? Vou começar o expediente

- não senhor... - Ela se levantou e saiu, mas logo voltou com uma xicara na mão e depositou na minha mesa e saiu novamente.

Provei do café que Carol me deixou com um sorriso, estava delicioso, nem forte e nem fraco e com pouco açúcar.

As 14 horas escuto batidas na porta e o Dr. Quintino surge.

- Temos uma reunião, mas não vou poder ficar por muito tempo. - Ele estendeu a mão sobre a mesa para mim. - Gisleide tem uma consulta marcada no médico... não anda se sentindo bem.

- Deve ser apenas estresse! - Tentei tranquilizá-lo. - Mas, o que deseja de mim?

- Tenho uma reunião importante no Canadá, iria aproveitar para ver minha filha, mas com a saúde de Gisleide eu não vou, ela quer que eu fique aqui para a decisão dos exames e é justamente no dia que a reunião acontece lá... E você é o único mais capacitado e com um inglês fluente... - Ele sorriu triste. - Tenho que te pedir esse favor, Alex, eu não confio em outro a não ser você para me representar.

- Quer que eu o represente no Canadá ? - Me senti lisonjeado e animado ao mesmo tempo, mas tentei não demonstrar o tamanho da minha empolgação, se estivesse perto de Toronto podia tentar ver a Renata.

- Muito bem... - Ele sorriu mais aliviado. - Vou deixar todos os documentos separados e no sábado, no aniversário da minha neta, eu te coloco a par, e Gisleide provavelmente vai te dar uma sacola cheia de coisas para levar para a Renata...

- Vou estar próximo a Toronto, então? - Senti uma empolgação misturada a um frio na barriga.

- Praticamente em Toronto... Leve agasalho, lá é muito frio e essa época do ano está nevando. - Ele olhou para os processos sobre minha mesa. - A viagem acontece na primeira semana que vai entrar de férias, então não se preocupe com audiências neste tempo, e prometo te compensar numa semana que venha a precisar.

- Sem problemas, Dr. Quintino e agradeço por ser digno da sua confiança.

- É como um filho para mim... Jorge não pode tomar conta, restou você para fazer isso, e eu confio em você. - Ele se levantou e estendeu a mão. - Nos vemos sábado?

- Sem falta! - Concordei e apertei sua mão.

- Tenha uma boa semana! - Disse ele saindo da minha sala.


O Inquilino 3 (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora