9 - Fracasso

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Anabelle

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Anabelle

Assim que eu me recuperei do choque que suas palavras rudes me causaram, eu perguntei:

O quê? O que foi?

Estava achando que só porque você veio aqui falar comigo pessoalmente, eu iria deixar você ficar?

E-Eu só achei que...

Primeiro: você não devia estar aqui, eu não dei permissão pra você entrar. — Ele gesticulava com a mão que segurava o livro — Segundo: eu não fiz nada por você, quem fez tudo foram os meus empregados. Terceiro: eu não gostei da ideia e só te deixei ficar porque eles me garantiram que não era por muito tempo, era só até você se recuperar. E não tem nada que você me diga que possa me fazer mudar de ideia. Então, agora que você já consegue andar, e eu sei bem disso porque pra você ter vindo até aqui é porque está conseguindo se movimentar como ninguém, você já pode ir embora agora mesmo.

O-O quê? — Indaguei, perdendo todas as esperanças de conseguir convencê-lo. Ele parece já está decidido.

E por último, mas não menos importante; pare de encarar a minha máscara!

Desviei o olhar. Eu realmente estava olhando demais para ela; só vim perceber agora que ele me repreendeu.

Agora dê o fora daqui! — ele ordenou.

Mas eu não posso desistir assim, eu ainda nem tentei.

Mas, senhor, eu ainda não estou me sentindo bem e nem tenho para onde ir. Eu praticamente acabei de acordar de um coma...

Isso não é problema meu, garota! — Ele me cortou rudemente. Deu a volta no sofá enquanto continuava — Não fui eu que atirei em você. E eu ainda lhe fiz o favor de te deixar aqui até que você melhorasse. Você devia estar agradecida e satisfeita com isso. — soltou o livro em cima do sofá e veio devagar em minha direção. Eu continuei calada, incapaz de desviar os meus olhos atentos dos seus. — Não sou obrigado a ter que te abrigar aqui até você saber o que vai fazer da sua vida. Eu não te conheço, nem faço questão de conhecer. Então não pense que eu vou fazer mais um favorzinho sequer pra você.

E então parou a poucos passos de mim. Assim, nessa distância, pude ver melhor cada detalhe do seu rosto bonito e da máscara que usa. Os seus olhos verde-azulados — ou azul-esverdeados, não sei dizer — faiscavam e eu não sabia o motivo disso. O seu corpo é coberto por uma blusa branca grossa e fechada, com mangas compridas e uma calça social preta. Nos pés usa sapatos pretos brilhosos.

O seu cheiro de colônia masculina chegou às minhas narinas e eu soube que nunca senti um cheiro assim antes. Engoli secamente sentindo aquele cheiro e tendo seu corpo tão perto de mim. Ele me olhou atentamente, talvez estivesse gravando cada detalhe meu também, do mesmo jeito que eu estava fazendo com ele.

Quando eu não disse nada, — até porque não consegui depois de tudo o que ele disse — ele suspirou e colocou as mãos nos bolsos da calça, pouco antes de indagar:

Não vai dá o fora daqui? Quer que eu te arraste até o portão?

Por que tem que ser tão grosseiro?

Esse sou eu. Na verdade, estou lhe dando um ultimato. Eu quero você fora da minha propriedade e bem longe daqui o quanto antes. E pouco me importa as suas condições. Senão você irá se arrepender se continuar no meu caminho.

Por que esse ódio todo de mim? — Questionei-o. Eu já estava querendo saber disso desde o dia em que ele sugeriu que me providenciassem um caixão.

Ele riu. Mas foi um riso debochado. Amargo.

Eu não tenho ódio de você... ainda. Como eu já disse, eu nem te conheço. Só não lhe quero aqui na minha casa.

Por quê?

Ele passou a mão nos cabelos quase rentes à cabeça — o que não tirava seu charme de jeito nenhum.

Porque você... porque você não é nada minha e eu não abrigo desconhecidos ou sem-tetos aqui. A minha casa não é hospedaria.

Sem querer ofender aqueles que me salvaram, mas eles são só os seus empregados, pra o senhor, é claro, porque pra mim eles são muito mais que isso, mas de todo jeito o senhor os abriga aqui. Por que não pode fazer o mesmo por mim?

Eu conheço cada um deles como a palma da minha mão. Melhor do que eles mesmos. Não são desconhecidos pra mim, ao contrário de você. — Ele cruzou os braços.

Caraca!, ele tem resposta pra tudo e sempre na ponta da língua.

Estou ciente de que isso não vai ser fácil.

Suspirei frustrada, antes de continuar o meu intento:

Mas eu não ia ficar por muitos dias, é só enquanto...

Garota! — Ele me cortou, quase gritando. Isso chegou perto de um rosnado. — Eu já disse que não te quero aqui. Dê o fora da minha propriedade agora!

Ele está gritando!

Eu sabia que ele era chato e um mal educado com os mais velhos, mas nunca pensei que falaria nessa grosseria toda comigo.

Eu faço qualquer coisa que o senhor quiser, só me deixe ficar aqui.

Não. — Curto e ríspido.

Bufei e respirei rápido por alguns instantes. E então, gritei com ele também:

Quer saber? Não insisto mais. Agora sou eu que faço questão de dar o fora daqui e nunca mais voltar.

Ótimo! É exatamente o que eu quero.

Ai, como ele me irrita! Como consegue ser tão indiferente?

Ótimo! — rebati, mas eu não estava me sentindo confiante. Eu agora tinha ciência de que estaria ferrada sem ter onde ficar. Eu não consegui convencê-lo como pensei que faria com facilidade. O que será de mim agora? O que eu vou fazer? Antes que a vontade de chorar me atinja, eu termino — Adeus..., senhor Donovan!

Ele não respondeu e eu também não esperava. Dei meia-volta, passei apressada pela estante de livros e sai do seu escritório, sentindo-me derrotada. Ele conseguiu o que queria, assim como o Matthew. Eu não podia mais insistir, não tinha mais argumentos. Ele é tão parecido com o Matthew, mais do que eu imaginava.

Passei pelo segurança na frente da porta quase o derrubando, ele resmungou e eu me desculpei rapidamente. Continuei andando para sair daquele pequeno salão. Porém, parei quando ouvi a voz do segurança:

Espera, moça. — Virei-me para ele e o encarei. Os meus olhos estavam ardendo e não duvidava que estivessem vermelhos. — Aconteceu alguma coisa?

Não. — respondi baixinho. — Está tudo bem. E não se preocupe, porque essa é a última vez que o senhor me ver aqui. Não vou lhe causar problemas.

E então corri pelo corredor e desci por algumas escadas. Mas quando me vi em um corredor totalmente diferente dos outros que eu tinha passado, porém igualmente sombrio, não tive mais certeza se eu sabia o caminho que me levava para a cozinha.

***🎭***

🎭Josy Teotonio🎭

26/08/2018

O Homem Mascarado | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora