23 - O lado bom da Fera

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Hector

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Hector

Anabelle me encarava de um jeito diferente. Quase como se estivesse hipnotizada. Assim que parei de falar, respirei fundo e devolvi seu olhar com o máximo de intensidade que consegui. Ela rapidamente piscou os olhos e perguntou-me:

Como assim... perde um pouco da verdade? - ela olhou com pressa para o livro fechado em suas mãos e depois voltou a me encarar. — Pensei que essa história fosse 100% fictícia.

Balancei a cabeça para os lados, pensando bem se eu contava tudo a ela ou não. Eu nunca contei isso para ninguém dessa casa e apenas uma pessoa daqui já sabe, sempre soube, por me conhecer melhor do que eu mesmo; Marie.

Mas, não sei como, nem sei explicar porque, desde que vi Anabelle pela primeira vez quando estava desacordada na cama do quartinho, eu tenho uma vontade incontrolável de contar tudo sobre mim para ela. Como se ela fosse uma parte secreta de mim, extremamente confiável, a quem eu pudesse contar todas as minhas confidências, depositar toda a confiança que eu não tenho em mais ninguém. Tanto que quando ela ainda estava em coma, eu ia todas as noites até o quartinho para desabafar sobre o meu fatídico dia de telefonemas recebidos e ligações feitas. Passava o dia inteiro no meu escritório daqui da casa ao telefone, recebendo reclamações de gerentes das minhas empresas sobre alguns funcionários incompetentes que eu dei carta branca para contratarem. Já me ligaram para me aconselhar a ser mais presente nos negócios das empresas, para comparecer aos lugares e conversar com eles cara a cara. Mas eu não consigo fazer isso. Não quero. Não posso aparecer desse jeito para ninguém do mundo exterior. Só que como eles não sabem dessa minha situação, eles insistem em me chamar, insistem em me encher o saco.

Cada ligação me estressava a um ponto que era quase impossível controlar. Por isso, toda noite eu precisava ir até o quartinho de Anabelle e conversar com ela para desestressar um pouco. Ela era o meu calmante. É verdade que dessa vez as coisas são um tanto diferentes, já que ela está desperta e tem o poder de me interromper, de me julgar e de me surpreender com suas palavras. Mas ainda assim, eu não consigo resistir.

A protagonista de boa parte dos meus livros "quase góticos" é a minha irmã. A minha irmã que já se foi.

Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo ter ficado em choque. Respirou fundo uma vez e me olhou, antes de dizer:

A... - ela engoliu em seco, parecendo bem desconfortável. — A Emily? A garotinha do...

Não, não essa irmã. - Eu a interrompi, mas parei de falar também. Contar sobre coisas insignificantes da minha vida para ela tudo bem, agora contar-lhe as partes mais importantes e dolorosas dessa jornada, é de se pensar se seria mesmo uma boa ideia fazer isso.

Ah... Está falando da garota que era dona do quarto em que eu estou agora?

Franzi a testa.

O Homem Mascarado | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora