25 - Choque de realidade

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♪Converteremos em manhãs cada anoitecerJá não sinto esse vazio porque você chegouPorque você chegou

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Converteremos em manhãs cada anoitecer
Já não sinto esse vazio porque você chegou
Porque você chegou.♪

Anabelle

O meu coração estava espremido dentro do peito de tanto que doía ouvir o Hector narrando sua triste história. Ouví-lo dizer que tinha pavor e vergonha de si mesmo. Que era um monstro.

Como ele é capaz de dizer algo assim? Certo que depois de tudo o que ele passou é até compreensível que ele tenha perdido um pouco do brilho da vida. Perder toda a família desse jeito, queimar metade do rosto e ter vergonha de se mostrar para alguém, é realmente terrível. Mas eu não acho certo ele se diminuir tanto.

Sua cabeça estava abaixada, porém mesmo assim eu vi quando uma lágrima lhe escapou de um dos olhos. Sentei-me perto de suas pernas, toquei em seu queixo e levantei sua cabeça para me encarar, antes de dizer:

Hector..., você não tem do que se envergonhar... Acredite em mim. Você é lindo, eu consigo ver mesmo com essa máscara que você usa. - Fiz uma pausa e segurei em uma de suas mãos enquanto ele segurava o meu olhar sem vacilar. Seus olhos molhados, sua boca avermelhada, sua mão um pouco trêmula. — Eu vou ser sincera com você... Você errou muito em ter abandonado a sua mãe no momento que certamente ela mais precisou. Errou em ter se afastado dela, quando era óbvio que você também necessitava muito de um colo, de um abraço, de uma conversa. Mas disso você já sabe..., pelo menos está ciente de que não raciocinou na hora e acabou cometendo um grande erro. Mas você também tem que aprender a controlar mais o seu nervosismo, a sua raiva. Tentar não se estressar tanto e por qualquer coisa. Você, Hector, precisa enxergar o homem incrível que eu sei que existe por baixo dessa máscara. Você tem talentos, pode conquistar coisas. E não é por causa dessa máscara ou da cicatriz que você tem no rosto, que não pode conquistar amigos e... um amor também.

Ele suspirou bem devagar, ainda me olhando sem piscar. Muito atento.

Você acha?

Claro, sem dúvida alguma. Sem contar, Hector, que tem pessoas fora daqui que já passaram por coisas piores que você. Foi triste sim o que você me contou, mas você precisa saber que existem histórias piores e pessoas que vivem em condições muito mais difíceis que as suas. Talvez você não saiba por não ter procurado saber, mas... existem pessoas com defeitos de verdade, Hector... Pessoas sem perna, sem braço... Gente que não pode falar, que não pode ouvir e que nem pode ver, como a própria Beth. Veja só, tem um caso bem embaixo do seu teto. Você já procurou saber como ela vive? - Ele desviou o olhar para outro canto qualquer. — Existem pessoas que não tem condições de andar e pessoas que tem cicatrizes no rosto piores que a sua, que não podem nem esconder. Mas eles vivem, Hector. Eles vivem como podem. Eles saem, eles sorrem, eles fazem de tudo para ter uma vida. Por que você se esconde?

Fui forçada a calar, quando vi Hector sacudir o corpo enquanto chorava copiosamente na minha frente. Fiquei assustada de começo, até ele colocar as mãos na frente do rosto e chorar tanto a ponto de soluçar, como um bebê. Abri a boca algumas vezes sem saber o que dizer, mas então me aproximei mais dele e toquei em seus braços.

Desculpa, Hector. Desculpe, eu só queria... só queria que você soubesse um pouco do que acontece no mundo lá fora e que você não precisa achar que é o fim do mundo ou que você não pode viver só porque isso aconteceu com você. Eu não queria que você ficasse assim, me desculpe...

Não, está tudo bem... - Passou a mão pela bochecha livre, tentando enxugar as lágrimas que desciam em enxurrada. — Está tudo bem...

Mas ele não parava de chorar, como queria que eu acreditasse que está tudo bem?

Desculpe, Hector... Eu... Não fica assim.

Não se preocupe, está tudo bem... Eu entendo que você não fez isso por mal. É um choque de realidade, eu sei. Desculpe eu por estar aqui me fazendo de vítima... Estou até envergonhado agora. - Ele não parava de chorar, estava tendo uma crise.

Não, Hector..., me escuta. Calma. - Abracei-o, pois eu não sabia mais o que fazer ou dizer para fazê-lo parar de chorar. Afaguei os cabelos dele — Escuta, eu só quero que saiba que você é lindo... Você é um dos caras mais lindos que eu já conheci em minha vida. Você tem coisas, atributos que nenhum outro homem jamais terá.

Notei que ele estava parando de chorar aos poucos. Não tremia, nem soluçava mais. Afastei-me um pouco dele e passeei os meus olhos pelo seu belo rosto, metade coberta pela mesma máscara da noite passada. Seus olhos estavam fechados e molhados, mas ele foi os abrindo devagar, até finalmente fitar os meus com uma suavidade incomum. Ele levou sua mão, lentamente, até uma mecha do meu cabelo, colocando-a para detrás da minha orelha e foi a minha vez de fechar os olhos por alguns poucos segundos, ficando toda mole. Pertinho do meu rosto, ele perguntou:

Como o quê?

Meus olhos voltaram a fitar os seus profundamente, enquanto inspirei o seu cheiro gostoso e respondi:

Seus olhos... Seus olhos de duas cores... a coisa mais linda que eu já vi na vida. Uma mistura de verde com azul. Lindos. A primeira coisa que me cativou no primeiro instante em que te vi. - Olhei para os seus lábios e passei os dedos delicadamente por cima deles, os desenhando — Os seus lábios... tão bem desenhados, tão... tão... chamativos. - Ele sorriu, pois sabia tão bem quanto eu que queria ter dito outra coisa. — Seus dentes perfeitos, sua pele macia, esse arco do cupido... - Ele abriu ainda mais o sorriso e dessa vez eu retribui.

E que sorriso encantador.

Depois de alguns segundos nos encarando, ele diminuiu um pouco o sorriso e, com a voz sussurrante, me perguntou:

Você acha mesmo que eu posso conquistar um... amor, Belle?

Não... Tenho certeza.

Então me prove. - Ele disse e levantou o corpo, afastando as costas dos travesseiros empilhados atrás de si. Aproximou-se perigosamente de mim. Assustei-me com seu pedido surpresa. Tentei encontrar o ar em meus pulmões. — Prove que eu posso agradar alguém e que alguém pode se interessar por mim, mesmo com essa máscara.

Pro-Provar? Como?

Como você achar melhor.

Eu realmente me assustei e me senti encurralada com esse pedido dele, mas não posso negar que a tentação de fazer o que ele me pedia em outras palavras foi incontrolável. Aproximei-me dele devagar e ele repetiu o meu gesto. Encarei sua boca e toquei o canto da mesma com as pontas dos dedos. Nossos lábios se encostaram e o vi fechar os olhos suavemente. Senti também o canto dos meus lábios tocarem de leve em sua máscara fria. Ele roçou seus lábios quentes nos meus, como se quisesse sentí-los sem falta, o mais intenso que pudesse. Grudei mais minha boca na dele e senti quando o mesmo colocou uma mão em minha nuca, aprofundando de vez aquele beijo. E foi O beijo. Fogos de artifício explodiram dentro de mim quando experimentei o melhor beijo da minha vida.

Não sei como ele conseguia beijar tão bem e ter uma pegada tão boa depois de anos sem se relacionar com ninguém. O beijo do Rick não chega nem perto do de Hector; o desse último é mais maduro, mais gostoso, mais cuidadoso e podemos dizer que até mais... apaixonado.

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🎭Josy Teotonio 🎭

24/03/2019

O Homem Mascarado | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora