44 - O amor transforma

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Anabelle

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Anabelle

Hector pareceu ter notado a minha presença e paralisou também. Acho que eu acabei pegando ele totalmente desprevenido.

Sem máscara.

Antes de respirar, tentei falar algo:

He-Hector... eu... eu volto depois.

Ele continuou em silêncio. Mas eu vi quando ele virou a cabeça para o lado esquerdo, como se quisesse me ouvir melhor. Eu logo girei a maçaneta e abri a porta, mas antes que eu pudesse passar por ela, ele se pronunciou:

Belle...

Sim? - Virei-me para ele, mas continuei na posição para sair do quarto.

Hector respirou fundo e abaixou a cabeça. Por fim, falou:

Aquela... Aquela sua... coragem de me ver... ver como eu realmente sou, ainda está aí?

Eu engoli em seco. Fechei a porta do quarto novamente. Depois de respirar fundo, eu respondi:

Eu não preciso de coragem para isso, Hector. Eu não acho que você seja um monstro, nem nada disso. Para mim, você é lindo e continuará sendo, independente do que eu veja em você. - Vi suas costas nuas enrijecerem. - E me parece que seria bom para você se alguém finalmente te visse de verdade, para você perder o seu medo, o seu trauma. A vergonha que você tem.

Mas e se você reagir mal?

Abri um sorriso torto involuntário e dei alguns passos na direção dele, que continua de costas para mim.

Nunca saberemos o que acontecerá se você não arriscar. - Coloquei minha mão em seu ombro e apertei-o de leve. Ele estremeceu, o que me surpreendeu, mas não me fez recuar. — Se você quiser me mostrar, eu estou aqui.

Ele continuou calado por longos segundos, ainda de cabeça baixa e a máscara nova na mão abaixada. Eu apenas sentia a sua respiração nervosa, meio trêmula, enquanto ainda mantinha minha mão em seu ombro.

Até que em um certo momento, ele começou a virar o rosto devagar para o meu lado e no mesmo instante eu senti o meu corpo estremecer. Eu não tenho medo dele, confesso que estou muito ansiosa. Quero vê-lo por completo.

O seu corpo começou a dar a volta também, bem devagar. Eu percebi que Hector estava muito aflito ao fazer isso, estava tremendo levemente. Eu compreendo ele, sei que tem muito medo de eu reagir mal como gritar, sair correndo ou o olhar apavorada. Mas eu estou segura de que nada fará eu me afastar dele.

E então, Hector deu a volta com todo o seu corpo e levantou a cabeça lentamente para a minha linha de visão. E eu vi.

Vi o que ele escondia de todos por baixo daquela máscara.

Depois de anos, Hector Donovan conseguiu mostrar o seu rosto descoberto para alguém. E esse alguém sou eu. Eu o encarei estática. Vi que ele tem uma cicatriz real de queimadura na metade de sua bochecha direita; uma cicatriz que parecia bem vívida.

Mas o que eu enxerguei também, foram os mesmos olhos, o mesmo nariz, a mesma boca. Eu estava vendo o mesmo homem na minha frente. Nada mudou. Absolutamente nada. E nunca mudaria. Porque o que eu sinto por esse homem é mais forte do que uma simples atração por aparência.

Eu pisquei os olhos pela primeira vez desde que ele se desvendou, depois de infinitos segundos. E prestei ainda mais atenção em sua feição; ele está com o olhar preocupado, receoso. Com medo. Aproximei-me mais dele e, lentamente, levei minha mão de encontro ao seu rosto marcado. Primeiro toquei com as pontas dos dedos e vi ele fechar os olhos e franzir as sobrancelhas. Ele parecia emocionado.

Depois espalmei a minha mão levemente em sua bochecha, sentindo cada marca, cada pequena curva na sua pele causadas pela queimadura. Alisei cada centímetro desse lado do seu rosto e, eu não sei explicar porque, mas foi incrível sentir que ele tem essas imperfeições. Porque em sua casa, escondido por trás daquelas máscaras, ele parecia querer mostrar-se perfeito. Assim eu posso enxergar de verdade que ele é um ser humano, ele é como eu. É incrível também porque eu sei da história que o deixou assim. Eu sei que isso o faz relembrar todo santo dia do que aconteceu com a sua família e isso só me faz ter ainda mais convicção de que ele tem motivos muito fortes para agir como sempre agiu comigo e com todos. E me dar ainda mais vontade de querer cuidar dele, de querer mostrá-lo que ele pode viver sem ter medo, e muito menos medo de amar.

Em meio aos meus devaneios, ouvi Hector sussurrar:

Anabelle...

Eu olhei para os seus olhos e eles estavam fechados. Mas vi que logo se abriram e acharam os meus. E eles ainda estavam receosos.

Está tudo bem, Hector. - Falei, mansamente, e balancei minha cabeça para os lados — Nada muda.

Poucos segundos depois, uma lágrima escapou de seu olho direito, escorrendo pela sua cicatriz e passando pela minha mão. Eu logo a limpei suavemente e perguntei:

Por que está chorando?

Ele demorou alguns instantes para conseguir responder, estava muito emocionado e acabou derramando mais algumas lágrimas:

É que... a minha própria mãe me olhou com pavor por semanas... antes de conseguirmos minha primeira máscara. E sentir alguém me tocando desse jeito, sem ter medo - ele colocou sua mão por cima da minha, em sua face. - é muito, muito bom. É tão bom que me faz perder o medo também.

Escuta, Hector, - Coloquei a outra mão no seu rosto e o fiz continuar me encarando, enquanto eu falava - saiba que eu ainda estou horrorizada com o que você fez com a sua própria mãe por anos... Ela é uma senhora tão doce que eu mal consigo acreditar no que você ainda fala sobre ela. Mas... eu te entendo. Não vou te julgar mais, ok? Só quero que saiba que, independente de máscara, você continua lindo. Um homem magnífico. E quero muito que você perca esse medo e esse trauma do olhar da sua mãe. Você já tentou se mostrar para ela agora?

Não, Belle, e nem quero.

Por que não?

Porque eu tenho medo daquele olhar de novo.

Pois é disso mesmo que eu estou falando, Hector. Eu não conheço a dona Marie como você, mas tenho certeza que ela é outra mulher hoje. Não vai te ver com outros olhos senão com os de mãe protetora. Vá e mostre-se a ela.

Você acha?

Tenho certeza absoluta.

Hector assentiu.

Você é um anjo, sabia? Um anjo de verdade. Apareceu para transformar a minha vida.

Sem respondê-lo, eu levei a minha boca até à sua e beijei. Ele retribuiu com o mesmo encanto. Depois que me afastei dele, perguntei o que ele sentiu com aquele beijo. Ele prontamente me respondeu:

Eu senti o mesmo carinho de antes, meu amor. Eu acredito em você, Belle. Acredito que você ver o mesmo cara de antes em mim. E confio no seu conselho. Eu o seguirei.

Sorri abobalhada e o beijei de novo, deixando a minha mão escorregar para o seu peito nu.

***🎭***

🎭Josy Teotonio🎭

27/05/2019

O Homem Mascarado | ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora