Besides The Life - T3ddy | Lucas Olioti

Está vivo | 36

• POV Malu

Arrastei-me até a sala e logo vi minha mãe dormindo no sofá e a Ju assistindo TV baixinho.

- Bom dia, Ju - digo ao receber o olhar dela.

- Bom... Você tá um caco, Malu, não dormiu bem? - Ela se levantou, vindo até mim.

- Eu acordei de madrugada com uma sensação ruim, sei lá, uma agonia no peito, não consegui dormir novamente - disse, indo para a cozinha, e a Ju me seguiu.

- Que horror, repreende, menina - dei um riso fraco e preguiçoso, ouvindo-a, e corri meus olhos pelo pequeno apartamento.

- Onde a Rafa tá? Não dormiu aqui? - Questionei, encarando-a.

- Ela saiu quase agora, dizendo que iria pra uma clínica de beleza, sei lá, algo assim - explicou Juliana.

- Ah, tá! Tendi... Juju, por que você e a mamãe não me avisaram que viriam? E essa história de morte do Otávio, isso tá tão estranho - peguei o leite na geladeira e despejei no copo.

- Ai, Maria, é complicado, eu não avisei, porque tava sem celular; na verdade, ainda estou - ela respirou pesado, sentando-se.

- Ainda não faz sentido... Eu liguei pra vocês outro dia, mesmo antes de vocês virem. Diz a verdade, Juliana Cristina - a encarei, parando tudo que estava fazendo.

- Malu, eu to com celular, só to sem internet, e a gente quis te fazer uma surpresa - ela disse, gaguejando.

- Hum... E por que você está tão bem com a morte do seu pai? - A questionei.

- Interrogatório agora? Ele morreu faz um mês já. Eu sei, é triste, mas não sou melancólica nem sentimental, você sabe disso - disparou ela.

- Ué, mas a mamãe disse que ele morreu há uma semana; aquele monstro não morreu, né? - Ela ficou em silêncio. - Fala, Juliana.

- Meu pai tá vivo, mas ele quase morreu, ele tentou agarrar a neta da dona Branca, que estava passando uns dias na casa da vó, e minha mãe soube, xingou ele, eles brigaram... - Ela deu pausa e suspirou pesado. - Ele bateu nela, Malu, eu não estava em casa ou teria tentado impedir, e a neta da dona Branca fez um escândalo com toda razão. Os vizinhos queriam matar o meu pai, bateram tanto nele, que, se a polícia não chega... Enfim, ele tá preso agora.

Minha cabeça estava a mil e a 0 ao mesmo tempo. Enquanto eu tentava processar o fato de ele ser ainda mais monstro que eu pensava, eu lutava com a dúvida que pairava sobre mim: se eu tivesse feito um escândalo como essa menina fez, será que teria sido tudo diferente? Eu teria evitado isso tudo?

Também não conseguia entender o fato de a minha mãe esconder isso tudo de mim e, ainda por cima, mentir para mim em uma situação grave dessas... Orgulho para pedir desculpas e admitir que errou, ao ficar do lado dele, quando eu mais precisei dela? Culpa? Não sei, mas nada justifica essa mentira.

- Ju, eu sei que é seu pai, mas bem feito, isso não é nem o começo do que ele merece - disse ríspida e terminei de preparar meu lanche e me sentei para comer.

- Eu sei... Mas vamos mudar de assunto? Como você conheceu o t3ddy?

Ela me perguntou, e, logo, um sorriso se abriu em meus lábios, como sempre acontecia, ao ouvir aquele nome; contei a ela e fui trabalhar, logo depois de terminar meu café.