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Ana:

- Como?!

- Minha mãe recebeu proposta em outro Estado e não quer que eu fique sozinha aqui. Ela já procurou um corretor de imóveis, a casa foi avaliada e colocada à venda. Vou ter que pedir transferência da faculdade para tentar alguma particular em Recife.

- Luísa, você recebe pensão do seu pai, eu nem sei quanto é, mas sei que você consegue se sustentar por todo o mês e vivendo bem, porque não pode ficar na casa?

- Ela tem medo que aconteça algo. Até falei que poderia morar com as meninas, a gente rachava todas as contas, mas ela não confia. - Luísa fez cara de choro.

- Ô, Luísa... - Abracei-a ainda mais. - Não quero que vá embora! Deixe eu falar com sua mãe!

- E dizer que somos namoradas? Aí sim que ela se muda pra mais longe. - Ela respirou fundo. - Eu só quero esquecer que vamos nos afastar...

- Não vamos nos afastar, nem terminar. - Luísa deitou a cabeça em meu colo e esticou as pernas no sofá. - Vou viajar pra te ver sempre que for possível, pelo menos dois finais de semana por mês.

- Ana...

- Não podemos terminar, Luísa! Por favor! - Levantei do sofá e comecei a andar pela sala.

Não poderia deixa-la ir embora de forma alguma.

- E quando você vai?

- Sábado. - Encarei-a e neguei. - Vou ajeitar as coisas da faculdade e retorno para pegar as coisas, mas é bate e volta. Tenho apenas essa semana aqui. Minha mãe me contou de surpresa, ela também não sabia.

- Eu... - Meus olhos encheram-se de lágrimas e os fechei. - Preciso respirar.

Peguei as chaves do carro em cima da mesa e sai do apartamento. Desci no elevador, peguei o carro e fui para a casa de Raquel.

- Ana?! Porque está chorando?! - Raquel me abraçou forte e beijou meu rosto.

- A Luísa vai pra Recife... - Continuei a chorar e ela me puxou para o sofá.

Contei tudo que Luísa disse e Raquel ficou um tempo abraçada comigo.

- Vou fazer brigadeiro pra nós. - Raquel foi para a cozinha e vinte minutos depois voltou com a panela cheia de brigadeiro quente e uma garrafa de água. - Pode comer quente, foda-se a dor de barriga.

Peguei uma colherada, assoprei e comi. Mesmo que estivesse gostoso, minha vontade era zero de engolir.

- Preciso contar uma coisa, Aninha.

- Vai se mudar também?! Todo mundo vai me abandonar?! - Falei irritada.

- Claro que não! Largar meus clientes? Não posso. - Ela comeu mais do doce e me encarou. - Isso está acontecendo há um tempinho, mas... O que interessa é que eu sou como você.

- Como assim? Trouxa, abandonada, triste?

- Não, sua besta! Sou lésbica. Na verdade, sou bissexual, porque ainda gosto de pênis, porém infelizmente o pênis vem com uma coisa chamado macho. - Ela revirou os olhos e eu continuei lhe encarando.

- Quando descobriu isso?

- Há um tempo, mas não contei porque podia ser algo temporário, não sei.

- Ah, claro. "Eu beijo mulher sim, mas é na brotheragem". - Ela riu. - Mamãe sabe?

- Tá louca? E fala nem o nome, é capaz dela escutar lá do exterior! - Ela bateu três vezes na mesa de centro, que era de madeira, e eu ri. - Acho que ela infarta se souber que tem duas filhas que gosta de mulher.

Ela e euOnde histórias criam vida. Descubra agora