Carta

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"Ainda lembro como se fosse hoje. Você pegou uma mala cheia de roupas e saiu pela porta, sem dar tchau ou um beijo em seus filhos. Aquilo me doeu e eles também sentiram.

Você não me atendeu e desligou o celular, me deixou enfurecida a cada minuto que passava. Os meninos perguntaram por você e preferi não comentar, apenas falei que iríamos dormir todos juntos na mesma cama.

Dois dias passaram e você não ligou o celular, fiquei louca por notícias, você sequer falou com a sua mãe. Raquel estava louca e eu também, mas não podia demonstrar fraqueza na frente das crianças.

Não pensei em mais nada depois de enfiar o quinto copo de Whisky na boca. Sim, eu sempre odiei aquela bebida e nem sei por qual motivo tínhamos em nossa adega, mas posso ter me inspirado com filmes ou mesmo pela força do ódio e tristeza.

As crianças já estavam dormindo, então me encarei no espelho e notei meus olhos baixos. Eu estava péssima! Me enfiei debaixo do chuveiro, com a água gelada, e deixei as lágrimas caírem.

Depois de secar o cabelo e estar menos tonta, mas ainda alcoolizada, procurei seu antigo tablet pelo guarda-roupa e encontrei. Estava quase descarregando, então coloquei para carregar em uma tomada do closet e sentei no chão para procurar alguma coisa que me levasse até você.

Dois e-mails me chamaram atenção, pois eras os únicos que estavam com os símbolos de sinalização.

O primeiro era de Fernando, de algumas semanas, abri imediatamente e o mesmo informava que havia entrado com pedido de divórcio contra Tainah e que logo retornaria para o Brasil. Avisamos centenas vezes que aquilo não iria dar certo, mas além de cabeça dura, era o Fernando...

O segundo era um convite de Ciclo de Palestras de Direito do Trabalho, o tema da sua área. Era em Gramado, sul do país, e já estava rolando. Vi que tinha respondido e me recordei que você havia me falado algo, mas como sou idiota e esquecida, não lembrei.

Enfiei o tablet de volta no guarda-roupa e vesti uma calça jeans enquanto acordava as crianças. Eles resmungaram demais, mas uma hora depois consegui entrar dentro de um Uber até o aeroporto, com nada de roupa, apenas uma bolsa com todos os nossos documentos e dinheiro.

Nunca mais invento de viajar sozinha com três crianças de cinco anos.

O Ciclo de Palestras tinha recomeçado após o almoço, antes de nossa chegada, então esperei por um tempão, mas você não apareceu. Quando perguntei a um dos organizadores que horas você seria liberada, ele informou que já tinha ido, pois saiu por outra porta do auditório. Peguei as crianças que estavam cansadas e levei-as até um hotel da cidade.

Enquanto fiz o check-in, escutei uns gritinhos dos meus meninos e quando me virei, você estava no meio do saguão conversando com um homem alto e careca, parecia bem importante.

Você se virou e me viu. Nossos olhares se encontraram por alguns segundos, até que as crianças lhe agarraram.

Terminei meu check-in e me aproximei. O homem alto e careca havia ido embora com outras pessoas, mas você ficou.

E sorriu quando me viu.

Te pedi um milhão de desculpas por ser tão idiota. Quase te perdi mais uma vez.

Sabe o que é engraçado? Mesmo que a gente se ame, sempre vai haver alguma vez que quase vamos nos perder, mas sempre vamos nos reencontrar, pois nos amamos e sabemos nos resolver.

Eu sei que enrolei pra caramba, mas é só para agradecer por tudo o que me deu até hoje, do primeiro abraço ainda na Universidade quando eu era sua aluna, até o último beijo antes de ir buscar os sapatos das crianças para a festa.

Agora você está deitada ao meu lado, dormindo feito um anjo. Por mim ficaria o dia inteiro te olhando, não iria me cansar...

Tenho a certeza que amanhã estarei atrasada uns cinco minutos para descer e saírmos para a virada, você vai estar gritando por mim e reclamando da demora.

Nunca vamos saber como será o dia de amanhã ou mesmo todo o restante do novo ano, mas espero que estejamos juntas e bem.

Feliz ano novo, meu amor. Eu te amo como nunca amei ninguém.

Com muito amor,

Luísa, a sua delegada sexy e linda."

Ela e euOnde histórias criam vida. Descubra agora