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"No momento em que me descobri
Eu tive que sair
Tive que me encontrar
Todo o dia, toda a noite
Através de desertos e mares
Por todo o mundo
Eu estive vagueando."
-Make it right (BTS)

●○●

Acordei no meu horário corriqueiro, e só depois de alguns segundos, enquanto eu continuava sentada na cama olhando para o nada, foi que lembrei que hoje era sexta.

Normalmente eu já ficava irritada para ir à escola, no entanto, hoje eu estava ainda mais. Levando em conta o trabalho chato de história que eu deveria apresentar, saberia, ainda por cima, que Taehyung estaria em meu pé.

Tentei não demorar muito, me arrumei e tratei de arrumar todos os livros, que estavam espalhados em minha escrivaninha, dentro da bolsa.
Quando desci e fui para a cozinha, encontrei minha mãe, que estava desajeitadamente, com uma mão segurando o relatório, o celular na orelha e a outra mão mexendo algo no fogo.

Suspirei com um sorriso tranquilo nos lábios, ela parecia sempre tão ocupada e ativa.
Deixei minha bolsa sobre a cadeira e me aproximei dela, que virou o rosto brevemente para mim e sorriu. Tomei o seu lugar e comecei a mexer uma espécie de pasta (ou seja lá o que aquilo era, minha mãe não era muito boa na cozinha), enquanto ela largava o documento e se preparava para xingar quem estivesse do outro lado do telefone.

— Não! — Bradou irritada. — Isso não vai funcionar, Kinsoo. Já te avisei inúmeras vezes. — Acariciando a têmpora, ela concordou com a cabeça. — Está bem, depois vemos isso. — E então desligou o telefone. — Kinsoo é impossível.

Ri da sua expressão e voltei a me concentrar no que mexia. Kinsoo trabalhava com a minha há três anos e era muito cômica a relação deles, enquanto ele era todo atrapalhado, vivia atrasado e de bem com a vida, minha mãe era sempre muito metódica.

— Obrigada por me ajudar, você é melhor nisso do que eu.

— Acho que a única coisa que a senhora não é boa, é na cozinha. — Comentei a ouvindo bufar, o que arrancou um sorriso meu.

— Para isso que existem as filhas! Para cozinhar para as mães que não sabem cozinhar. — Rebateu.

Virei um pouco a cabeça apenas para olhá-la.

— Como? — Arqueei a sobrancelha de forma brincalhona.

— Nada! — Protestou com um sorriso leve, que logo foi sumindo. — Filha...

Não gostava quando ela me olhava dessa forma, ela sempre fazia isso quando queria tratar de um assunto delicado.

— Seu pai ligou durante a semana toda, achei que não ia precisar intervir  pois você sempre acaba falando com ele, mas dessa vez ele disse que você nem ao menos retornou...

Voltei a olhar fixamente para a panela, um sentimento ruim crescendo dentro do meu peito.

— Não quero falar com ele. — Declarei em um sussurro baixo. Olhei rapidamente para o relógio que ficava na parte de cima. — Acabei me atrasando um pouco, tenho que ir. Isso aqui já está pronto. — Me apresei para desligar o fogo e peguei minha mochila.

— (S/n)... — Sua voz soou suplicante, melodiosa.

— Provavelmente não irei voltar depois da escola, tenho que ir ao shopping. Beijos. — As palavras escaparam apressadas da minha boca, e eu saí mais rápido ainda de casa, sentindo o ambiente me sufocar cada vez mais.

Como ela ainda conseguia ao menos ouvir a voz dele?
Só a menção a existência dele me dava náuseas.
Ele não era meu pai, era só um homem que forneceu espermatozoides para que eu conseguisse nascer.

Um Vizinho Nada Convencional ||Kth||Onde histórias criam vida. Descubra agora