Thamyris
— E tu vai voltar a morar na favela? Naquele lugar que só te trouxe infelicidade? — Paula perguntou indignada — eu não acredito nisso Thamyris.
— Paula eu te amo você é como uma irmã pra mim, mas "aquele" — dei ênfase na palavra — lugar — respirei e fechei minha última mala — é o meu lugar, é onde a minha família mora e você mais do que ninguém sabe que aqui, nos últimos meses eu não tenho sido feliz.
— Você quem sabe — ela disse brava e saiu do quarto, eu suspirei e olhei ao redor... meu quarto, tava tomado de mala, e isso me fazia pensar que talvez fosse hora de desapegar de algumas coisas.
Meu primo Henrique chegou e me ajudou a por as malas no carro, me despedi da Paula... a bicha era cabeça dura, mas tinha um coração enorme e sabia que ela tava sentida por eu estar voltando pro morro onde eu e criei e passei por poucas e boas nessa vida.
Resumindo a história, eu era amante de um ronca ai, o Playboy e ficava com o chefe de segurança dele o Jean.
Quando o Playboy descobriu ele quase me matou de tanta porrada que me deu, eu não morri porquê de verdade não era minha hora, quando eu tive alta não podia mais voltar pro morro, e por ordens do Playboy nem ver ou falar com a minha mãe eu não podia, ele me deixou isolada... mas enfim, muitas coisas aconteceram... Playboy morreu, ai quem assumiu o morro foi o Jean, só que ele também morreu e daí vieram outros traficantes, e por fim agora a polícia que implantou uma UPP, não vou dizer que isso fez com que o tráfico acabasse porque enquanto houver procura, vai haver demanda... mas basicamente desde que o Jean morreu eu não tinha mais quem temer, eu poderia voltar pro meu lugar.
Meu coração se enchia de amor a cada beco e rua que nós passávamos, Henrique parou em frente a casa da minha mãe e buzinou.
— Ridículo — falei saindo do carro, demorou nada pro portão abrir e minha mãe sair e me abraçar forte.
— Que saudade que eu tava de você minha filha — ela falou alisando meu cabelo.
— Saudade do seu cheirinho de naftalina também mãe — falei e ela me deu um tapa no ombro me fazendo rir e apertar mais ela.
— Idiota — nos soltamos e ela me olhou de cima a baixo umas duas vezes antes de parar com o olho em cima da minha barriga, aquilo me deixou incomodada confesso. Dar a grande e inesperada notícia de que eu ia ter um filho por telefone era uma coisa bem diferente de encarar o olhar duro da minha mãe ao vivo — ta tudo bem com vocês dois? — ela perguntou e eu sorri fraco.
— Ta... ta tudo bem — falei apertando a mão dela.
— Ai Thamyris... — ela suspirou e depois sorriu, e puxou pra um novo abraço.
— As malas já tão lá no quarto — Henrique falou fechando o porta malas.
— Tu vai buscar a Rayanne agora? — minha mãe perguntou.
— Não... vou buscar quando ela me mandar mensagem — ele respondeu e nós entramos em casa, tava tudo como sempre foi... obviamente tinha umas melhorias aqui ou ali.
Mesmo fora eu sempre mandava dinheiro pra minha mãe, no tempo em que o Playboy me bancava eu fazia questão de dar do bom e melhor pra ela, e depois de tudo o que aconteceu eu não podia deixar o nível cair.
— Mas e o pai do bebê? — Rayanne perguntou enquanto dava comida pro Pedro Henrique — ele vai assumir pelo menos né?
— Vai — respondi e já enchi minha boca com comida, não queria entrar em detalhes... primeiro que apesar de gente boa a Rayanne era muito bocuda, e segundo porque minha relação com o Rodrigo... o dito cujo, é complicada demais.
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VIDA BAGUNÇADA
ChickLit[primeira versão] | +18 | concluída. Resolver os problemas do passado e do presente pra que ela tenha um pouco de paz é o desafio de Thamyris.