Thamyris
Eu juro que eu não sei de onde que eu estava tirando tanta calma e paz no coração pra aquele momento, era até engraçado de ver o Rodrigo todo nervoso, quando a enfermeira entrava no quarto pra ver como eu e a Manu estávamos ele ficava quieto no canto do quarto só observando.
— Nós vamos esperar até o final da noite, caso contrário nós vamos pra cesária, tudo bem? — meu médico perguntou depois de ver que em duas horas eu não tinha dilatado nem um centímetro direito.
— Tudo bem — respondi tentando parecer não muito frustrada.
Ele sorriu e saiu do quarto com a enfermeira, Rodrigo saiu do canto do quarto e se sentou na cadeira do lado da minha cama, segurou minha mão e beijou algumas vezes.
— Fica tranquila amor, de um jeito ou de outro vai dar certo.
Minha resposta sempre foi o parto normal quando me questionavam o que eu iria preferir, as pessoas me olhavam espantadas como se isso fosse coisa de outro mundo, mas na minha cabeça isso estava certo: Manuella iria nascer no dia que ela escolhesse.
— Quer mais um copo de gelo?
— Quero — respondi, Rodrigo se levantou e saiu do quarto.
— Você é uma tratante mocinha! — falei com a minha barriga — nós tínhamos um trato Manuella. Eu imagino que ai dentro é quentinho e gostoso, eu quero muito te ve, mas eu não quero ter que te tirar daí, faça sua parte que eu to fazendo a minha que é aguentar a dor! — Manuella deu um chute nas minhas costelas que eu fiquei sem ar, Rodrigo entrou no quarto e viu minha cara de dor.
— Outra contração? — perguntou preocupado.
— Não, só é ela se mexendo — respondi.
[...]
Depois de quase treze horas de trabalho de parto, Manuella nasceu as 23h e 16min de uma quarta-feira, cabeludinha, chorona e a coisa mais linda que eu já vi na minha vida.
— Tira uma foto da minha família aqui parceiro — Rodrigo pediu pra um dos enfermeiros.
[...]
— "Se era tempestade, todo medo, se era arrependimento eu até já me esqueci..." — acordei com o Rodrigo cantando essa música pra Manuella.
Depois que eu sai da sala de parto, Manuella mamou e depois eu apaguei, eu estava tão cansada, parecia que eu tinha sido atropelada por um trem.
— Vocês são engraçadas, quando uma dorme a outra acorda — Rodrigo falou baixo e eu sorri, ele colocou nossa baby no bercinho e se aproximou de mim — eu te amo muito viu?
— Te amo muito também — falei sorrindo — tu dormiu alguma coisa?
— Nem um minuto — respondeu — fiquei olhando vocês duas, levei Manuella pra tomar banho uma luz azul, vi ela tomar o primeiro banho, vi a primeira troca de fralda, e ainda bem que tu tava dormindo, aquilo é feio demais, parece um alien...
— Rodrigo, a gente ta falando de cocô e eu ainda nem escovei os dentes...
— Eu acho que é isso que acontece quando a gente tem filho — ele falou e me deu um beijo na testa — quer que eu chame a enfermeira pra te ajudar no banho?
— Eu agradeceria — respondi, ele assentiu e foi chamar alguém.
Enquanto isso eu fiquei olhando meu pacotinho rosa, Rodrigo voltou com a enfermeira e ela era daquelas animadas sabe? Me puxou da cama com tudo, eu estava toda inchada e dolorida, ela falou que era normal e que daqui a pouco o médico iria vir me ver.
Tomei banho, penteei o cabelo, escovei os dentes e vesti uma camisola minha. Voltei pra cama e quando eu pensei em tirar um cochilo de novo Manuella acordou o hospital todo com o choro dela, eu juro que pensei que ela tivesse com dor.
— Porque ela ta chorando assim?
— Eu não sei, sou pai de verdade só tem umas horas — respondeu — acho que ela deve ta com fome...
— Me dá ela então — pedi, ele me entregou ela e eu coloquei o peito pra fora, ainda bem que a enfermeira ainda estava no quarto e ajudou nós dois, porque senão...
— É a primeira filha de vocês? — a enfermeira perguntou.
— Sim — respondi.
— Boa sorte viu, a filha de vocês é muito linda.
— Obrigado, eu tava inspirado no dia — Rodrigo falou sorrindo brincalhão.
— Cala a boca garoto — repreendi ele.
A enfermeira saiu do quarto e ficou só nós três.
— Vai negar que aquele dia eu não tava? Não paguei caro naquele motel pra não fazer trabalho lindo.
— Seu trabalho foi tão lindo que olha só né — apontei pra Manuella que mamava como se não houvesse amanhã, Rodrigo riu — tu se arrepende? — perguntei.
— De que? — ele perguntou me olhando — de você?
— De tudo.
— Eu me arrependo de não ter ficado do seu lado na sua primeira gravidez, de não ter percebido que você tinha problemas, de não ter dado espaço pra você se abrir, me arrependo de não ter sido mais presente, mas no geral, eu to feliz — falou — eu tenho você e a nossa filha e pra mim isso ta mais que bom.
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VIDA BAGUNÇADA
Genç Kız Edebiyatı[primeira versão] | +18 | concluída. Resolver os problemas do passado e do presente pra que ela tenha um pouco de paz é o desafio de Thamyris.