Rodrigo
— Eu já falei o que eu me lembro — repeti pela milésima vez pro policial.
— Você viu que carro perseguiu vocês? — ele perguntou e eu respirei fundo pra não dar um murro na cara daquele filho da puta.
— Não teve perseguição, nós estávamos nos aproximando do sinal que tem antes da vila militar... quando eles chegaram já atirando — falei alto e sem nenhuma paciência.
— Senhor eu só estou fazendo meu trabalho — ele disse paciente. Balancei a cabeça negativamente e tirei a gase que tinham me dado pra estancar o sangue do corte da minha cabeça.
— Então eu vou repetir o que aconteceu pela última vez — disse — o Cleber e a esposa me convidaram pra almoçar na casa deles hoje, outros colegas do quartel também foram e não, eu não sei se algum deles tem algum problema com o Cleber porque eu fui transferido pra cá a pouco tempo — o policial assentiu — lá pelas dez da noite o pessoal começou a ir embora depois de uma tarde agradável, eu fui o último convidado a vir embora, e por eu ter bebido e não estar de carro Cleber decidiu melhor me deixar na vila, que é onde eu to morando.
— Certo, dai vocês pararam no sinal e esse carro apareceu e vocês...
— Não, nós estávamos nos aproximando do sinal quando o carro apareceu, o homem do carona tava com uma arma na mão e não, eu não consegui reconhecer que arma era ou quem tava atirando. Quando os tiros atingiram o vidro do porta malas o Cleber acelerou o carro e depois disso eu só lembro de quando eu acordei com o pessoal me tirando de dentro do carro capotado.
— Policial eu sinto muito, mas vou ter que leva-lo — uma enfermeira falou segurando a cadeira de rodas que eu estava sentado.
— Tudo bem enfermeira... — ele assentiu e ela me levou dali.
— Cadê o Cleber? — perguntei preocupado, já tinha alguns bons minutos que eu tinha chegado ali no hospital e nada dele aparecer ou noticia chegar.
— Ele não vai vir pra cá sargento, o caso dele é um pouco crítico — ela falou empurrando a cadeira — mas não se preocupe com ele, os familiares já foram avisados. Inclusive os seus, agora vamos cuidar de ver como você está — ela falou abrindo uma porta, me arrastou ali pra dentro.
Tiraram alguns raio-x, depois passei por um outro exame, e enquanto eles ficavam prontos, fui pra enfermaria onde me fizeram os curativos necessários.
Thamyris
— O que aconteceu Nathalia? — perguntei assim que vi ela voltando pra mesa pálida.
— Rodrigo sofreu um acidente — ela respondeu e eu fiquei sem reação — eu não entendi muito bem, minha mãe tava muito nervosa, ela falava coisa com coisa.
— O que aconteceu gente? — Raul perguntou assim que se aproximou de nós duas.
— Vão pra casa, tua mãe deve ta uma pilha de nervos — falei e Nathalia assentiu.
— É... Raul, vamos pra casa — Nathalia falou balançando a cabeça — anda, vamos — ela saiu arrastando ele que ficou sem entender nada, eu fiquei ainda uns 5min olhando pro nada, sem muita reação.
— Que merda — falei estalando a língua.
Peguei minha bolsa e fui lá pro caixa pagar a conta.
Tinha saído hoje com o Raul e com a Nathalia pra um barzinho estava até legal, lugar bonitinho, música ao vivo, mas depois dessa notícia do acidente com o Rodrigo, clima zero, melhor ir pra casa.
Paguei a conta e sai do local, pedi um Uber e fiquei esperando, ele me deixou em casa, paguei e sai do carro. Antes mesmo de abrir o portão escutei um barulho de moto, olhei pra trás e era o Jr, ele ta aqui direto no dezoito agora.
— Qual foi Thamyris — ele falou desligando a moto e em seguida se apoiou no tanque dela — viu um fantasma? — riu.
— E ai Junior — balancei a cabeça — não vi não...
— Ah sim. Sobe ai, bora dar um rolê — falou animado.
— Melhor não, amanhã é sábado, salão vai ta lotado — ele ficou me olhando por uns segundos antes de rir.
— Tu tem medo de mim? — ele perguntou e eu franzi a testa.
— Medo não — respondi — mas é que toda vez que eu me envolvi com traficante não deu certo, então melhor não.
— Então tu tem uma visão errada de mim — disse colocando a moto no descanso — e eu não gosto disso — fiquei com medo disso que ele falou? Fiquei, mas eu ia fazer o que?
— Entra ai então, bora conversar — disse abrindo o portão.
Ficamos lá na sala, papo vai, papo vem entramos no assunto Playboy.
— Tu gostava do meu irmão mesmo ou era só por causa do dinheiro? — ele perguntou.
— Eu gostava sim do Playboy, mesmo com todas as coisas que aconteciam entre nós dois, eu gostava, e nunca foi por causa de dinheiro não. Dinheiro era só consequência, eu gostava mesmo era de perturbar a mente dele, bater de frente, deixar ele fora da casinha — falei sorrindo e o Jr riu.
— Tenho que te falar que isso tu fazia muito bem, a gente não tinha contato, mas eu sempre sabia das coisas.
— Que engraçado, tu sabia e a mulher dele só descobriu depois de muito tempo.
— Acho que ela sabia a mais tempo, — Jr falou — só que como ela estava com ele por dinheiro, tu acha que ela ia se estressar com isso?
— É... — ri — novinha emocionada que fica nessa de amor e pa.
— Isso ai, — ele assentiu — se tu tivesse com ele só por dinheiro, certeza que não tinha durado.
— Talvez, Playboy era meio maluco po.
— Ele não pensava nas coisas que fazia não, maluco mermo — concordei balançando a cabeça.
— Tu sente muita falta dele? — perguntei e o Jr suspirou.
— Sabe Thamyris, eu matei o Jean, mas eu sinto que ainda não ta completo sabe? — perguntou, e eu fiquei desconfiada do rumo que aquela conversa estava tomando — não era pro meu irmão ter morrido por tua causa, se tu não tivesse entrado na vida dele, ele ainda poderia estar vivo.
— Playboy não morreu por minha causa Junior.
— Não? — riu sem humor e se levantou do sofá já sacando uma pistola da cintura — então eu vou ficar na dúvida, porque eu não vou ser mais um otário a acreditar em ti e depois tomar no cu.
Apontou a arma pra mim e atirou, eu olhei pra minha barriga e vi minha blusa sendo tomada por uma mancha vermelha, de repente eu não tinha voz, não tinha força, não tinha mais minha vida.
Não se esqueçam de votar, comentar.
Amanhã tem mais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VIDA BAGUNÇADA
Literatura Feminina[primeira versão] | +18 | concluída. Resolver os problemas do passado e do presente pra que ela tenha um pouco de paz é o desafio de Thamyris.